Janela Poética III

Carla Diacov

 

Carla Diacov

Arte: Carla Diacov

 

ela anda com as solas das
mãos para fora
vermelha
anda como quem pede
e se dormir andando
e se espirrar andando
ela dorme como quem peca
vermelha
e se um caco de vaso a segurar pelas mãos?
e se um rouxinol a atropela?
e se lhe resolve pesar o vermelho no coração?

 

 

 

***

 

 

 

a leviandade por ser presença
fica
teu vulto evolui e se encrespa a ser novo vulto através das pontas dos meus dedos
há já algum resíduo
na inocência e na violência é minha
a pressa
envelheço me ajoelho tiro a sorte na posição dos dias
você vem?
na inocência e na acedência
a leviandade
você vem fica
há o resíduo penando no fundo do poço
você vem?
há um pássaro em repouso
se você não chega
como tudo que vibra por baixo do gesto
respira voa é violenta inda cisca
há uma ave que eu não
há alguns metros que eu não
há uma esferográfica e há um século e meio sobre
a mesa se você chegar antes

 

 

***

 

 

o raio é posto, parada e rio
não chegam os olhos ao nó da garganta
quando de lado a vida
o corte é trilha carcomida e zarolha
inda me sobra te dizer assim:
venha comigo, deixe o cavalo ao meio, de nada adianta, deixe o cavalo comigo.

 

 

 

***

 

 

 

Anatomia Forense

era pra eu ser mulher de morar, mas sou amável.
era pra eu ser deparável.
mas sou odiável.
sou serial e sou adjetiva demais. era pra eu seu de morar, mas sou oxidável.

 

 

 

***

 

 

 

pela combustão

 

o vento enche a minha cara dos fios dos meus cabelos
tento outra posição
porém o vento
me agacho
junto ao tronco da palmeira

carco fogo nas velas
o céu da boca não orna com a boca que não souber o que é uma boa fogueira
eu por exemplo ou falsidade envernizada
sou essa capela em chamas
à beira-mar
desejo redes e só sei queimar

 

 

* Os poemas integram o livro AMANHÃ ALGUÉM MORRE NO SAMBA pela Douda Correria (Portugal/ Abril, 2015)

 

Carla Diacov (1975), São Bernardo do Campo – SP. Publicou “Fazer a Loca” (e-book) pelo selo Ellenismos. Tem poemas na Coyote número 25 (Kan Editora com distribuição pela Iluminuras).Integra a coletânea 70 POEMAS PARA ADORNO, Editora Nova Delphi (Portugal).Em Abril de 2015 lançou AMANHÃ ALGUÉM MORRE NO SAMBA, livro de poesias pela Douda Correria (Portugal).Tem participações no site Cronópios, nas Revistas Germina Literatura, Zunái, Mallarmargens, Usina, Diversos Afins, Ellenismos, Cruviana, Musa Rara e integra o Escritoras Suicidas. 

 

 

Clique para imprimir.

Comente

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *