Daniela Delias
Plano aberto
para Lalo Arias
as coisas são o que são:
o copo-de-leite sobre a mesa
o botão amarelo na caixa de costura
a espera da carta que você mandou
no mais, o mar
e as ruas vazias
a solidão e suas ilhas
visto daqui
o mundo é tão plano
***
Minúcias
desde ontem arrasto móveis
molho plantas, aparo pontas
cato minúcias
só não lembro
onde deixei aqueles brincos
aqueles que pesam
como os silêncios que saem da tua boca
***
Rotas
ontem refiz seus passos
guardei seus gestos
depus sobre a pedra
a solidão e os sapatos
nas mãos, o buquê de amarílis
nos olhos, antigas ternuras
na carne, os mapas em que traçamos
as mesmas rotas de silêncio e fuga
***
Amuletos
tenho pra mim que você me veria
num café ao largo do mundo
remoendo o azul das coisas
no centro de uma cidade cinza
tenho pra mim que você me teria
lábio vermelho, branco pelo
pó de arroz, rímel, cabelo
e dentro uma cidade cinza
tenho pra mim que você viria
com seus amuletos e orquídeas
e seríamos qualquer coisa
entre o belo e o absurdo
(Autora do livro Boneca Russa em Casa de Silêncios (Editora Patuá, 2012), Daniela Delias nasceu em Pelotas, Rio Grande do Sul. Tem poemas publicados no Livro da Tribo, em revistas literárias e no blog de poesia Do Lado de Cá. Apaixonada por literatura, música, fotografia, cinema e psicanálise, é também psicóloga e professora universitária. Mora na Praia do Cassino, em Rio Grande, extremo sul do país)
Obrigada pela gentileza da publicação! A revista é belíssima. Fiquei emocionada quando vi os poemas associados à imagem da Luiza. Beijos, Fabrício e Leila. Obrigada, mais uma vez!
Daniela,
Tenho pra mim que tens ruminado belezas.
Um beijo.
Marcelo, fico muito feliz por tua leitura!
Beijos, e muita saudade :)
Daniele Delias, muito bom o seu trabalho, seus textos, seus traços, sua linha, enfim sua literatura. Grande movimento! Parabéns!
Clarisse Maia
Clarice, ficou muito feliz por tua delicada leitura!
Um grande beijo,
Daniela
*correção: fico.
os quatro títulos conversam com a banca desse cassino, onde daniela brinca verso na roleta-brazuca de acontecer na gente (logo se nota que o cassino vai além da sua praia-morada, guria). e a banca, silenciosa moenda letrada, segue garfando e levando a ficha dos olhos da gente que te lê.
Delias, és palavra para ser apreciada sem moderação.