Gramofone

 

Por Larissa Mendes

 

O TERNO – 66

 

 

“(…) E hoje faz sucesso quem faz plágio diferente”.
(O Terno, 66) 

 

Terno: grupo de três coisas ou pessoas; vestimenta clássica composta por três peças (paletó, colete e calça); sentimento de doçura ou suavidade. Seja qual for a vertente interpretativa adotada, ela dará pistas sobre as singularidades desta banda paulista formada por Martim Bernardes (voz e guitarra), Guilherme Peixe (baixo) e Victor Chaves (bateria). Fundada em 2006 pelos então colegas de colégio Tim e Peixe (Chaves completou o trio em 2009), 66 é o primeiro registro de estúdio da banda. Com um rock de roupagem retrô, letras inteligentes e bem humoradas, o videoclipe de seu single possui mais de 60 mil visualizações no youtube e a banda foi indicada ao prêmio Aposta VMB 2012, da MTV. Influenciados por Mutantes, Caetano Veloso, Beatles e The Kinks e apadrinhados pelo músico – e pai do vocalista Tim Bernardes – Maurício Pereira (Os Mulheres Negras, duo com André Abujamra), O Terno contou ainda com a presença ilustre do cantor Marcelo Jeneci tocando órgão hammond no álbum.

Como nos antigos vinis, as 10 faixas são divididas em lados A e B. Enquanto o primeiro lado é totalmente autoral, com composições de Tim, o segundo é formado por releituras de canções de Maurício Pereira. O single 66 abre o disco e dá o tom das inevitáveis comparações que qualquer banda nova sofre: ‘Me diz, meu Deus, o que é que eu vou cantar/Se até cantar sobre ‘me diz meu Deus o que é que eu vou cantar’/Já foi cantado por alguém/E além do mais, tudo o que é novo hoje em dia falam mal’. A melancólica Morto tem uma pegada blues, enquanto a divertida (e sádica) Zé, Assassino Compulsivo conta a história de um serial-killer deveras passional. Completam o lado A, Eu Não Preciso de Ninguém e Enterrei Vivo, talvez as mais expressivas canções do álbum. No lado B, pai e filho dividem os vocais e Pereira assume o saxofone. A inspiradíssima Quem é Quem (‘quem é quem pra dizer quem é o quê’) parece advertir os novatos contra eventuais rótulos. A graciosa (e quase sertaneja) Modão de Pinheiros faz um passeio pelas ruas do bairro da zona oeste paulistana e adjacências, enquanto Purquá Mecê, do disco Música e Ciência, d’ Os Mulheres Negras, de 1988, fala de pássaros e ganha arranjos mais melódicos que o original. Se Compromisso carrega nas guitarras para embalar a poesia de ‘um beijo terno/um abraço gravata’ de Pereira, Tudo Por Ti encerra o álbum em ritmo de ska.

Por razões óbvias, é natural a [boa] influência que Maurício Pereira exerça sob Tim Bernardes e O Terno, visto que a parceria entre compositor e banda data de 2009, quando os músicos foram convidados para elaborar novas versões para o padrinho, culminando no show O Terno & Mauricio Pereira. Além disso, sob o codinome “Pereirinha & Pereirão”, Maurício pai e Martim filho também tocam ao lado de convidados como Wander Wildner, Theo Werneck e do próprio Abujamra. Talvez Maurício Pereira tenha até seu terço de parcela no bom resultado final do cd, mas nada que comprometa os méritos musicais desses rapazes de 20 e poucos anos que, com letras elaboradamente irônicas, fazem um rock nostálgico, meso sessentista, meso anos 2000 e trazem um tom sépio às coloridas (porém, desbotadas) sonoridades atuais. Bem estruturado e com a classe que o modelito impõe, O Terno está devidamente repaginado e tem tudo para ser tendência na(s) próxima(s) temporada(s).

 

* 66 pode ser ouvido, na íntegra, aqui

 

(Larissa Mendes não usa tailleur nem black-tie, mas aprecia música de alta-costura)

 

 

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