Janela Poética V

L. Rafael Nolli

 

 

O elefante

 

o tratador com a cabeça
a b e r t a
não pode explicar
a possível dinâmica da………………FUGA

nada sai de sua boca
senão ……………………………………………………./m i a s m   a/
moscas & frag
……………..men
……………………..tos
……………………..dos dentes……………../marfimanchados/

(sangue sobre o chão pisoteado
[a arena no triunfo do touro
……………ou do toureiro])

um milico emerge na cena
pequeno & inútil
o .38 na mão:

o primeiro disparo
põe fim a ladainha dos cães
e ascende das crianças o berreiro

 

 

 

***

 

 

 

Quebra-cabeça

 

1
Com Super Bonder ®
por de pé o esqueleto da ave:
ofício repleto de ócio –
horas sobre ossos ocos
roídos por secreta mágoa

(o ar e o uso)

Silêncio do bico desgastado pelo canto
O formol roubou o brilho das penas
Largo gesto de asas, premeditado
O olho olha a parede e não vê

Mente quem diz: parece vivo

 

2
Palavra por palavra
para por de pé o poema:
bateia roendo o leito do rio

(o anel & o piercing
– de amores extintos –
resgatados para brilharem
again and again
sobre uma luz cada vez mais fraca)

Palavra por palavra
Para por de pé o poema:
broca em busca da cárie

 

3
Nada de novo no front
as palavras de sempre
sobre nova maquiagem

como mulher de revista pornô
: punheta para photoshop

Nada de novo no front
o poeta se gabando por
descobrir terra já cartografada –

habitada por centenas
milhares de babacas

 

 

 

***

 

 

 

Poema # 2

 

Para Rafael Borges Martins

: impossível sem quebrar uns ossos
talvez alguns golpes de navalha na face
……….(como um imprudente zagueiro
……….ou um barbeiro louco)

: improvável sem queimar algumas casas
talvez algumas pessoas em praça pública
……….(como se fazia em nome de Deus
……….ou de homens alçados a)

: fora de cogitação sem pessoas
talvez algumas que não existam
………(como aquelas dos romances antigos
………ou dos sonhos razoáveis)

: impensável sem amor pela vida
talvez por uma mulher ou por um cão
………(como se vê nos bares à noite
………ou na rua aos sábados)

 

(L. Rafael Nolli nasceu em Araxá, MG, no ano de 1980. Publicou “Memórias à Beira de um Estopim” (JAR Editora, 2005) e “Elefante” (Coletivo Anfisbena, 2012)

 

 

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5 Comentários

  1. Os textos do Rafael [ditos “de engajamento” ou de “iconoclastia metacrítica”, por falta de melhor palavrão] estabelecem, com justa precisão, o amor ao cão como liame mínimo que pode nos colar à vida, quebrados outros pés, após tantas vãs tentativas de os manter.

    Excelente trabalho!

    :)

  2. Marcelo, agradeço pela leitura e o comentário!
    Um abraço!

  3. A poesia de Rafael para mim são contos. Que me prendem e me emocionam.
    Sem dúvida esse poeta será uma importantíssima referência desses nossos loucos anos.
    Parabéns.
    beijo
    rosa

  4. Rosa, agradeço muito pelas palavras! Obrigado!

  5. Aos amigos da revista só tenho a agradecer, sempre!
    Abraços!

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