Janela Poética III

Alessandra Cantero

 

Luciana Bignardi

Foto: Luciana Bignardi

 

argamassa

 

pedra
sobre
lado a lado
pedra

entalhe desigual
atrito
ruído

encaixe à força
de conflito

sobre, sob
lado a lado
frente a frente
pedras

queda livre
noit solta
castelo construído

pedras firmes
frágeis como vidro

 

 

***

 

 

sob o peito
sombra
um som
ínfimo
fissurando ao
infinito gelo
dum azul distante
e marinho

depois de um tempo de mar
anzol é âncora

 

 

***

 

 

tento
desvínculo
do vício

mais
me separo

mais precipício

 

 

***

 

 

não foi nada!
essa dor é só jeito q a vida se dá por inteiro
não é nada
esse nulo é o todo despejo na pele
palavra que emperra completo complexo
esse pó na faringe poema
não esquenta e esquece de novo

 

 

***

 

 

o tempo esgota
com garras de ferro

rasga esganado
tecidos da pele

coa língua da gente
lambe e geme
cravando os dentes
nas dobras fecundas
dos nossos desejos
efêmeros

 

Alessandra Cantero. Poeta, licenciada em Letras pela Universidade Paulista con Máster em Filologia Hispânica pela Universidade de Sevilha, Espanha. Publicou o livro de poesia Deslocamentos Líricos (São Paulo: Patuá, 2012).

 

Clique para imprimir.

1 comentário

  1. A lírica de Alessandra ilumina os descaminhos de um mundo onde amar é pecado e ser feliz é um crime. A feminilidade de Cantero penetra na alma fecundando poros e neurônios. Sempre fico mais alegre depois que leio seus versos

Comente

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *