Olhares

Uma tão viva e espelhada alteridade

Por Fabrício Brandão

Patrick Arley

Foto: Patrick Arley

Um mundo a revelar suas faces. Em cada rosto, a expressão daquilo que está por trás do ritual dos dias. É preciso muito mais do que a mera anunciação da rotina para entendermos que a fotografia transcende a aparência das coisas. Assim, vemos transitar os homens com toda a vastidão de cenários que lhes são peculiares e íntimos.

Já que estamos falando de humanas paisagens, não há como deixar de ressaltar o caráter antropológico do trabalho de um artista como Patrick Arley. É, de fato, o que causa maior impacto num primeiro momento em que nos debruçamos sobre seu ofício.  O homem apresentado nas fotografias de Patrick é o mais puro reflexo do ambiente em que vive, pois traz em si o vigor de suas práticas sociais, seus laços de pertencimento, seus traços culturais, seu lugar no mundo, enfim.

Cada semblante retratado pelo fotógrafo mineiro em questão transpõe nuances de um estratégico contraste entre luz e sombra. É como se diante da natural ambiguidade que o ser apresenta, emanasse simultaneamente tanto o que está para ser visto como também aquilo que carece um sentido de reserva. Então, poderíamos concluir que as faces humanas observadas estão ali impregnadas de um fluxo de expansão e retração. Estão expostas naturalmente porque cumprem um papel material do qual não se pode fugir. Entretanto, mantêm um lado oculto devidamente preservado pela construção da subjetividade.

Patrick Arley

Foto: Patrick Arley

Quando avançamos mais no microuniverso de cada pessoa flagrada pelas lentes de Patrick, sentimos a leve presença de espaços intangíveis. De um lado, a materialidade das coisas; do outro, vastas possibilidades de abstração, as quais tanto podem estar situadas no plano do observador como naqueles vividos pelos reais personagens.

E o fotógrafo vai mais além. Ousa percorrer temáticas envolvidas em mistério, como é o caso da morte. O resultado disso é uma representação cujo trânsito de imagens faz circular elementos como silêncio, vestígios e memória. Ainda dentro dessa atmosfera, uma espécie de contemplação do mistério parece surgir quando a existência física dá lugar a sacralizadas lembranças.

Patrick Arley

Foto: Patrick Arley

Outro ponto de destaque no trabalho de Patrick está no registro de manifestações da cultura popular. Delas, o artista consegue extrair recortes que mesclam crenças e elementos folclóricos. O testemunhar das tradições, sobretudo as de origem afro-brasileira, mostra que a fotografia também pode estar a serviço da preservação das raízes que fundam um país de proporções continentais como o Brasil. Há beleza no modo como as imagens que tratam desse tema retratam um êxtase tanto individual quanto coletivo, principalmente quando seus apelos denotam uma esfera mística de experiências.

Nascido em Belo Horizonte, Patrick Arley formou-se em Ciências Sociais, fez mestrado em Antropologia e atualmente é doutorando (também em Antropologia) pela Universidade Federal de Minas Gerais.

O viés imagético seguido pelo artista em foco demonstra uma valiosa opção por tentar compreender um pouco daquilo que integra os papeis humanos. Movidos por paixões ou pelo ritmo automático de nossas existências, somos seres outros, talvez um pouco melhores do que antes, quando assinalamos posições marcadas pelo captar de gestos simples da vida. A habilidade de olhar verdadeiramente o outro, respeitando seus domínios, implica num entendimento sobre nós mesmos.

Patrick Arley

*As fotos de Patrick Arley fazem parte da galeria e dos textos da 112ª Leva.

Fabrício Brandão edita a Revista Diversos Afins, além de buscar abrigo em livros, discos e filmes.

Clique para imprimir.

1 comentário

  1. Lindas todas Parabéns!!!!!

Comente

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *