Janela Poética II

 

Desenho: Rui Cavaleiro

 

 

SAUDAÇÃO

Clarissa Macedo

 

Hoje enterrei um lobo
de olhos esfomeados.

Na liturgia que devora
as feras, engoli o hálito
esfolado de sangue em
minha retina omissa.

Enlutada na incoerência
da terra, dedilho o quintal
de míticas odisseias.

Nas amarras da fome,
matei aquele lobo
que me cerceava,
inverossímil homem
carcaça de pelo e miséria.

O mundo, e suas lâminas,
decepam a seiva dos anjos
e sugam a heresia do uivo,
são grades de pétalas.

 

 

***

 

 

ALVORECER

 

A fé é rasgo de sol
que entra pela madrugada.

Perdida na melodia dos pensamentos,
cansada da vida nas placas,
busca significados e unguentos
na penumbra dos raios dourados.

Tédio sublime que arrebenta
os fios da amargura petrificada,
dissolve-se no claro do rasgo de sol
que avança machucado pela madrugada.

 

 

(Clarissa Macedo é baiana. Trabalha como revisora, escritora e produtora. Cursa Mestrado em Literatura e Diversidade Cultural (UEFS). Está presente nas coletâneas Godofredo Filho (2010), Sangue Novo (2011) e Verso e Prosa – Oficina de Criação Literária III Feira do Livro (2011). Publicou na Revista Verbo 21, no site Musa Rara, no Barcaças, e em A Poesia do Brasil.  Participou, em 2011, da IV Feira do Livro de Feira de Santana e da 10ª Bienal do Livro da Bahia na abertura da Praça de Cordel e Poesia)

 

 

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1 comentário

  1. Parabéns Clarissa pelos fios de poesias que tercem suavemente nos teus poema e se estende sobre a teia do humanismo e massageia os nossos ouvidos no calor da poesia, sucesso.

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