Janela Poética I

Cândido Rolim

 

milton-boeira

Foto: Milton Boeira

 

FIBRA

 

Arranca do corpo a
camisa listrada levemente
defumada de suor e salga
Nas ranhuras da pedra
água e detritos de um
sabão de cor azul –
tempo inestimável
Até prender-se à grade
da janela deixando que
a gravidade e o vento
refaçam esse afinco: arrancar
fio por
fio
a memória dura de esvair-se

 

 

***

 

 

ESTE CAMINHO

 

este caminho
ninguém sabe onde
começa só
nós – suspensos – entre
um pressentimento e
outro

 

 
***

 

 

Desculpe, but

 

Desculpe, mas pertenço a um mundo desvirtuado
Também não me sinto moralmente apto a
tirar da experiência um lema
Desculpe, mas minha formação musical é promíscua
Desculpe, infelizmente essa metáfora não me atinge
Obrigado, mas não vivo de ênfase
Desculpe, não planejo dizimar a ideia contrária
Desculpe, mas não concluí a tarefa com êxito

 

 
***

 

 

A RAZÃO PERIFÉRICA

 

Esses só
vistos quando e
onde in
visíveis

Esses ausentes
estofos da
razão que os
alveja

Esses que
por motivos bem
diferentes
nascem

 

 

***

 

 

FICHÁRIO

 

Aquela vida que não
serve de presente nem traz uma
lição ou clareza de propósito.
Sem um proceder moralmente aproveitável lições
virtudes adquiridas.
Aquela vida sem fato
digno de nota.
Aquela
vida.

 

 

***

 

 

Essa leveza

 
Tipo peso se
ausenta
da cama
e………….. é
percebida: o corpo desloca
a transparência

 

Cândido Rolim nasceu na região do Cariri, sul do Ceará. Morou em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Atualmente trabalha em Fortaleza. Tem poemas, resenhas e ensaios publicados na internet, em revistas e jornais (clareiranaselva, cronópios, germinaliteratura, corsário, sibila, jornaldepoesia, Continente Sul, etc). Publicou os livros “Arauto” (Edições Dubolso, Sabará/MG, 1988), “Exemplos Alados” (Letra e Música, Fortaleza/CE, 1997) e “Pedra Habitada” (AGE, Porto Alegre, 2002), “Camisa qual” (Èblis, Porto Alegre, 2010). E-mail: candidorolim@hotmail.com

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2 Comentários

  1. muito bons os poemas! gostei especialmente de Este caminho. só posso dizer: vida longa ao poeta!!!

  2. Gostei do primeiro poema:FIBRA. A cadência que ele imprime e o título muito bem escolhido.

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