Dedos de Prosa I

Alice Fergo

 

Foto: Mercedes Lorenzo

 

 

ALEGORIA

 

Numa gaveta, as viagens. O véu do silêncio. A hipotética presença de uma ave no mundo das coisas pares. Pensa-me e não temas a resposta. Afianço que o primeiro beijo subiu da água.

Também os olhos são vitrais. E passam informação de milhares de anos. Um rio. A fraga enorme que sustenta o céu. O rigor das coisas caladas. Há símbolos para o nosso encontro numa concha de orvalho. Ainda sabíamos tudo sem nenhum esquecimento. E dançávamos.

O sol parte do mesmo ponto. Das rosas. E arde. É desse sangue que a manhã começa. Sem desculpas. Enormíssima coisa viva que explica o princípio comum da arte. Pareceu-me ouvir da morte. Tu não estavas.

 

(A  poeta portuguesa Alice Fergo é formada em História pela Universidade Clássica de Lisboa. É autora de “As Mãos na Pedra” (1995), “Versos de Água” (2000) e “Quando junto às horas se ilumina um rio” (Labirinto, Fafe, 2009))

 

 

 

 

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