Janela Poética I

Desenho: Felipe Stefani

CÍRCULO DE SANGUE

Edson Bueno de Camargo

 

carrego a sede
de desertos
e a certeza perene
da repetição do verso
costurada
nos dentes

sou dos homens
que trazem
um círculo de sangue
na parte superior
da mão

e as palmas limpas
como areia de aluvião
das que repousam
o fundo das torrentes
depois de secas
as chuvas

 

 

***

 

LILITH

 

entre a escolha
entre a mulher virtuosa
e a que caminha sinuosa

embora cindido
eu prefiro a que tenha asas

que me beije como um anjo
e escolha a posição que quiser

 

 

(Edson Bueno de Camargo foi operário da indústria, dentro de uma realidade suburbana. Muitos de seus primeiros poemas foram escritos no “chão da fábrica” com cheiro de máquinas. Escreve desde muito jovem, sempre muito prolixo. Na maturidade, passou a ter uma relação com a poesia que vai para além da literatura, a poesia é sua experimentação do sagrado. Escrever poesia é seu tempo do sonho)

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3 Comentários

  1. a poesia produz essas chagas, um círculo de sangue, que também é um ciclo de vida ao tempo do sonho. o verso se repete, porque circula como linfa, e tem esse poder de vida e morte. e é mais que simbólico. belos poemas. realmente delicados. mas tangem a vitalidade. eu falei corporalmente, mas há um diálogo belíssimo com as paisagens, também pela mitologia. como se Lilith dissesse: “secas as chuvas”.

  2. os marcados, lá no fundo da vida, vêem além dela, da vida. prazer de andar por esses versos. abraços!

  3. Sua poesia faz mesmo sonhar.Homens que preferem mulheres com asas.Linda poesia!

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