Ciceroneando

Foto: Kristiane Foltran

Há o mundo sempre a nos ofertar suas complexidades. E não nos interessa reivindicar verdades universalizadas, pois a cristalização de ideias pode representar a imobilização de um tempo, de toda uma era. O que chamamos por novidade é, sobretudo, fruto de uma transformação das coisas existentes, embora haja sempre modos distintos de se comunicar algo. Alguém já disse reiteradas vezes que não há nada novo sob o sol que nos aquece e alimenta. Rejeitemos, então, as fórmulas que declaram em uníssono a visão essencialista das coisas. Somos muito mais que isso. Fazemos parte de um intercruzamento de papéis que hoje já não encontra muitas razões para justificar a demarcação de fronteiras. Mesmo as individualidades, certamente virtuosas ferramentas da criação artística, não são capazes de rechaçar a perspectiva de sermos tomados numa concepção social orgânica. Mas estaríamos falando aqui de uma espécie de utopia quando mencionamos uma organicidade a guiar nossos impulsos de coesão social? Talvez. Quem sabe a capacidade que temos de transgredir e transcender em matéria de arte possa espelhar efetivas mudanças no campo das relações humanas cotidianas. Daí, qual seria o papel da cultura no que se refere a pensar o modelo de sociedade sobre o qual nos achamos imersos? Sempre a dúvida a se fazer senhora de alguma tentativa de resposta. Quando atuamos nas trincheiras artísticas, somos também um corpo efetivamente político na medida em que as expressões construídas delineiam atitudes pautadas na exposição das identidades. Cada sujeito criador sai de seus domínios, indo ao encontro de um outro que ressignifica sua obra. Assim, é perfeitamente possível crer no (res)surgimento de uma obra a partir dessa amálgama de sujeitos. Desse modo, a espiral da vida gira e tornamos a frequentar pontos permanentes de recomeço. Nessa roda viva de aparições humanas, testemunhamos as expressões que tomam os espaços de uma nova edição da Diversos Afins. Eis que temos por aqui agora a presença marcante das imagens da fotógrafa Kristiane Foltran, a qual instaura diferenciadas perspectivas de olhar o mundo em que estamos misteriosamente mergulhados. Há peculiares recortes da existência nos contos de André Timm, Nicolau Saião e André Mellagi. Contando com uma instigante análise sobre a delicada temática do filme brasileiro “Era o Hotel Cambridge”, Guilherme Preger envereda novos percursos críticos. Numa cuidadosa seleção, vemos passar ante nossos olhos os poemas de Ingrid Morandian, Nuno Rau, Sel, Iolanda Costa e Muna Ahmad. Na pequena sabatina, a escritora Claudia Nina dialoga com Sérgio Tavares sobre importantes aspectos do universo literário. Evidenciando a peça “Tom na Fazenda”, Vivian Pizzinga empreende suas minuciosas análises. “Mecânica Aplicada”, novo livro de poemas de Nuno Rau, é tema das precisas leituras de Roberto Dutra Jr. Ao girar em nosso gramofone, “Círculo”, mais recente disco do cantor e compositor Helton Moura, apresenta o renovado momento de um artista. E assim, caras leitoras e leitores, surge o novo palco de expressões da revista, nossa 118ª Leva. Sejam bem-vindos!

Os Leveiros

 

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