Janela Poética IV

Lelita Oliveira Benoit

 

Ricardo Laf

Foto: Ricardo Laf

 

O OCULTO

terras sob terras ocultadas de mim
se alçam à magia do visível
sem aviso sem aviso

de você olho paisagens por mim ignoradas
tingidas de luz fervescente em indecifrável brilho
espetáculo do oculto secreto segredo
agora desvelado aos meus olhos
em inacreditável fulgir
desde sempre para sempre

ah me cegam! cegam tanto!
os meus vacilantes olhos desavisados
de tais ondulações frenéticas luz enigma
a habitar em terras de você subsolo longínquo
por mim dantes nunca visitadas

***

AURORA E CREPÚSCULO

sou eu a aurora plena de luz
o iluminado dia sou eu
poucos segredos guardo
olhar aberto ao mundo
acolher o outro espero

o crepúsculo é você percebo
em penumbras e horas silenciosas
noites chegando sem fim
em sombrias névoas esvoaçantes
segredos secretos segredos
nebulosas esquinas ocultas

vezes há que percebo intuindo
escura nuvem sorrateira invadindo
entrando em porta da solar luz
não quero resisto suplico
aurora é o meu iluminar penumbras
aurora é acolher o crepúsculo em belos dias

***

 

 

OCO DO MUNDO

 

era você aquele anjo escondido atrás da porta envenenando minhas horas tão encoberto parece que era esse anjo assustado fugindo de mim talvez me querendo ainda escondido atrás da porta me olhando em fugas em retornos no tempo que escorre pelas paredes da vida do anjo enfeitiçado vindo de algum inferno detrás de outras portas ocultando de mim maléfico segredo nem sei nem sei ainda nem sei se saberei algum dia se era você aquele anjo de asas vermelhas a voar a voar voando até se perder em mim até o oco do mundo

***

 

 

SEM ASAS

 

há palavras assim saudadeslá nem sei onde élonge sempre muito longelá ficam
as saudades sentidas….aqui no meu coração pulsam apressadas saudades feitas de
carne e sangue….sendo a eternidade que insiste em ficar paradaqual qualquer nada
me envolvendo em vazios ofegantes…..saudades de você confundem atropelos dos
meus pés aladosassim estando sem voos….sem asas

 

 

 

***

SENTIDO OPOSTO

enquanto escrevem pedra
corpo eu escrevo
enquanto escrevem morte
asas eu escrevo
enquanto escrevem vazio
coração eu escrevo

corpo asas coração
a vida resistindo persistente
no sentido oposto à vaga frieza
e vazia e endurecida e morta
do mundo petrificado em múltiplos nadas

***

EM ABISMOS DE SER OUTRO

a dança dos meus leves poemas livres velas ao vento
aporta em distantes países enigmas de você!
azul seta a levar suave meus estilhaços poéticos a teu triste coração ferido
em alegrias jubilosas em graciosas palavras doces
assim são acolhidos os meus líricos versos
no regaço do teu intenso coração
e sei bem que isso acontece
para mim porém o teu coração em melancolias desfeito está
eis você inalcançável em abismos de simplesmente ser outro
ah amado amor desconheço como caminhar para bem pertinho
até tocar o teu sensível coração solitário
desejo tanto lá aportar hora qualquer em madrugadas talvez
igual aos meus românticos versos

 

Lelita Oliveira Benoit aproximou filosofia e poesia. Escreveu tese de Doutorado na Universidade de São Paulo – Sociologia comteana: gênese e devir, publicada no Brasil (Discurso Editoral, 1999), com indicação ao Prêmio Jabuti e vertida ao francês (Harmattan, 2007). Publicou o Livro da Madrugada (e de outras enigmáticas horas amorosas) (Iluminuras, 2013). As incursões na filosofia e na poesia resultaram em estudos no Instituto Sedes Sapientiae e na formação em psicanálise na Clínica Lacaniana de Atendimento e Pesquisas em Psicanálise(Clipp).

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