Janela Poética I

LÍNGUA PAPIRA OU O QUARTO DO CORPO

Wesley Peres  

 

Foto: Kenia Vartan

A palavra erra o corpo;
mesmo nele inscrita,
o corpo, entanto,  não
é ermo de qualquer voz.

Disso nem se adivinha o quaseabismo
entre, no corpo, o que é e o que não é boca.
Mesmo no beijo, há línguas,
o que faz da boca insular
anomalia no monastério-corpo.

Ainda que pulse toda papira
como na suposta poética cabralina
: a palavra em suspensão minéria
arranjada na lei mosaica
exigindo o não
espraiar-se dos olhos:

alguma papila pronuncia o tempo no corpo;

ainda que, na palavra papira,
o corpo sonhe de si se eximir,
conservar-se em  reino minériumano,

na mônada no sonho-linguagem,
há um silêncio irremediável,
ruidoso palatável, quasilha de carne
inóspita no na língua canavial;

disso se adivinha um estranho quarto,
minimenso e brancareia, no qual
corpo e palavra furtam-se,
mutuamente,
desde o final dos tempos.

 

(Wesley Peres é escritor e psicanalista. Mora em Catalão – GO. Autor do romance Casa Entre Vértebras, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2006. São dele os livros: Palimpsestos (poemas), vencedor da Coleção Vertentes cegraf/UFG 2007, Rio Revoando (poemas) USP/COM-ARTE 2003; Água Anônima (poemas), vencedor da Bolsa Cora Coralina 2001, publicado em 2002 pela AGEPEL. No prelo: O corpo de uma voz despedaçada (poesia, a sair pela Casa Editorial Luminara/Porto Alegre); As pequenas mortes (a sair pela Ed. Rocco))

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