Janela Poética II

Samuel Malentacchi

 

Ilustração: Caroline Pires

 

“E sempre no meu sempre a mesma ausência”
Drummond

 

 

Um soco
….na cara do estômago
ele sentiu cedo
….aos três anos da tarde

levantou torpe
….destituído de fins
desastrando goles
….contra a gravidade

pois se sabe grave
….das agudezas císticas,
….rotundas profundezas
das cavernas malabitadas
….que cultivou
….no tempo escorrido
….& sem parentes
….daquilo que foice;

estancado, além
….dos vazamentos rudes
ele se sentou
….& abraçou o estar entre.

 

 

 

***

 

 

 

Variações Grotescas

 

“O poeta canta/mesmo morto/ a carta da morte.”
Eduardo Lacerda

 

 

I

é encaixotado pra dentro
e retendo meus medos
que ;paradoxalmente; exponho
-n’um tipo de tomografia estranha-
a metalinguagem do meu horror,

eu repito repeço reflito reitero
o excesso que repito repeço
reflito reitero; repeadicção
dos repeditos que lambi
durante toda a existência
entesourada dos meus cortes;

 

 

II

/colori o dolorido do mundo
que conheci sem dó alguma,
dolori como que vindo
daquilo que eximi no enigma
colorido de mim, exibido
em noite de fala, na grande hora
da novela que nos enforca\

 

 

III

;algo como foliões desesperados;
………(…)
a folia indo
folha por folha
a outro destino que não
o fruto da fruição multicor;
………(…)
sou o ator doado à coisa carne
caolha, homem clandestino
e refratário de toda conjugação
e traduzibilidades; do molde
rimístico cancioneiro-cansado
ao que multifaceto no ilusório
receptáculo d’um eu que dói,

(tenho noção disso, da
ilusão, nem tanto da dor)

há o depósito,
pandoresco e limitado,
de minhas tripas desditosas;
escrevo com elas agora;

;desespero – algo como folia;

 

 

 

***

 

 

 

Formas de Chão

 

De quando em vez me acode o avesso
e vejo o lado desexposto da existência,
este exuberante erro bem colocado;

nas derrotas que pratico predico pedidos
para, quem sabe, vestir a insistência panta-
nosa e aveludada de todos machucados vivos;

na melhor das hipóteses, sigo; ferido; sibilino,
silabando fulgores cínicos por duro desejo
impuro de destino. Sem cura, cuspido,

(no entanto ido), fragmentalmente .
Em vez dos quandos me veem os prantos,
é no buraco que me atravessa que sou visto.

 

 

 

***

 

 

 

não tenho pretensão de querer saber tudo;
no que me ensinaram |ensimesmaram| não fui cooptado;
eu apreendo das nuances desavisadas,
é na insinuação que desenraizo o mundo;

flerto com a fresta dita em linha reta;
faço curvas na sombra da tarde rubrica;
brinco sedento de morte empoçada para
,quem sabe |quem abre?|, morar na eternidade;

trago comigo um gole de abismo
daqui vejo & vou ao corp’alma do universo;
se volto serei poeira se volto espaço consideral
se vejo: destino sempre em desatino
………………………../mas ainda Destino\

não tenho a ambição de saber querer tudo;
o que sei? desensimesmar versos suores
nudeza lírica duvidosa rima-matriz-lúdica;
& desatar des(a)tinos para o caminhonar-me;

..:laço poesia para fazer instantes no momento do próprio acontecer:

 

Samuel Malentacchi Marques, 30 anos, paulistano, dentre poucas-muitas coisas soul poeta; cometi três crimes de fazser poesia & o quarto está no p(r)elo; ei-los: poemas nortunos/autofagia/minimáximas  & miscelâminas, respectivamente; no maiscommenos: também costumo existir enquanto músico, baterista da banda chalk outlines & psicanalista; e1/2: malentacchi.samuel@gmail.com.

 

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