Janela Poética V

Silvério Duque

 

Foto: Mercedes Lorenzo

 

 

RAZÃO VERSUS FELICIDADE

 

– Minha vida com Maria? Uma desgraça!
Desconchavo de amor e de tormento.
O espaço que ocupei em sua massa
cinzenta? Grande quão seu “pensamento”.

Que, aliás, bem poderia dá-lo às traças
p’ro seu orgulho e meu contentamento.
(Qual um Kierkegaard carente de chalaças
elas adoram um péssimo argumento…)

Cheinho de razão e de ateísmos
eu (um dia) a contestei com um carinho
digno dos mais sinceros Neomarxismos…

Ela se foi – com uma cara de Tom Berenger –
e aqui fiquei (tão sábio), mas sozinho
e bruto como um clone do Schwarzenegger.

 

 

***

 

 

SONETO CAFAJESTE…

 

De mim não saberás o quanto eu te amo
por não querer do amor a morte exata
nem importa do amor verdade ou engano
“se o mesmo amor que cura é amor que mata”…!?

Piegas, não!? Mais do que isso é amor confesso
tanto mais imbecil se mais se mostra
contido de paixão e tempo egresso
onde tudo, no fim é a mesma bosta.

Mas se me amas no instante em que me vens
amar-te é o que mais sinto e o que mais vejo
pois quanto mais te negas mais me tens

neste amor que é nutrir-se de sobejo…
Num jogo de intenções e de desdém
apenas quero eterno o meu desejo.

 

(Silvério Duque nasceu em Feira de Santana-BA. É licenciado em Letras Vernáculas, pela Universidade Estadual de Feira de Santana. Além de poeta, é músico, clarinetista. Já coordenou a Escola de Música da Sociedade Filarmônica Euterpe Feirense. É autor de O crânio dos Peixes (Ed MAC, 2002), Baladas e outros aportes de viagem (Edições Pirapuama, 2006) e A pele de Esaú (Via Litterarum, 2010). Seu mais novo livro, Ciranda de sombras, está no prelo…)

 

 

 

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3 Comentários

  1. Vejo nesses poemas certa ambiguidade, pois ao mesmo tempo em que utiliza uma forma sacralizada ao criar seu poema, ele dessacraliza essa mesma forma utilizando-se do humor. Mas não pensem que há aí algo banal. Isso não combina com o poeta. Antes ele traz o poema, ou melhor, o soneto, para mais perto do leitor.

  2. É uma brincadeira sonetística. Gostei, Silvério.

  3. vim magnetizada pelos cavalos de Mercedes… vigor e energia em delicado registro é uma fórmula que faz parte do trabalho cuidadoso e sensível da fotógrafa, de quem sou fã.

    No galope, de quebra, ainda peguei garupa nos poemas de Silvério Duque, poeta que eu não havia lido mas que desde agora já conta com a minha simpatia. Gostei da ironia e do requinte para fazê-la.

    abraços.

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