Eunice Boreal
E me disse coisas
com o espanto
de quem não sabe
o que diz
Toda vez que tentava falar
Dos seus sentimentos
Sentia serpentes saindo
Dos seus poros
Em gritos contínuos
Enquanto apenas tentava pensar.
***
Elucubrações
Prometo apenas ser
Desenvoltura do laço.
Quando não, silencio,
Já não grito. Escuto
Labirintos que me vivem.
Vem! Se aceitas o meu lado secreto
Que nem sempre de encanto se mostra.
Vem! Tu, que sabes da Medusa,
Dos tempos, do grito…
Mas, alto, escutas o amor.
***
Partícula
Na origem do mundo
Quem sabe um neutrino
Que agora
Me atravessa
Também tenha
Vivido
Algum
Movimento
De todo
O início.
Talvez alguma espécie
Que me antecede
Tenha lembrado
Do primeiro
Sol nascente.
Talvez algum traço
Da minha pele
Teça o mapa
De todo
O caminho.
Mas
O que importa
A memória
Deste corpo
Físico
Se tudo
É sempre
Muito mais
Belo
Do que a gente
Imagina?
***
Tabuleiro
Dentro do jogo
De palavras
Nem todas
As peças
Foram
Dadas.
Dado
A essa
Partida
Nada volta
Tudo é
(A)I(N)DA.
***
Sentido
todas as estações revelam
os filhos e as flores dos fractais.
pedir licença ao novo e ao velho
não te invalida em nada
pois os sábios não precisam
se impor nos degraus imaginários.
há muito que o tempo sabe
todos dançam
circulares
mesmo enquanto se levantam.
***
Fronteira
O corpo é o único território
Que não precisa de cercas
Elétricas.
Mas também é possível
Você diz
Que alguns sons cheguem
Ao seu pé
Do ouvido
Como palavras-bomba.
Sim
Mas diferente
Da política
O corpo ainda está vivo
E permite reações diversas.
Eunice Boreal é uma Poeta Multimídia. Começou os estudos da arte aos 9 anos de idade. Desde então, realiza trabalhos com a escrita, o desenho, a música, a interpretação e as filmagens. Além disso, une a sua prática artística aos estudos filosóficos, realiza palestras sobre a arte e também já trabalhou em parceria com o Cnpq. Parte da sua obra está presente na internet, em exposições individuais e mostras coletivas, como por exemplo a Vídeopoéticas II, que aconteceu no Centro Cultural São Paulo.