Janela Poética II

Vera Lúcia de Oliveira

 

 

Arte: Fao Carreira

 

 

 

PARA DENTRO

 

como águas que jorram
para dentro

dei para pisar
o rangido dos ventos

dei para virar
em volta dos passos

dei para lavrar a veia
em que piso

dei para revolver
os ossos

 

 

***

 

 

A CULPA

 

o que é
a culpa?

senão a mão que
não existe mais
aguilhoando
o mesmo cão

senão o olho desse cão
que não existe
abocanhando
a mesma mão

 

 

***

 

SEMPRE

 

fui sempre
de percorrer na carne
..o puído dos vãos
sempre de pôr o pé
na intimidade
das veias
sempre de lavrar
os dias mais
ferozes
……..para que doendo
….amansem a morte

 

 

***

 

 

MEMÓRIA

 

abundância de rastros
que não se cancelam
fascinados pelo assombro
de atravessar as esperas
com seus passos abortos
subindo pelas artérias
em busca de outro corpo

 

 

(Vera Lúcia de Oliveira nasceu em Cândido Mota e cresceu em Assis-SP. Atualmente reside na Itália, onde ensina Literatura Portuguesa e Brasileira na Università degli Studi di Perugia. Entre os livros publicados, estão Geografia d’ombra (poesia), Fonèma Venezia, 1989), No coração da boca (poesia), São Paulo, Escrituras, 2006; A poesia é um estado de transe (poesia), São Paulo, Portal, 2010)

 

 

 

 

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3 Comentários

  1. estou com sorte,
    imensa sorte –
    que poesia estonteante
    acaba de me absorver
    a alma

    beijos carinhosos…

  2. Maravilhosa inspiração poética.
    A essência da alma em versos.
    Lindos são seus poemas.

  3. Obrigada amigos de alma e poesia.

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