Janela Poética I

Joelma Bittencourt

 

Foto: Silvio Crisóstomo

 

 

Sobrevoo em mar íntimo

 

Tem dia que só acontece
na concha das mãos

trilha escondida
labirinto sem mito
passagem secreta para mundo
onde a voz tem som de mar
límpido
sem ondas
sem sal
sem naufrágios

e o olhar é gaivota
à espreita da hora certa
de mergulhar.

 

 

***

 

 

latrodectus

 

sei o que tens
em tua íris
palavra
de instinto aracnídeo

tece
prende
mata
devora

digere o bardo
com tua libido

 

 

***

 

 

guizos e mordaças

 

laços dão-se
nós e pesam
no estômago

a profilaxia
atordoa
o bom senso

a ebriedade
não brinca
de bacante

reza o mito
desconsagrado
e impuro

: o amor
finge-se fingir

 

 

***

 

 

matéria

 

a mesma carne
que ama
é vil
quando rejeitada

líquor
: o outro nome
da alma?

 

 

***

 

 

lírica explosiva

 

o hipotálamo
rende-se
ao olor
da úmida
flor
que lhe acena
entre coxas

e erotizado
fode com
meu juízo

 

 

(Joelma Bittencourt é paraense. Formada em Letras pela Universidade Federal do Pará. Dedica-se ao ensino de Linguagem. Sua relação apaixonada com a poesia dá-se pela necessidade de exteriorizar sensações e imagens que lhe acometem. Além de assinar os textos com o próprio nome, utiliza o pseudônimo Acqua, quando aborda temáticas mais densas. Publica seus poemas nos blogues pessoais Transfigurações e Negrume, e nos sites coletivos Poesia: Falsidade Ideológica, Dardo, Poetas Vivos)

 

 

 

 

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8 Comentários

  1. É isso, Joelma, as imagens e as sensações que emanam de cada poema nos absorvem de tal maneira que ficamos em círculo relendo-os como se fosse um único poema, ainda que diferentes entre si. Gostei da pujança dos seus versos, dessa capacidade extrema de síntese. Fiquei com “olhar de gaivota/ à espreita da hora certa” para penetrar cada escolha semântica até descobrir-lhe o(s) sentido(s).
    Abraços,

  2. José Carlos,

    antes de tudo escrever é ser.. e ser é compartilhar!!

    Grata pela leitura… a lira fica honrada em passear por íris como as tuas!

    abraço feliz!

  3. Agradeço à Revista (à Leila) pelo espaço dado à lira… O Transfigurações fica à disposição e à espera de olhares que, antes de tudo, fazem-se companhia!

    Muito grata, mesmo!!

    Abraços!

  4. Joelma,

    Belos textos, amiga.

    Aranhas, cobras e lagartos
    passeiam a superfície
    líquida.

    Acqua.

    Sobrevoo às vezes
    é mergulho.

    Um beijo.

  5. Grata pelo olhar de gaivota, Marcelo!!

    A lira aguarda placidamente o mergulho!

    Beijo, poeta amigo!

  6. Parabéns, Joelma! Sinestetsia e belas imagens de puro lirismo.

  7. Fico contente que tenhas sentido os versos, Léa!! A lira se envaidece para o bem!!

    Beijo!

  8. Joelma e Acqua!… Maravilha, bela seleção, a poeta arrasa!

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