Janela Poética II

Hilton Valeriano

 

 

UM TESTEMUNHO DE DOR

 

Há um horizonte humano de
esquecimento
onde palavras
não proferidas
guardam o silêncio
de ruínas e lamentos.

Um testemunho de dor
sob o céu da Somália.

Entre a esperança e o tormento,
ruínas e lamentos,

a história aguarda
seu julgamento.

Seu inaudito
veredicto

sob um horizonte humano de
esquecimento.

 

 

 

***

 

 

 

PRIMORDIAL

 

Como as oscilações da chuva
nas alamedas

Eu poderia lhe dizer
sobre o tempo,
sua inconstância,
de palavras ditas
e perdidas
sob o vento frio
de setembro

Mas tínhamos a certeza
dos pormenores da vida

das oscilações da chuva
das alamedas

onde
caminhávamos

lentos passos intercalados
como legítimos filhos
do século passado.

 

 

 

***

 

 

 

NOTURNO

 

As razões de quem ama
não são argumentos.
Estratagemas para sentimentos
no amor não se pode tê-los.
As evidências de quem ama
são fatos secundários
como as alamedas
no mês de maio.

Os amantes sabem
do improviso
– flor casual do destino.

É possível que o amor seja
mesmo sem a convicção dos teoremas.
Leve – como no sono se propaga
o sonho em Marta.

 

 

 

***

 

 

 

ALGO

 

Eu cumpro protocolos
sobre o túmulo das roseiras!

Eu cultivo solos
sem eira nem beira!

Meus sonhos?

Restolhos
de um vilarejo
abandonado

onde olho a vida
e digo algo.

 

 

 

***

 

 

 

LAMENTO

 

Onde posso estar
que não seja
em mim
mesmo?

Parada
tumulto

Avenidas
que se cruzam

Vazio crepuscular
de um vulto

Onde posso estar
que não seja

mendicante argila
sob o firmamento

pó e lamento?

 

 

 

***

 

 

 

PRIMORDIAL II

 

Eu poderia dizer
das circunstâncias adversas
da escassa colheita
do riso sem primavera.

Eu poderia dizer
da dor e da espera
do tempo sem fim
da noite deserta.

Mas seja em Atenas
ou Alexandria

O amor seria

E eu poderia lhe dizer
dos revezes da vida
das coisas que ficam
e das coisas que passam.

Como do tempo sem fim
da noite deserta

Nasce o dia
o riso
e a primavera.

 

Hilton Valeriano é poeta, professor, formado em Filosofia e História. Autor do livro de aforismos “Margens”, publicado pela editora Mondrongo em 2017.   

 

 

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1 comentário

  1. Mas tínhamos a certeza
    dos pormenores da vida

    das oscilações da chuva
    das alamedas


    Os amantes sabem
    do improviso

    bELOS VERSOS, hILTON!-

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