Ciceroneando

 

Foto: Almir Bindilatti

 

Enquanto o mundo explode, nem tudo que nos circunda vem cravado de boas novas. Hoje, ao padecermos em meio à confusão de nossas mazelas políticas, parecemos sem rumo e, mesmo que tentemos modular vistas grossas a esse estado de coisas, ele nos acomete intensamente. A inexistência de um projeto que nos contemple enquanto nação é alarmante, principalmente por sermos, teimosamente, um país que flerta com desigualdades sociais e econômicas abissais. Não menos importante é pensarmos o modo como a cultura vem sendo tratada aqui por estas bandas de proporções continentais. É sofrível ver artistas e autores das mais variadas vertentes serem alvo de campanhas irracionalmente negativas. São movimentos de contraposição que sequer aprofundam tentativas sérias de debate e, portanto, mostram-se incapazes de fomentar argumentações razoáveis e respeitosas no território necessário das ideias. O que testemunhamos com assustadora frequência é a redução das discussões ao patamar mais raso possível, dimensão crítica que não se apoia em recursos minimamente inteligíveis. Assim, quando os antagonismos afloram, ficamos órfãos de um debate que esteja suportado pelos alicerces históricos, teóricos e também práticos que atravessam nossa sociedade em seus mais complexos matizes. Ante a tal estado de coisas, uma pergunta paira: é possível fazer arte que seja totalmente alheia aos imperativos de nosso tempo? Por certo, as opiniões a respeito de tal questionamento restarão divididas. No entanto, é salutar ver com bons olhos o engajamento de um artista com tudo aquilo que compõe o painel da sociedade na qual está inserido. Muitos desses artífices encontrarão na realidade a correspondência imediata com anseios de natureza pessoal e coletiva, os quais perpassam pautas e dilemas vivenciados num determinado contexto histórico. Desse modo, testemunho e denúncia podem ser importantes aliados de um trabalho autoral que intenta repensar as estruturas de uma dada sociedade. No caso do Brasil, material para isso é o que não falta. Ademais, não há dúvida de que seguiremos resistindo pelas trincheiras da arte. Agora, quem engrossa conosco o coro da sobrevivência pelas vias culturais são os poetas Priscila Merizzio, Denise Pereira, Tiago Rabelo, Inês Campos e Valeska Brinkmann. Numa conversa que remonta a marcas identitárias e suas invisibilidades, Sérgio Tavares entrevista a escritora Deborah Dornellas, diálogo estimulado também pelo livro de estreia da autora em questão. É Wilfredo Lessa Jr. quem nos apresenta o novo disco do duo inglês Chemical Brothers. Em sua resenha, Krishnamurti Góes dos Anjos destaca suas impressões sobre “Extemporâneo”, livro do poeta Delalves Costa. Tendo como foco o filme iraniano “3 Faces”, Guilherme Preger oferta-nos as suas atentas análises. Pelos cadernos de prosa, desfilam as narrativas de Mariza Lourenço, Luan Bonini, Samantha Abreu e Lorraine Ramos. Contemplando os percursos aqui presentes, as fotografias de Almir Bindilatti compõem vigorosamente a multiplicidade de expressões da nova edição. Eis a nossa 130ª Leva. Boas leituras!

Os Leveiros

 

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