Janela Poética V

João Urubu

Ilustração: Mario Baratta

 

 

Teu Tutor Torna Todas Tuas Temperanças Trovões. Ou. Titubeio.

 

Para Thainá Cardoso.

 

 

I.

Estou em débito de dores contigo.
Não pelo livro do Paes Loureiro,
Ou pelo filme do Peschkowsky.

Há algo de insípido nos teus olhos.
Desengraçado mesmo.
Desinteressante
E fácil.

 

 

II.

Uma escada é posta na tua frente.
Ela fica em pé sem apoio.
E tu não mostras ao mundo nada disso.
A escada lá fica.
Não a usas
Nunca.

E justamente por causa da hialóide não demonstras nada.
Não tens humor nem no humor vítreo dos teus olhos.
E teu desespero é mais gasto quando tens os olhos abertos.

Sabendo que humor é um fluido líquido contido em corpos organizados
Não temos humor, nós dois.
Do humor negro, sobra-nos apenas o negro.
E é quando eu me sinto abraçado.

 

 

III.

Eu não gosto de covardia.

 

 

IV.

Esse teu jeito pretensiosamente chistoso irrita.

– Tu me chamas de pedante –

Eu não vou mais te adivinhar
Entediei-me.

Eu não vou mais entender.

 

 

V.

Agora eu sou teus olhos.
O nulo deles.

Sou teus olhos me afrontando.
N’uma nebulosa.

E em câmera lenta
A destruição
De uma vida
Ínfima
Nos faz
Parecer
Livres.

E o conjunto dos pássaros
Poetas
Ou estrelas
Não
Nos
Fará
Mais soltos
Por
Mais
De
Cinco
Minutos.

Chateie-se.

 

 

VI.

Eu faço isso, pois começo a achar que me serves mais morta.
Me serves mais seca.
Por que teus olhos já não me dizem nada.
Além de colo.

E eu tenho os joelhos doídos demais para ceder às pernas.
Tuas.

 

 

VII.

Deverias usar mais lilás.
E passar menos maquiagem.

Maquiagem não combina com lua.

– Não te justifica.

Só justifica quem muito pensa. Lua não pensa.

A Lua só é pensa quando…
Quando…

 

 

VIII.

Morre, Lua.
Morre, Pássaro.
Morre, Poeta.

Nada mais faz senso.
Nada mais faz questão.
Os teus olhos não me dizem nada.

Nada.

Absolutamente nada.

 

 

IX.

Para de molhar.
Para de molhar.
Para de molhar.

Não adianta
Nem adia
Continuar
Olhando.

Para de olhar
Que eu paro de escrever.

 

 

X.

Para de ler que eu paro de escrever.

Eu nunca vou parar de escrever.

Teus olhos não me dizem nada.

 

 

(João Urubu é músico, poeta e compositor da cidade de Belém – PA, graduando de Licenciatura Plena em Letras com Habilitação na Língua Francesa pela Universidade Federal do Pará – UFPA. Dos três anos como poeta e compositor, passou um ano especificamente trabalhando como compositor de trilhas e diretor musical de teatro)

 

 

 

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