Jogo de Cena

O teatro e o mercado editorial: um olhar a partir do Nobel de Literatura

Por Rodrigo Conçole Lage

 

Cristina Arruda

Arte: Cristina Arruda

Quando Mo Yan conquistou o prêmio Nobel de Literatura de 2012, tivemos a publicação de um de seus livros, Mudança, traduzido direto do chinês. O fato de Alice Munro ter conquistado o Nobel em 2013 teve um impacto muito maior no mercado editorial, como podemos ver pelos muitos títulos publicados posteriormente. Com Patrick Modiano, em 2014, não tem sido diferente. A editora Rocco vai relançar três obras que já estavam esgotadas há muito tempo e outras editoras irão publicá-lo também.

A partir disso, podemos dizer que o fato de um escritor receber o Nobel de Literatura tem impacto no mercado editorial, despertando o interesse das editoras. Anatole France, Thomas Mann, Ernest Hemingway, Albert Camus, Jean-Paul Sartre e outros ganhadores tiveram um grande número de livros publicados no Brasil e, hipoteticamente falando, também poderão ter sido “beneficiados” pelo fato de terem sido premiados, algo a ser devidamente estudado.

Contudo, quando olhamos para os dramaturgos que receberam o Nobel, vemos que o mercado editorial nem sempre os acolheu com o mesmo interesse. Das mais de sessenta peças de José Echegaray, foram traduzidas, por R. Magalhães Júnior, apenas a Mancha Que Limpa e A Morte Nos Lábios, as quais estão esgotadas há décadas, o que é muito pouco. No que se refere a Jacinto Benavente, não foi diferente. Das mais de cento e setenta peças escritas por ele, foram traduzidas, também por R. Magalhães Júnior (um dos mais importantes tradutores de teatro do Brasil), somente Os Interesses Criados e Rosas De Outono, também esgotadas.

Maurice Maeterlinck, importante nome do teatro simbolista, também teve somente duas de suas peças traduzidas: O pássaro azul, por Carlos Drummond de Andrade, e Peléas e Melisanda, por Newton Belleza. Do importante dramaturgo Gerhart Hauptmann, também temos somente duas traduções: Michael Kramer, de Herbert Caro, e a de Os tecelões, de Marion Fleischer e Ruth Mayer Duprat.

Harold Pinter foi ainda menos valorizado, pois a única peça traduzida, por Millôr Fernandes, foi A Volta ao Lar. Outras peças foram traduzidas apenas para o teatro, nunca tendo sido publicadas em livro. Da imensa produção teatral e teórica de Dario Fo, temos somente as peças reunidas no livro Morte Acidental de um Anarquista e outras peças subversivas (que inclui História de uma tigresa e O primeiro milagre do menino Jesus), tradução de Maria Betânia Amoroso, e o livro Manual mínimo do ator, traduzido por Lucas Baldovino e Carlos David Szlak.

Elfriede Jelinek e Mario Vargas Llosa têm uma importante obra teatral, principalmente Elfriede, mas as editoras brasileiras têm se concentrado em seus romances e não publicaram nenhuma de suas peças.

Dentre os dramaturgos, George Bernard Shaw foi o mais traduzido, com mais de uma dezena de peças (Pigmaleão, Quatro peças curtas, O homem e as armas, O altruísta, O discípulo do diabo, Santa Joana, A profissão da senhora Warren, Aventuras de uma negrinha que procurava Deus, Major Bárbara, A Conversão do Pirata, O homem do destino, Casa de Orates, Matrimônio Desigual e César e Cleópatra). Contudo, as traduções não correspondem à metade de sua produção.

 T. S. Eliot teve todo o seu teatro traduzido por Ivo Barroso para o segundo volume de sua Obra completa, publicada pela editora Arx (2004). Eugene O’Neill foi outro dramaturgo com várias traduções (Longa jornada noite adentro, Quatro peças, Além do horizonte, Dias sem fim, Desejo, A juventude não é tudo, Piedade cruel e Electra enlutada).

William Butler Yeats também teve seis peças traduzidas por Paulo Mendes Campos, publicadas no livro Teatro da Coleção Prêmio Nobel, e O Poço do Falcão, traduzida por Fernanda Mendonça Sepa no livro O Teatro de William Butler Yeats teoria e prática.

Albert Camus tem uma produção teatral pequena, seis peças, sendo que quatro foram traduzidas (Oração para uma negra, Calígula, Estado de sítio e Os justos). Jean-Paul Sartre também foi bem traduzido (As moscas, Entre quatro paredes, A prostituta respeitosa, As mãos sujas, Os Sequestrados de Altona, O diabo e o bom deus e As troianas).

Luigi Pirandello tem uma grande produção teatral, contudo, as seis traduções existentes (Seis personagens à procura de um autor, Os Gigantes da Montanha, O Enxerto: o Homem, a Besta e a Virtude, O Marido de Minha Mulher, Assim é (se lhe parece), Vestir os nus e Liolá) correspondem a uma pequena parte de sua dramaturgia. As traduções têm se concentrado principalmente na sua obra ficcional.

A produção teatral de Samuel Beckett também foi pouco traduzida (Esperando Godot, Fim de Partida e Dias felizes), diante da importância de sua obra. As editoras também têm se concentrado em sua ficção.

Por fim, podemos dizer que, com algumas exceções, a dramaturgia dos ganhadores do prêmio Nobel de Literatura não despertou o interesse das editoras. Mesmo os que o despertaram foram, com o passar dos anos, esquecidos e a maior parte das traduções está esgotada. Isso, em parte, se deve ao fato de que o público leitor contemporâneo não tem o hábito de ler textos teatrais, e do próprio papel secundário que o teatro exerce na contemporaneidade.

A leitura teatral não tem sido incluída no processo de formação dos leitores, e mesmo o público frequentador de teatro não tem por hábito a leitura de peças teatrais. Consequentemente, o mercado editorial dedica pouco espaço à publicação de textos teatrais, seja de traduções, seja dos grandes nomes do cânone da literatura brasileira.

Rodrigo Conçole Lage é professor de história. Possui artigos e resenhas sobre Literatura e História publicados em revistas acadêmicas.

 

 

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