Janela Poética V

Desenho: Rui Cavaleiro

PRIMAVERAS

Helena Barbagelata

 

Quando vieste, primavera
aberçar-te a meu corpo branco,
nascia já o Inverno de entre as
longitudes inenarráveis da alma;
as amendoeiras pousavam em
langor os seus braços perfumados,
e as canções escutavam-se vagarosas
sem chegar; havia já tamanha
brandura no abandono, e a sombra
descansava imperturbável e só, vigiando
as voltas do desassossego; já tudo regressara
então, ao seu leito de lis, e o coração
sereno procurava a fonte.

 

 

***

 

 

HUMOR DA NOITE

 

O jardim permanece inerte em
cestos de prata, a névoa é apenas
uma meditação de espuma que
jaz de rente ao ocidente; submerjo
o nume num derrame adivinhado;
o regaço terno do humor da noite
num acato sigiloso, aluviões de
astros, onde começa a alma, tão
dispersa e impenetrável; procurá-la
na finitude amortecida da vida, no
embalo contíguo do violino;
reencontrada musa, as cordas num
afago milimétrico, os dedos
que choram.

 

(Helena Barbagelata nasceu em Lisboa. É uma artista multidisciplinar, dedicada às artes plásticas, música e letras. Participa em revistas e antologias literárias em Portugal, Brasil e Itália, tendo sido laureada em diversos concursos internacionais)

 

 

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1 comentário

  1. Conheci a poesia da Helena recentemente, em revistas literárias. Altíssimo nível. Plangente e musical. Parabéns à revista, como sempre, pelas apuradas edições.

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