Janela Poética IV

Alexandre Bonafim

 

Foto: Jussara Almstadter

 

I

Estou na iminência do ser.
A existência de tudo calou-se em mim.
No além dos pensamentos,
fecundei-me na nudez dos sonhos.
Agora sou límpido como céu
despido de nuvens. Por isso inicio-me
onde germina o voo dos pássaros.

 

 

***

 

 

II

Calei, em mim, a fúria dos acasos.
Estou predestinado a amanhecer
pássaros em toda palavra.
Por isso há sempre uma quietude
de ninhos sobre o meu abandono.

 

 

***

 

 

III

Um unicórnio de levíssimos acordes
pousou sobre o meu derradeiro sonho.
Sua crina de harpa, suas asas de sopro
acordaram-me no coração de todo fascínio.
Por isso meus olhos percebem o mundo
como uma oração secretamente murmurada.

 

 

***

 

 

IV

A sombra dos pássaros
sabe de cor o gosto do meu nome.

Quando alguém me chama,
nascem, do meu silêncio,
frondosas árvores
e um perfume de inéditos mistérios.

O meu nome tem a calmaria
dos ninhos desabitados.

 

 

***

 

 

V

Com tanta intensidade
latejam, vertiginosos,
os meus pulsos,
que a existência do universo
dissolve-se, inteira, no meu sangue.

Todo o girar da terra,
o crepitar dos astros,
o canto dos pássaros
não vibram com mais
ardor e arroubo
que os meus pulsos abertos
em vivo êxtase e esplendor.

 

 

(Alexandre Bonafim é poeta, contista e ensaísta. Nasceu em Belo Horizonte, mas passou a maior parte da vida pelas terras do estado de São Paulo. É professor de literaturas de língua portuguesa da Universidade Estadual de Goiás. É eternamente mineiro em exílio, mineiro nas raízes da vida. Recentemente, lançou seu mais novo rebento: o livro de poemas “O secreto nome do sol” (Editora Patuá))

 

 

 

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1 comentário

  1. Gostei. Viagens interessantes no universo dos sonhos. Belo Poema

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