Adrian’dos Delima
A DANÇA
Há uma poesia
de tal tamanho
querendo pôr
meu corpo em movimento
Que saio
sem rumo certo
para a rua
por esta tarde
agradável de inverno
onde algumas folhas
balançam
orelhas ao vento
***
SUBURBE
A tarde tinha um ar grisalho ao terminar
Onde as lâmpadas mais altas
Acendiam cabeças
De vaga-lumes pálidos
Eram os pescoços desta cidade baixa
Que se esticavam nos postes
Talvez para ver além dos telhados
Presos que estavam na borda da calçada
Se pudessem se lançavam
Por cima do chapéu do morro
Para o céu estrelado que à noite
O teto das metrópoles usa
Para iluminar com os poetas
Os vultos que a lua projeta
Os vãos escuros entre os edifícios
E a sombra da miséria sob os viadutos
***
PHATO
Fato exposto (FRATura)
TRACtor feito feito TRACto
faTOR-faTURA
PRAto posto
R
uralmente
rURp
***
O VOTO DO SILÊNCIO
Escute um discurso contemporâneo
O verdadeiro nadador
é aquele que cruza os braços
diante da água.
A estrela mais bela
ainda está por ser descoberta.
O grito
que vale a pena ser ouvido é o do mudo.
Incorre em erro
aquele que diz o que acha que sabe
porque a verdade está escondida
e em constante movimento.
Se você repete estas frases, você tem alguma chance
***
OS PEIXES
Tocando com os dedos no vidro,
Os peixes dentro do aquário
Se movimentam, seguindo-os.
Ao contrário, com peixes dentro,
A um toque invisível no monitor
Se movem os peixes do lado de fora.
***
TURVBILHÃO
O ventilador olhou dois lados
Eu dormi
Ele virou pro outro
E enterrou fundo
As hélices pela janela
Numa nuvem de chuva
Adrian’dos Delima (Canoas, RS), pseudônimo para Adriano do Carmo Flores de Lima, é poeta, tradutor, teórico de poesia e compositor. Cursou Letras, habilitação Tradução na UFRGS, onde não se graduou em função de dificuldades econômicas. Publicou em revistas impressas e online, como a Germina, a Babel Poética e a Sibila. É autor dos livros “Consubstantdjetivos ComUns (Vidráguas e Gente de Palavra, 2015)” , “Flâmula e outros poemas (Gente de Palavra, 2015)” e “Aqui fora o olholhante (Vidráguas, 2017).