Janela Poética V

 

Foto: Viviane Rodrigues

 

 

cinegrafias

Gabriel Resende Santos

 

Na poltrona, desperto. Os ruídos
soprando grandes triângulos.
Pirâmides. Cilindros. Em
filas de cinema vislumbrei os pesados volumes
da terra sem lei. No Odeon as mímicas automáticas
de luminosas tesouras de titânio, cortando os tíckets
amarelos. As musas sob a pesada lona
exaltavam Wagner e as danças de mãos juntas.
As musas não se entendiam. Forçavam a trilha-sonora
nos narizes. Nas testas. Onde assinavam as cifras
e o roteiro da obra-prima.  Na poltrona, sabia ser Gigante
e subtrair espíritos em pequenos grunhidos. Era permitido
obter a glória na cabeça do vilão. As palavras flexíveis
viriam das bocas das ninfetas e bem antes das letrinhas.
Porque as musas são de bronze. Porque o céu é de couro.
E depois, porque o depois é fim, na última nota do violino e
no último crédito de figurante, todas as películas do sonho
se tornam uma una e imensa gota corporal
fugindo de olhos entreabertos.

 

 

***

 

da arte de versar cimento

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxao João

 

Hoje o dia de louvar o Mestre
que me confessou o criar
……………………….a partir do partir do criar.

Hoje o dia de lembrar do Arquiteto
sua cal antiga sua pedra antirocha
o comprimido      e       o      comprimento
…………………..mili-métricos.

Hoje o hoje do Canônico
as rosas inomináveis
..a desrazão lógica
os retalhos sem berço

…………………………..Ontem Neto
…………………………..Hoje Primogênito
………………………….. …do Poema.

explicar

Borboletas furiosas
invadem minha privacidade: extrair segredos
que souberam das folhas.

Peço que saiam. Com delicadeza.
Mas elas me fuzilam: o que significa essa di  agr  ama  ção
essa TIPOGRAFIA
essa questão metalinguística:
explica o poema fora do poema
explica a lagartixa o tigre o grifo
explica os segredos do fracasso.

Atiro uma receita de remédio
para os problemas de fibra
e acerto o coração lepidóptero. Ela pousa
meio trêmula

azulada

não pela morte
mas por uma fria ignorância.

Os segredos eu não conto
para nenhuma fúria.
No máximo aponto – sem autocalúnia –
o que me redescrevo.

 

(Gabriel Resende Santos nasceu no Rio de Janeiro, na última década do século passado.  Tem alguns textos publicados em revistas eletrônicas. Atualmente trabalha no que pode se tornar seu primeiro livro. Mantém os blogues Occam, big bangs e outras explosões e Os Escritores Invisíveis)

 


Clique para imprimir.

Comente

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *