Janela Poética II

Fernando Naporano

 

deborahdornellasum

Desenho: Deborah Dornellas

 

Sem Os Limites Do Círculo Terrestre

 
Juntos sabemos a cor do silêncio de Deus
que Nerval nos trouxe em ouro fervente

Respiramos em azul incerto-aberto
o odor da claridade ágil,
em passos muito rápidos,
arremessando clareiras na mata

Seu sono em essências de rocha
ao meu chamado respondendo
com rosto de margarida-sem-fim
contrário ao pó de todos os conteúdos

À minha despedida, um lacinho de ternura
acalenta o prazer em ver-te no metal do sonho

 

 

 
***

 

 

 

Luz. Speedball.

 

quisera mais e mais a introspecção da montanha branca

lá donde as coisas diminuem…………………….diminuem
os silêncios mudos não mais que claras………passagens
a vida estremece…………………..é uma recusa a respirar
ao perfil das feridas…………………………….sem pranto

Da sede branca………………..outra sede branca

a alma aberta……………………..sem dificuldade
o corpo é pequeno……  .a dimensão transitória
sobremaneira…………………………é o incêndio
o músculo………..(!!!)………………..no deserto

deslumbrante…………serenidade branca íntima
tudo é claro……completo, o espelho acende-se
nenhum reflexo escapa
nenhum reflexo….arde

 

 

 
***

 

 

 
As sujas maçanetas da razão
finalmente estavam todas avariadas

As tempestades reclináveis do espírito
eram a varanda da grande festa da solidão

 

 

 

***

 

 

 

Dai-me, oh horizonte-em-dardos, o crepúsculo brancovioláceo
ou a maré das luzes libertas.
Não permita-me contemplar o céu azul-claríssimo
que se agarra, sem sutilezas ou tempestades, nas pro—-
——-fundidades do Vazio.

Dai-me, leito escuro do alto, algo além do lodo de vidro
da estrela que não veio.
Não proiba-me de inundar-me no mecanismo das lágrimas,
sem pressa nas roldanas, tisanas da dor,
na claridade de teus olhos que cegam para O Sempre.

 

 

 

***

 

 

 
Uma espécie cobalto de amargura
vaza-me as entranhas
nas valas do sol a se por
no extremo desolado do Tejo

Ainda há luz
nas janelas
des
pe
da
ç
adas
da alma
. algum resquício de cor,
ardor do suplício
em melros trucidados nos campos da memória.

 

Fernando Naporano cursou Letras em São Paulo e Lisboa, mas sempre atuou como jornalista, radialista, label manager e músico. Gravou três Lps com sua banda Maria Angélica Não Mora Mais Aqui.  Entre seus principais livros inéditos de poesia estão “Abandono Devolvido”, “Estrelas De Gin”,”Uma Lâmpada Entre Os Lábios” e “Nas Colinas De Valdemossa Com O Fantasma De George Sand”. Tem um anti-romance – também inédito- chamado “Não Era Uma Loira Era Um Garrafa De Cidra”.
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2 Comentários

  1. Love !

  2. Otimos poemas!!!!Ah se eu pudesse fazer poemas!

    Maria Lindgren

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