Janela Poética II

Airton Souza

 

Sinisia Coni

Foto: Sinisia Coni

 

excomungo a dor do desamor
eclesiástico o coração bailarino
deixa para trás o compasso

rego a carga amarga
que traz esse girassol solitário
repleto de semântica
& nenhum resíduo metafísico

intento fuga

ditoso na perdulária
insinuo sutilezas
com a invenção
tácita das rugas

é certo que ainda não percebemos:
a madrugada?
é só um varal teimoso.

 

 
***

 

 
te veste de enseada, fende
a geometria das flores, veja,
o ilusão é um barco de auroras
orbitado de cinzas
adubado jardim
revestido de inverdades

contemplar a loucura
é mais selvagem
que aplaudir o louco

por isso cultivo mentiras

pelas tuas Iris
recolho arbustos
tenho neles
a mesma mania
de girassóis amanhecidos.

 

 

 

 

***

 

 

 
traçaremos o teu itinerário
a rota exporta
em um compêndio
………………………………..estranho

acomodado
para viagem de retorno ao pó
& renúncia

penso que agora
sabes escutar silêncios
mais que a noite
enquanto eu bebo
a cronológica infância.

 

 

 

***

 

 

 
tecemos um porto atomizado
& sem a cor dos enredos
………………………………….absurdos
das rotineiras cidades acetinadas

segredamos o medo do escurejar
quando as mãos ainda
não tateavam sentidos

um campo nos convocou
apressado fortes sem dizer
……………………………………….(a)deus
agora deixo sempre a porta aberta
e o peito em riste
ca(n)tando paradigmas.

 

 

 
***

 

 

 

chegaremos de corpo & alma
ao outro lado
da metafísica emparedada

mastigamos até aqui
………………………………………inquietações
[sa(n)grada idade]
no tenso mundo

avesso a dialética
com sua carga interdita
a forjar caminhos
vagamos aventureiros
no que funde perenidades

pela certeza:
há melodias e cartilagens
na árdua tarefa de ser humano.

 

 

 

***

 

 

 
impossível recompor o homem
decomposto pai
plasmado com o brando da casa

nas minhas costas
incrustaram os sóis dos dias

se configuro fatalidades
não suicidarei a inteira frequência
de cenas & centelhas
diariando ressentimentos
iguais aos dos navios
envelhecidos com as cicatrizes das águas

esvaziado de emoção
descobrir que a infância aflige
o recôndito espírito na existência de mim

levo ressentimentos desiludidos
de atormentar destinos.

 

Airton Souza é poeta e professor, nasceu em Marabá, no Pará. Licenciado em História e pós-graduado em metodologia do ensino de História, além de licenciado em Letras – Língua portuguesa, pela UNIFESSPA – Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. Tem participação em mais de 60 antologias literárias. Publicou 20 livros de poemas.

 

 

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