Janela Poética I

leonardo MAthias

 

Foto: Bruno Kepper

manchas mínimas

reter, da travessia instável
sob retinas degeneradas de outro
agora
aquilo qual aflige
e deforma o que some
ignóbil, extirpar o medo
dos braços; estocada
– à frente –
abrir bem os olhos, horizontalmente
fixar o osso na pálida
pele,
dentro do som das sacolas, seus cortes secos,
manchas mínimas desfolham
sob um falso oco, o susto
– o cloro da manhã volta,
cerze tons, todos
os sabores quais não mais
se sente –
leveza esquecer
sobre a branca pelagem das horas, àquilo;
respirar
fundo, tudo o que pouco importa

 

 

***

MASSAS: recline

você fuma
você vai até a esquina
e carrega cigarros entre os dedos:

você tem sono mas
queima:

você vai aos poucos perdendo as qualidades

e em gesto resulta o peso
e o fogo adensa o vago

do que se ocupa em corroer
o que te escapa:

e você reclina

– não se sabe mais
onde encaixam-se
essas massas de coisas
que você vê –

e você perde
se cerca de um ecossistema construído aos poucos
e você parte
e ele permanece sem você:

ele pára em você
ele te arranca

 

 

***

 

 

dentro das gretas
dos sonhos,
presas debaixo
do espelho dos olhos,
as coisas,
ensejam seus ritmos secretos,
descobertos,
num impassível
talvez.

 

 

***

 

 

adaptar é romper:
abre-se a porta.
enfrenta-se a fina brisa.
é esboçada uma coisa ou outra.
a dúvida não aumenta nem diminui, segue num esgar a esmo.
desce-se a rua, odiando os outros transeuntes.
senta-se, vê-se um filme.
o homem é ritmo, vertigem de si mesmo.

como soubesse exatamente do que precisa, repete: “para a eternidade a estática”; continua a caminhar.

 

 

***

 

 

nivelamento:
ainda insiste em restaurar seu ânimo,
talvez isso o canse tanto.

apenas um imã estranho mantém tudo aquilo. delicadamente.
sentado, lendo não-sei-o-quês, teme a pressa dos outros, pela periferia dos olhos.

por vezes já considerou a caminhada, prefere não colidir, destroncar vetores: percebe, de relance, a momentânea mudança na composição de cores.

(leonardo MAthias (São Paulo, SP, 1987) atua em literatura, artes visuais e design. No setor editorial, mantém parceria com a Editora Patuá, pela qual ilustrou e assinou projetos gráficos de mais de cem títulos. Publicou seu livro de poemas “de pé”, em 2011, pela Editora Patuá. Colaborou para veículos como os jornais Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo. Em 2012, realizou sua exposição individual “As Janelas de Rilke”, premiada pelo ProAC Artes Visauis (Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo). Atualmente desenvolve projetos direcionados à pesquisa relacional entre literatura e artes visuais)

 

 

 

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