Alessandra Cantero
argamassa
pedra
sobre
lado a lado
pedra
entalhe desigual
atrito
ruído
encaixe à força
de conflito
sobre, sob
lado a lado
frente a frente
pedras
queda livre
noit solta
castelo construído
pedras firmes
frágeis como vidro
***
sob o peito
sombra
um som
ínfimo
fissurando ao
infinito gelo
dum azul distante
e marinho
depois de um tempo de mar
anzol é âncora
***
tento
desvínculo
do vício
mais
me separo
mais precipício
***
não foi nada!
essa dor é só jeito q a vida se dá por inteiro
não é nada
esse nulo é o todo despejo na pele
palavra que emperra completo complexo
esse pó na faringe poema
não esquenta e esquece de novo
***
o tempo esgota
com garras de ferro
rasga esganado
tecidos da pele
coa língua da gente
lambe e geme
cravando os dentes
nas dobras fecundas
dos nossos desejos
efêmeros
Alessandra Cantero. Poeta, licenciada em Letras pela Universidade Paulista con Máster em Filologia Hispânica pela Universidade de Sevilha, Espanha. Publicou o livro de poesia Deslocamentos Líricos (São Paulo: Patuá, 2012).
A lírica de Alessandra ilumina os descaminhos de um mundo onde amar é pecado e ser feliz é um crime. A feminilidade de Cantero penetra na alma fecundando poros e neurônios. Sempre fico mais alegre depois que leio seus versos