Janela Poética I

Dheyne de Souza

 

 

Foto: Catharina Suleiman

 

 

eu quero des-cobrir a tua alma fóssil

 

preciso te avisar que sei carpir segredos e tateio silêncios
porque ouço em braile e à medida que teu sono inspira inauguro
arcabouços postes na altura dos teus poros, pequenas cidades.
eu quero estepe e riso e gota e vidro
e na esquina do teu cílio enredo um poema tátil. quero aparar tua
reticente vírgula. e confundir o teu cenho enleio passo.
mas eu preciso prevenir teu vão. que desenho til na linha do teu
lábio. que detenho o vil da tua fineza. que aparo gotas do teu olhar
quedado.
eu quero carpir a tua pele dentro.
quero expandir as tuas verdades.
quero escalar as paredes mornas do teu berço ilhado.
advirto ainda que meu toque é leve, não quero acordar o teu
silêncio indócil. eu só quero as portas do teu só sem chaves. tirar
pra dançar essa fresta tênue, que descansa a falta de uma brisa
torta. o meu hálito venta janelas de miras.
enquanto a tua vigia dorme, inscrevo o alfabeto das tuas retinas.
eu quero acordar a tua alma fóssil
e bocejar na boca da tua angústia
e quem sabe dizer bem baixinho e rente: despe o teu medo o frio o
passado o espinho que meu leito é quente e minha sede é ninho.

 

 

(Dheyne de Souza está em Curitiba, escreve poesia, prosema, caos e guaritas) 

 

 

 

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1 comentário

  1. Gostei do trabalho com a linguagem. O ritmo, a melodia e as imagens formam um conjunto perfeito. O poema é muito forte.

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