Ana Pérola
EL CAMINO
Para ler ao som de Chango Spasiuk
I
Esse caminho infinito
Que rodeia ausências
E só me traz uma saudade do que não
II
Mal amanheci
Nem me avistei hoje
E já te penso
III
O espelho vazio
E na banheira do meu peito
Inundação
IV
Percorre no meu corpo
Adentra a intimidade
É só a água do chuveiro, Querida
V
A memória, mais tarde
É uma cabeça encostada
Na janela do ônibus
VI
Enquanto a vida passa lá fora
O amor em estagnação:
O meu melhor fado.
***
CONFISSÃO
Um barulho na cozinha
A desconfiança de uma descendência italiana
Meus pais, um caos
Quebrantes
Eu, caquinhos.
***
A CASA
Esse fantasma
Que me atormenta
E desmorona no meu sobrenome.
***
CATARSE
Aquele copo cheio de veneno
O gesto mal intencionado
O corpo tomado por crença.
O espinho liberta.
***
ARMAÇÃO
Essas espumas que explodem
As rochas cobertas pelo desejo
De tanto (a)mar.
Sem nenhuma dúvida
Se deixar molhar.
Depois secar, desconheço.
Ana Pérola (RJ – 1988) mora em Florianópolis, é poeta, fotógrafa, tem ensaios publicados na Revista Ellenismos, exposição fotográfica e conto na Revista Cruviana. Além de escrever em redes sociais e em seu blog Sentidos, é colaboradora no Poesia: Falsidade Ideológica e no projeto infantil Para Qualquer faz de Conta e atua também na área de Recursos Humanos na qual é graduada.