Janela Poética V

Desenho: Felipe Stefani

SOMBRA DE SAL E SILÊNCIO

Wender Montenegro

 

Não dizer palavra…
Deixar o silêncio plantar sua nódoa
na cinza dos olhos.
E uma sombra há de vir,
insustentável,
e despojada de dor e remorso e cansaço
trará numa das mãos linho novo,
alfazema;
na outra, conchas de praia deserta,
frutos da estação,
e ainda sem dizer palavra
acenderá os cílios com o sal das águas
de uma outra concha,
essa mão que rasgará silêncios,
tatuando na pele uma palavra gasta.

 

 

***

 

 

TECIDO DE ESPERAS

 

O olhar colhe asperezas…
Nenhuma alma de regresso às mãos
cansadas de tecer esperas;
nenhuma nau singra a saudade
e a tessitura é desfeita
pela ausência de abraços.

 

(Wender Montenegro, natural de Trairi/CE, é professor de História e poeta. Tem poemas publicados nas revistas TRIPLOV, Blecaute, dEsEnrEdoS e em outros espaços literários. É autor de Arestas, 2008, pela All Print editora/SP, com o qual foi indicado para o Prêmio Codex de Ouro 2011, na categoria Poesia, e espera publicar em 2012 dois livros inéditos, o Casca de nós e o Livro-arbítrio)

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2 Comentários

  1. Uma bela mostra do fazer poético deste grande escriba que é Wender.Parabéns.

  2. poeta grande. contundente sua poesia. é até difícil comentar, sobretudo porque estes poemas, que já li, me tocam profundamente. comunicam por afinidade de alma, que é lugar onde o silêncio planta sua nódoa, como ele escreve (e aqui caberia uma interjeição: como ele escreve!). então o que dizer de uma poesia que é espelho pra nebulosa imagem da vida? porque chega aqui, nessa sem-fronteira entre verso e vida, e diz os símbolos primeiros: silêncios, esperas. “a tessitura é desfeita pela ausência de abraços”, ali bem perto de onde se tatua “uma palavra gasta”.

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