Drops da Sétima Arte

Por Larissa Mendes

O Futuro (The Future). Alemanha/Estados Unidos. 2011.

 

 “(…) – a espera é o que se faz dela”.
(J.P. Cuenca, A Última Madrugada)

“Quanto tempo será que demora um mês pra passar?”. O verso da banda carioca Biquini Cavadão parece ilustrar com precisão O Futuro, segundo longa-metragem da escritora, artista plástica, videomaker, atriz e cineasta norte-americana Miranda July. O quanto um momento de espera – seja ela qual for – e a relatividade do tempo são capazes de provocar sentimentos diversos, que beiram da impaciência à angústia? O quanto um hiato, ainda que “terceirizado”, pode desencadear a ruína de uma relação de amor? Seria a tal maldição do stand-by, a iminência do fim para a pausa do que quer que seja?

Sophie (Miranda July) e Jason (Hamish Linklater, de The New Adventures of Old Christine) estão juntos há 4 anos e dividem um pequeno apartamento em Los Angeles. Ela, professora de dança para crianças; ele, técnico de suporte em internet. Um dia eles encontram um gato de rua, que sofreu uma fratura na pata (não por acaso, o batizam de Patinha) e decidem adotá-lo. Entretanto, Patinha tem uma sobrevida de no máximo um semestre (porém, se bem cuidado poderá viver até 5 anos) e precisará ficar 1 mês no abrigo até que possa recuperar-se e ir para casa. Quando tais notícias são dadas pela veterinária, o casal entra em colapso por se dar conta da responsabilidade que estão assumindo e resolvem, assim, utilizar seus 30 dias restantes “de liberdade plena” para dar um sentido às suas vidas. Jason abandona os computadores e passa a vender árvores para a associação Tree by Tree, numa tentativa de salvar o planeta do aquecimento global, enquanto Sophie sai da academia em que trabalha para produzir vídeos de dança bizarros que possam bombar no youtube.

Ainda que muito mais experimental que seu precursor, o gracioso Eu, Você e Todos Nós (2005), é possível observar certa conexão entre os filmes. Enquanto o primeiro aborda o colorido das relações e transita entre vários personagens, o elenco enxuto de O Futuro parece prever seu desbotar. Inclusive o diálogo final de Eu, Você e Todos Nós pode ser compreendido como uma espécie de pretexto para o argumento deste último:

– O que você está fazendo?

– Passando o tempo.

Surreal e provocador, O Futuro promete dividir paladares. Repleto de elementos performáticos e fantásticos, reflete toda a excentricidade artística de Miranda July, bem como a constante melancolia e descompasso de seus personagens perante o mundo. Como se não bastasse, Patinha, ele mesmo, o gato coxo (manipulado como um fantoche, o expectador vê apenas suas patas dianteiras) ser o narrador ocasional da história (com uma voz infantil cedida pela própria diretora), relatando impressões de sua vida e de seus donos, o personagem Jason “tem poderes” de parar o tempo e tecer uma longa conversa com a lua. A velada “crise dos 30”, a ansiedade demandada por uma espera, o papel da internet na sociedade moderna e a própria superficialidade do ser humano são questões que permeiam o filme, num misto criativo de estranheza, vazio e solidão. Tragados pelo presente enquanto aguardamos o emprego ideal, o amor eterno ou mesmo o gato ficar curado –, vivemos em suspenso para um futuro que eventualmente nem existirá.

 
(Larissa Mendes é catarina de berço, turismóloga por opção e cinéfila convicta)

 

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