Pequena Sabatina ao Artista

Por Sérgio Tavares

Há duas maneiras de um escritor revisitar o passado: por meio da autobiografia ou através da ficção. Em seu livro mais recente, o volume de contos “Eles não moram mais aqui”, o mineiro Ronaldo Cagiano se posiciona diante do cruzamento entre essas duas vias, acessando os fatos que constituem sua obra ao converter matéria autobiográfica em matéria literária.

O resultado é um diálogo permanente entre invenção e memória, no qual os personagens são agentes de suas próprias histórias, mas também a consciência latente do autor observando a própria vida a uma devida distância. A infância na pequena cidade de Cataguases, a descoberta da leitura, a poesia como faísca elementar para a escrita, as mudanças para Brasília e, anos depois, para São Paulo.

Uma formação humana permeada pela literatura e por uma galeria de autores cujas influências apontam um norte e explicam a própria carreira. “Creio que a criação literária é caudatária de nosso histórico de leituras e não há como afastar-se dessa sintonia, desse beber em outras fontes para enriquecer a nossa, pois somos influenciados, sem dúvida, pelo que acumulamos, e essas pistas nos formam e isso não apenas na literatura”, conclui.

Em entrevista exclusiva, Cagiano esclarece as circunstâncias por trás de alguns dos contos, partindo de assuntos específicos para fazer uma ampla reflexão sobre o ofício da escrita. Com mais de uma dezena de livros publicados, entre novelas, antologias poéticas e infantojuvenis, o autor ainda debate os (des)caminhos do mercado literário, o surgimento de novos autores e editoras, a parceria com a escritora Eltânia André, cujo primeiro romance já está no prelo, e sua atuação como crítico de livros, pelo qual é um dos mais respeitados do país. “A literatura continua sendo o único lugar onde se pode ser livre”, justifica o empenho em prol de um fazer literário que vai além do seu.

Ronaldo Cagiano

Ronaldo Cagiano / Foto: arquivo pessoal

DA – Em seu livro mais recente, o volume de contos “Eles não moram mais aqui”, você utiliza como matéria ficcional a memória, as lembranças de lugares e de pessoas da cidade mineira de Cataguases, onde nasceu. Acredita que todo escritor, em algum momento, invariavelmente volta para casa?

RONALDO CAGIANO – Creio que a literatura é uma ponte entre o passado (com sua carga de memória ancestral: afetiva, geográfica, familiar, psicológica, histórica) e o presente. Estamos sempre dialogando com nossas raízes e experiências remotas. Penso que tanto na prosa quanto na poesia não há escrita puro-sangue, ou seja, tudo que escrevemos é um diálogo entre a invenção e a memória, pois, como dizia Cyro dos Anjos, “a literatura se nutre do real”. Assim, vejo Cataguases como o Capiberibe de “Cão sem plumas”, de João Cabral, pois minha cidade é como aquele rio: “Está na memória; como um cão vivo/ dentro de uma sala”. Vivi até os 18 anos em Cataguases, passei 28 anos em Brasília. Se esta me deu régua e compasso, como na música de Gil, foi Cataguases quem me (in)formou como ser, como leitor e como escritor. A mitologia da cidade é (o) que me alimenta ficcional e poeticamente, pois quando volto os olhos para o vazio ou do escuro do passado, é de lá que retiro matéria e circunstâncias para minha prosa e minha poesia. E a barbearia do meu pai foi a grande escola desse aprendizado de ver e ler o mundo, em seu salão, onde fui engraxate dos 8 aos 14 anos, (re)colhi as histórias da cidade, capt(ur)ei o seu imaginário e chafurdei no seu inconsciente,  uma espécie de vitrine crítica da vida individual, coletiva, social e política. A cidade povoa minha experiência criativa a partir dali, onde circulavam multifários seres, de onde eu mirava, como um promontório, os acontecimentos do dia a dia, as figuras folclóricas e pitorescas, a gente miúda em sua coreografia diária pelas ruas, esses tecelões de mistérios que tanto invocaram nossa imaginação. “Nenhum rosto é tão surrealista quanto o verdadeiro rosto de uma cidade”, disse Walter Benjamin, assim a cada conto, a cada história, a cada poema, tendo desvelar a face de uma cidade que a cada dia, apesar da distância dos anos e do meu asilo em outras plagas, é a mesma e é outra.

DA – O poema de João Cabral, a que se refere, está no conto “Sombras”, possivelmente o mais emotivo da coletânea, um tipo de relato inflexivo no qual você transporta, para o contexto imaginário, o luto que, mesmo com o escorrer dos anos, não se dissolve por completo. Livros, como “Carta a D.”, de André Gorz, e “Altos voos e quedas livres”, de Julian Barnes, tratam igualmente desse sentimento de tristeza profunda pela morte de alguém muito querido. Você acredita que a literatura, de alguma forma, é um canal pelo que esse vazio possa ser confrontado ou, ao menos, compreendido?

RONALDO CAGIANO – Nesse conto, particularmente, (es)corre uma espécie de hidrografia sentimental: no fluxo das lembranças de um acontecimento real, migrei para a ficção a experiência de um luto sofrido por uma família, que teve de purgar a dor de uma perda tão precoce. Creio também na literatura como instância para certas catarses, em que a vivência pessoal (ou a alheia que, muitas vezes também nos servem como fonte literária) nos possibilita um mergulho e uma reflexão sobre as imponderáveis contingências de nosso percurso ou de nosso tempo. Estamos sempre fazendo literatura além das expansões oníricas, transcendendo a realidade por meio de uma (in)tensa tentativa de compreender (ou superar) os vazios, silêncios, perdas e outras dores que vivemos ao longo de nossa fugaz e precária existência. Dessa forma, escrever como exercício permanente de confronto com realidades distintas, é a maneira que encontramos de dialogar com aquilo que nos perturba, desconforta e de, certa forma, nos desestabiliza e nos modifica.

DA – Outro aspecto que salta aos olhos, na coletânea, é um diálogo constante com inúmeros escritores, que se cristaliza no conto “Esboços para a (de)composição do naufrágio”, em que o narrador se lança numa incursão pelo território literário, encontrando-se com nomes como Machado de Assis, Cervantes, Kafka e Plínio Marcos. O quanto desse espelhamento há na sua formação e, por consequência, em seu processo literário? De uma maneira representativa, acredita que o autor, por mais completo que seja, nunca escreve sozinho, que todos os textos decorrem de um impulso de influências e recortes acumulados durante a leitura?

RONALDO CAGIANO – Entendo a escritura como sendo uma experiência-rio: ela carrega (ou transporta) as recolhas de nossa caminhada, seja como ser, leitor ou escritor. Dessa forma, no que escrevo, tudo flui impregnado de outras referências. Aquilo que li, o que vi, ou o que vivências alheias me serviram como exemplo, farol ou lição. Sempre incorporo algo da garimpagem que realizo ao mergulhar no aluvião estético de outros autores. Certa vez, um amigo escritor dizia que, embora gostasse muito de ler meus contos (e até poemas), sentia-se incomodado na maioria das vezes, por ter que pagar pedágio às epígrafes. Argumentei que o uso desse recurso (Murilo Rubião foi um dos que mais o utilizaram em seus contos; da mesma forma o mineiro João Batista Melo), mais que intertextualidade, ou além da homenagem a autores e livros que me marcaram, vejo também como um diálogo temático e afetivo, uma ponte dialética entre o que escrevi e o que li, no sentido não de plágio ou carona, mas com a função análoga e simbiótica de espelhar sentimentos e expressões que, de outra forma, e melhor, disseram a respeito do mesmo tema. No fundo, creio que a criação literária é caudatária de nosso histórico de leituras e não há como afastar-se dessa sintonia, desse beber em outras fontes para enriquecer a nossa, pois somos influenciados, sem dúvida, pelo que acumulamos, e essas pistas nos formam e isso não apenas na literatura.

DA – A poesia, que se faz substância de alguns contos do seu livro mais recente, foi também seu ponto de partida na carreira literária, com o lançamento de “Palavra engajada”, de 1989. Essa predileção de gênero seguiu por alguns anos, até finalmente você se encontrar com a prosa. A que atribui esse movimento? Sua primeira experiência com a leitura parte da poesia? Há com ela uma ligação de cumplicidade afetiva ou foram os versos a maneira pela qual primeiramente compreendeu seu impulso artístico?

RONALDO CAGIANO – Considero-me essencialmente poeta, embora tenha me incursionado pela ficção com mais vigor nos últimos anos. Mas, desde os primeiros livros, leitores e amigos identificaram uma certa predisposição à prosa, por perceberem um fôlego discursivo em meus poemas. Embora, paralelamente, à escrita e publicação de livros de poesia tenha sempre produzido prosa, seja em jornais (desde a adolescência colaborava para um hebdomadário tradicional de minha cidade, com crônicas, pequenos contos e artigos de opinião), seja por meio de histórias que deixava na gaveta, foi somente depois de alguns títulos de poesia que optei por dar à luz meus primeiros textos ficcionais, na esteira da sugestão desses amigos, que insistiam para que eu investisse no gênero. Assim surgiu “Dezembro indigesto”, volume em que reuni alguns contos inéditos, tendo com ele vencido o Concurso Bolsa Brasília de Produção Literária de 2001, com a publicação pela Secretaria de Cultura do Distrito Federal. A partir dessa feliz estreia, dediquei-me mais à confecção ficcional, sem abandonar a paixão pela poesia, para a qual fui despertado aos 11 anos, quando li os versos candentes de “Eu”, de Augusto dos Anjos, livro que representou um divisor de águas na minha vida de leitor, instigando-me a escrever os primeiros poemas. Creio que essa ligação visceral e umbilical com a poesia delineia minha prosa, porque essa ligação afetiva e sensorial com ela pode ser sentida no que escrevo, porque sempre persigo a prosa poética como êmulo a meus projetos ficcionais.

Ronaldo Cagiano

Ronaldo Cagiano / Foto: arquivo pessoal

DA – Há dois pontos, em sua resposta, que eu gostaria de me aprofundar. O primeiro é o que chamou de perseguição da prosa poética, cujo ápice, no meu entendimento, está no conto “Mar de dentro”, que se passa em Teerã. É notável, na sua escrita, essa relação com a cidade, o espaço geográfico, muitas vezes em tom de diálogo, como se este servisse de cenário e, ao mesmo tempo, de interlocutor. Você nasceu em Minas, mas viveu em Brasília por muito tempo e, agora, em São Paulo. Consegue notar uma influência latente de cada um desses lugares em sua literatura, ou acredita que o escritor ocupa um território expatriado, tão vasto dentro de si?

RONALDO CAGIANO – Compartilho uma expressão de Baudelaire para reafirmar isso: “Seja poeta, mesmo em prosa”. Quando li isso, certa vez, percebi que pertencia à família dos que, ao fazerem ficção, não se preocupam apenas – e de forma descarnada – em contar uma história. Penso que o amálgama para uma história, no conto ou romance, é a própria linguagem e ela, muitas vezes, é tão forte e determinante quanto a trama ou a psicologia dos personagens. Essa talvez seja uma peculiaridade no que escrevo, uma espécie de relação íntima com minha gênese literária, a origem primordial do que crio está na poesia que procuro retirar dos pequenos dramas e tragédias, dos conflitos e dilemas individuais ou coletivos, da banalidade ou transitoriedade das coisas. Por outro lado ressalto, ainda, o fato de trabalhar na minha literatura os espaços em que vivi e que me influenciaram, como forja do homem e do escritor: o geográfico, o psicológico, o afetivo, que delineiam meu arcabouço existencial. São pilares que sustentam o meu processo criativo, mergulho no território da infância, nas experiências afetivas, nos apelos históricos, nas invocações sensoriais para compor o painel de minha leitura pessoal e crítica desses universos e atmosferas que me forjaram e me inspiram tantas revisitas. Essa ancestralidade tão referencial nos habita e nos chacoalha, nela estão as fontes de nossa relação com o agora, nas quais a literatura é instância de expansão, catapulta. Certa vez li no livro “Manual Prático de Levitação”, de Agualusa, a fala de um personagem que me parece espelho do que ocorre quando revolvo essas reminiscências: “O passado é como o mar: nunca sossega”. Então, essas águas vivem redemoinhando dentro de mim, as águas do rio Pomba, tão mí(s)tico em minha infância e adolescência, com suas cheias alarmantes nos expulsando de casa; as águas do Lago Paranoá, em Brasília, cidade onde vivi 28 anos e que me deu “régua e compasso”, como diz a música de Gil; e agora nessas novas (c)(t)orrentes, em São Paulo, onde estou há nove anos, levando-me a outros fluxos nesse eterno e imponderável mistério que é o destino. Essa interlocução com o passado remoto ou recente (Cataguases, Brasília), esse diálogo com o presente (São Paulo) é uma maneira de me situar em meio ao cipoal caleidoscópico de realidades distintas (e suas contradições), que vivi e vou experienciando. E a literatura abriga cada um desses pedaços (sentimentais e físicos). Em “Interpretação de dezembro”, Drummond me ajuda reconhecer que “É o menino em nós/ ou fora de nós/recolhendo o mito”.  Esse menino que f(l)ui, pega na minha mão e escreve sobre o que hoje em mim é fluência e desatino. Portanto, não consigo separar o que escrevo do que vivi, tudo se manifesta como uma sinergia de sensações acumuladas, que se atualizam cada vez que a ficção se embebeda do real.  Cada viagem a Minas é um manancial de recorrências afetivas tão fortes e esse caudal sentimental se transformará em matéria literária ou apreensão poética nalguma oportunidade. A cidade que (re)vejo (ou visito) hoje não é aquela cidade que me transformou ou transtornou, a que está intacta na minha percepção, pois hoje sou estrangeiro nesse mundo que lá está transplantado e, para fugir desse exílio compulsório, me asilo no “inexílio” da memória e nela afugento os fantasmas do presente. Como no conto “Da próxima vez”, de Carrascoza, “A cidade da infância, tão outra nos meus olhos se comparada à memória.” Ou algo similar num poema de Ascânio Lopes, poeta modernista da minha cidade, morto precocemente na década de 20, que fala: “Cataguases! Cataguases!/ Vale a pena viver em ti./ Nem inquietude./ Nem peso inútil/ de recordações./ Mas a certeza que nasce/ das coisas/ que não mudam bruscas./ Nem ficam eternas.” No mais, tomando emprestado de Ortega y Gasset a ideia da influência, para o qual “eu sou eu e minhas circunstâncias”, eu diria que eu sou eu e minhas leituras, eu e minhas viagens e relações com o que me cerca.

DA – Bela resposta. Passou-me a frase de Borges que diz que todo autor sempre escreve o mesmo livro. Há uma memória basilar para todos os enredos, e isso que se configura a literatura. Agora voltando ao segundo ponto, você menciona a bolsa de criação literária e, complementando a ideia, alguns dos contos de “Eles não moram mais aqui” foram previamente premiados. Com a extensa carreira que tem, o quanto considera importante para um autor esses dois recursos? Como um financiamento ou uma premiação pode ser producente ou prejudicial?

RONALDO CAGIANO – Sem dúvida, acredito que essas alternativas são a saída, sobretudo num país como o Brasil, em que o sistema editorial é extremamente hegemônico e monopolizado, sem critérios definidos para a recepção, avaliação e publicação de autores, prevalecendo, na maioria das vezes, as relações, as panelinhas, os guetos, as igrejinhas, as amizades e outros sistemas perversos de vasos comunicantes, em detrimento da qualidade da obra, perpetrando-se históricas e abomináveis injustiças (autores de qualidade negligenciados sem pudor, enquanto mediocridades são incensadas sem nenhum constrangimento). Nesse ambiente literário dominado por interesses, percebo também o total descaso de grande parte da crítica que milita na grande mídia impressa e seus cadernos de cultura, salvo raríssimas e honrosas exceções, pois só reconhecem vida inteligente na literatura publicada por grandes editoras. São pernosticamente indiferentes a um bom autor que tenha sido editado por um selo desconhecido, principalmente se fora do eixo Rio-São Paulo.  Então, o que resta aos autores sem “pedigree” são os concursos literários, as bolsas de publicações e outros programas de incentivo e apoio municipais e estaduais, que funcionam como estimulantes para os novos e até mesmo para veteranos sem oportunidades nas grandes casas editoriais. São alternativas concretas para tornar menos injusta a partilha de espaço nesse cenário tão dominado pelos ditames do deus mercado, e na maioria das vezes, esses certames sinalizam uma maior visibilidade, chamando atenção da crítica e proporcionando acesso a edições e distribuição mais amplas. Ressalto que, em meio a esse deserto de possibilidades, um oásis se mostra como interdição desse processo: é o papel das pequenas editoras que, a meu ver, de forma hercúlea e quixotesca, com seus editores matando um leão por dia e nadando contra a maré do mercado editorial, vêm publicando autores e obras de inegável qualidade, inclusive nada devendo às grandes editoras quanto ao esmero gráfico, sendo que muitas delas vêm conquistando prêmios em importantes concursos de nível nacional, entre as quais destaco Patuá, Dobra, Confraria do Vento, LetraSelvagem, Penalux, Oito e Meio, Reformatório, Kazuá, Casarão do Verbo etc.

DA – Essa é uma situação complicada e, em muitos casos, desleal. Há algum tempo, conversava com um escritor superpremiado, com livros traduzidos fora do país, que se encontra sem editora, desmotivado. Um vexame, uma vergonha para o meio literário. Mas gostaria também que enxergasse esse contexto por um outro ângulo. Você não percebe que, com o surgimento de muitas editoras e a escancarada democratização da publicação, temos também autores estreando sem a devida bagagem, com livros que, amadurecidos mais um pouco, teriam muito mais a oferecer em termos de qualidade literária?

RONALDO CAGIANO – Concordo plenamente quanto ao fato de que essa facilidade de acesso aos meios editoriais mais disponíveis (pequenas editoras, plataformas e suportes na internet, como blogs e revistas eletrônicas etc), ainda que possibilite a livre publicação, também impõe o risco do nivelamento por baixo, ao despejarem muitos títulos sofríveis, autores de duvidosa qualidade e obras sem a devida maturidade. Acabam por entupir o mercado, empurrados pelas águas da avidez, açodamento e desespero de escritores que pretendem publicar a qualquer custo e são seduzidos ou cooptados por algumas editores sem escrúpulos, empresas caça-níqueis que se aproveitam da g(r)ana dos incautos. Vale para isso um antigo aforismo popular: “Nem tudo que cai na rede é peixe”. Assim, entendo, ser preci(o)so também ter o discernimento necessário, tanto de editores quanto de leitores, para se separar o joio do trigo, pois as pequenas editoras sérias acabam sofrendo o estigma pela falta de critérios de outras tantas.

DA – Por outro lado, temos os escritores que se colocam num patamar superior, que só participam de coletâneas, eventos e demais expressões artísticas mediante pagamento. Embora renomado, com prêmios e publicações fora do país, você é muito ativo em colaborações em jornais, revistas, sites, além de participar e organizar antologias. O quanto considera essencial, para sua carreira, continuar desbravando novos territórios para sua literatura? E, desdobrando a pergunta, não acredita que, para um jovem autor, o melhor caminho não seria iniciar com colaborações para adquirir um pouco de “casca” e, enfim, publicar o primeiro livro?

RONALDO CAGIANO – Evidentemente, há certos escritores convertidos em sumidades, cuja literatura e nome alçam o patamar de uma grife, que impõem certas condições financeiras para suas participações (entrevistas, colaborações em jornais, seminários, palestras, feiras literárias, resenhas, orelhas, prefácios), gente que não sai de casa sem pagamento, sob o pálio da profissionalização de suas carreiras. Creio que o escritor exerce uma atividade que em nada difere de qualquer outra, portanto deve ser remunerado pelo que produz. No entanto, vivemos num país que, histórica e culturalmente, só acredita naquilo que culmina em produtividade material, aferível sob o ponto de vista da produtividade. Portanto, atividade intelectual e artística, sobretudo a literária, sempre foi vista com menoscabo e indigna de pagamento, porque alcança uma minoria, ainda mais que somos uma nação sem leitores e livro não faz parte da cesta básica. Muitas vezes somos forçados a nos prostituir para ter o mínimo de espaço, ao emprestar o talento e a força de trabalho mental e intelectual sem a devida contraprestação, pois, na maioria dos casos, jornais e revistas já não pagam mais pelas colaborações, assim também alguns convites para palestras em escolas e eventos menos suntuosos ou concorridos em que o autor não pode deixar de comparecer, sob pena de receber a pecha de esnobismo. Lembro-me de que, quando organizei três antologias (“Poetas Mineiros em Brasília”, “Antologia do conto brasiliense” e “Todas as gerações – conto brasiliense contemporâneo”) tive dificuldades em convencer dois ou três escritores para o projeto, porque exigiram remuneração e direitos autorais, o que não acho de todo ilegítimo, não obstante a realidade em que vivemos. Ainda que eu ponderasse que as edições não tinham cunho comercial, mas funcionariam como registro da produção poética e ficcional brasiliense, e o organizador não receberia nada por isso, tendo cada autor, na edição de 1.000 exemplares de cada, a uma quota de 10 livros, mesmo assim esses não aceitaram participar. Entendo que nem sempre devemos atuar de graça, porque em muitos casos há instâncias e organizações que podem e devem remunerar pelo trabalho produzido. Nos países desenvolvidos, a atividade de escritor é devidamente valorizada e qualquer atividade não prescinde do devido pagamento, até mesmo uma modesta aparição com foto numa matéria de jornal é motivo suficiente para pagamento. Enquanto não atingirmos esse estágio ou consciência do valor e a necessidade de se dar a justa contraprestação financeira ao trabalhador literário, é necessário tentar harmonizar os interesses, não fugindo à raia quando determinados espaços nos solicitam ou convocam, justificada a impossibilidade, pela própria precariedade desses meios, de pagamento ao autor, até porque já são tão exíguos os espaços e muitas vezes são estes que nos oferecem alguma janela ou visibilidade, abrindo possibilidades para circulação de textos, poemas, artigos, resenhas, crítica etc, o que, de certa forma, credencia o autor, sobretudo em início de carreira.

DA – Por falar em resenha, um outro ofício que você se firmou como um dos mais respeitados do país é o de crítico literário. Eu, inclusive, já tive a alegria de ter a sua precisa análise de um dos meus livros. Hoje temos centenas de blogs, sites e os chamados booktubers que, de maneira geral, enquadram suas impressões literárias entre o gosto pessoal e a superfície analítica. Como é, para você, atuar como leitor crítico? Como começou esse trabalho? Recorda-se da primeira resenha? Algum crítico o inspirou? Quais as ferramentas fundamentais para se escrever um boa resenha?

RONALDO CAGIANO – Primeiramente, não me considero crítico nem ensaísta, porque minha formação é em Direito (advoguei durante muitos anos, até 2002, paralelamente à minha vida de bancário) e não tenho formação acadêmica em Letras, muito menos, pós ou doutorado, portanto, careço do embasamento teórico-científico, não sou versado em linguística nem em teoria literária, como soi acontecer com os especialistas. Dessa forma, vejo-me exercendo essa atividade apenas de modo intuitivo, emulando minhas impressões mais como um colega de ofício e leitor apaixonado, que só escreve sobre os livros de que gosta, pois não tenho predisposição para a crítica iconoclasta, hepática e demolidora, porque entendo que um livro ruim não merece atenção e ele sucumbirá pelo próprio demérito no desgosto dos leitores ou mesmo da crítica. No máximo, quando percebo que a obra mereça qualquer amparo ou reparo crítico, se tenho alguma intimidade com o escritor, procuro abordá-lo e comentar pontos que parecem relevantes no sentido de dar toques, pistas ou oferecer sugestões ou indicar parâmetros (principalmente leituras) para qualificar melhor seu trabalho. Seria uma crítica pessoal e sincera, sem o espírito desmantelador que uma crítica pública desencadearia, pois entendo que ela poderia abortar uma carreira ou desestimular um escritor ainda em gestação.  Essa necessidade de expressar-me à margem das leituras ao longo da vida surgiu ainda na adolescência, quando comecei a escrever os primeiros textos para um jornal dominical de Cataguases, atividade que foi crescendo ao mudar-me para Brasília, quando tomei contato com a obra de críticos antigos e contemporâneos, cujo mergulho estético, filosófico, exegético, hermenêutico e ensaístico me despertou interesse, principalmente pela forma como incursionavam seus olhares nos diversos meandros de uma construção literária. Entre essas primícias, cito José Guilherme Merquior, Álvaro Lins, Antonio Olinto, Otto Maria Carpeaux, Alceu Amoroso Lima, Antonio Houaiss, Afrânio Coutinho, Antonio Candido, Wilson Martins, Aurélio Buarque de Holanda, Benedito Nunes, Luiz Costa Lima, Antonio Carlos Secchin, exemplos marcantes de críticos literários, independente de suas vinculações ideológicas, mas pela lucidez e coerência de suas postulações. Minhas primeiras opiniões sobre livros recaíram sobre autores do círculo literário de Brasília, quando comecei a publicar no Correio Braziliense, Jornal de Brasília, Revista Literatura, Jornal da ANE e DF Letras, depois ampliando minha participação em outros veículos regionais e nacionais, como o Opção e o Diário da Manhã (Goiânia), O Dia (Teresina), O Estado (Florianópolis), Correio das Artes (PB), Estado de Minas, Hoje em Dia e O Tempo (BH), Jornal da Tarde e O Estado de S. Paulo (SP), Jornal do Brasil e O Globo (RJ), Guia de Livros da Folha, Rascunho, dentre outros, além de incursionar por alguns blogs com frequência, atividade que se viu reduzida há alguns meses, por absoluta falta de tempo. Para mim é uma atividade esteticamente prazerosa, porque além de me proporcionar o contato com novos autores de diversas regiões do país, com inegáveis surpresas, ajuda-me a penetrar no insondável do processo criativo individual e na gênese de cada obra. Para mim, o resenhista tem o dever de ir fundo, ser sincero, fazer crítica não como caridade, não apenas homologatória, para agradar a quem quer que seja, mas com o dever de apontar no trabalho sua qualidade, sem ceder às paixões pessoais ou amizades, mas sempre com uma inflexão dialética, de modo que tenha uma ampla visão da obra e não da vida do autor, permitindo-lhe um percurso capaz de penetrar as filigranas e retirar os palimpsestos de uma arte que está sob seu olhar e bisturi, como se fosse um cirurgião a penetrar as vísceras de um corpo com suas engrenagens e fluxos, como considero ser um texto de ficção ou de poesia. Sempre tive em conta uma lição de Graciliano (que recolhi de uma entrevista sua de 1948) quando vou analisar um livro e tentar perceber se o autor andou nessas águas ou bebeu nessas fontes: “Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.”

Ronaldo Cagiano

Ronaldo Cagiano / Foto: arquivo pessoal

DA – Seguindo, então, com as palavras do Graciliano, como analisa o que é “dito” pelos novos autores? Escapando do saudosismo, percebe uma geração detentora de uma literatura inferior a de outros tempos, ou uma apenas distinta, que se comunica com outros meios e, por conseguinte, constitui uma tendência em evolução?

RONALDO CAGIANO – Em termos comparativos, é inegável a profusão de autores e obras atualmente em relação ao que se produzia antigamente, razão pela qual em meio a uma variedade de títulos, a prevalência de literatura ruim é também bem maior, na mesma proporção em que há bons autores em todos os gêneros. Esse fenômeno vem a reboque das facilidades para veiculação de material literário não apenas nos meios tradicionais (livros, revistas, jornais, suplementos), mas também nas plataformas e suportes eletrônicos. Estes, particularmente, exercem um papel preponderante na disseminação desse acervo de criação ficcional e poética que a cada minuto a internet disponibiliza, democratizando o acesso tanto de quem escreve quanto a quem lê.  Acredito que a literatura, como qualquer arte ou ofício, sofre suas metamorfoses, seguindo a ordem natural do próprio processo evolutivo, humano e social, como dos meios que os legitimam. Assim como o mundo mudou, a tecnologia e as facilidades da comunicação trouxeram inexoravelmente suas vantagens em todos os campos, assim também a escritura deu seus saltos (éticos, estéticos, dialéticos) e essa transformação se dá primordialmente pela linguagem, que considero a instância em que essas mudanças se operam e são assimiladas com mais vigor. O leitor e o escritor de hoje não são os mesmos dos tempos de Bilac, Alencar, Machado, Graciliano ou Rosa, nem por isso uma e outra geração se anulam. Antes, se comunicam de forma sinergética.  Hoje, outros são os influxos, referenciais estéticos e culturais. Outras também são as influências do meio, da cultura de massas, da dita civilização movida pela informatização, uma realidade permeabilizada por trocas intensas e profundas, não só internamente como com outras culturas e realidades, e tudo sob o império da velocidade e do rápido escalonamento de valores. A língua e a literatura caminharam nas águas dessa corrente, impregnando a dicção dos novos autores, os quais foram apreendendo novos cenários, realidades, emulações e influências não apenas físicas e geográficas, mas também psicológicas e históricas. Isso é tangível e aferido nos aspectos formais e temáticos de cada autor contemporâneo, cuja literatura é irrigada por novos sentimentos e sentidos, sem, contudo, perder o liame com o passado remoto ou mais recente da nossa história bibliográfica. O mundo e as pessoas que escreviam, liam e se comunicavam na era do telégrafo não são os mesmos que escrevem, leem e se comunicam on time e online, com outros recursos e possibilidades de expressão. E literatura é fruto desses novos tempos, autores e obras antenados com essa emergência inexorável.  Então, não se trata de mensurar ou menoscabar o que se produz hoje em relação aos cânones ou mestres do passado. O mundo que a obra de um autor moldura e modula hoje não é diferente daquele, porém as sensações e olhares diferem no modo de perceber e deslindar questões, conflitos, dramas e situações, sob a perspectiva de uma linguagem que é especular dessa contemporaneidade exigente e avassaladora, atualizando a dicção com que aquela geração distante – com os recursos e limitações da época – dispunha para falar e incursionar pelos universos e atmosferas distintos, o que torna defeso impor a pecha de anacronismo ou supremacia de uma época sobre a outra.

DA – Outro aspecto marcante de sua carreira são as parcerias. Em 2012, por exemplo, você lançou a novela “Moenda de silêncios”, em parceria com Whisner Fraga. Uma outra parceria de longa data é com a escritora Eltânia André, com quem é casado. Como funciona esse relacionamento, que é margeado pela literatura? Vocês compartilham ideias, sugestões e leituras? Há a influência de um no processo criativo do outro?

RONALDO CAGIANO – Foram experiências partilhadas com outros escritores numa interessante simbiose, um exercício de escrita colaborativa, de coautoria ou de obra a quatro mãos. E o primeiro convite surgiu no final dos anos 1990, quando o amigo e escritor alagoano (radicado em Brasília) Joilson Portocalvo, que na época realizava oficinas literárias no Presídio da Papuda, propôs o desafio para que escrevêssemos um livro juntos. Então, nasceu a novela juvenil “Espelho, espelho meu”, projeto encampado e publicado pela Editora Thesaurus, em que tratamos de temas ligados aos conflitos da adolescência, mapeando as tensões dentro de uma família de classe média com a abordagem de situações relacionadas ao relacionamento pais-filhos, ao sexo, à gravidez precoce, drogas etc, numa linguagem que postulasse uma discussão, sem caricaturas ou dissimulações, desses conflitos tão comuns na realidade familiar. Depois, outro convite do escritor Whisner Fraga, que culminou na novela juvenil “Moenda de silêncios” (contemplada com o prêmio de publicação do ProAC/Secretaria de Cultura do Estado de SP), que faz um percurso em outra vertente,  tratando dos encontros e desencantos, dos sonhos e frustrações de dois jovens do interior mineiro perdidos no cipoal de suas expectativas e nas engrenagens da cidade grande, para onde foram em busca de um futuro ou de um sentido para suas vidas, obra que recolheu um pouco dos vestígios de nossas experiências em Cataguases e Ituiutaba. E a mais recente incursão pela escrita conjunta é o romance “Diolindas”, escrito com Eltânia André, minha esposa, obra que estava hibernada há uns seis anos, porém sairá do anonimato em breve, quando será publicada pela Editora Penalux, história que mergulha na vida e revezes e litígios de uma família. Nesse particular, tem sido proveitosa, instigante e complementar à vida afetiva a relação literária do casal, não apenas gerando o fruto de um livro, mas em razão da peculiar e mútua cumplicidade, sintonia e empatia no campo da criação, pois dividimos e comunicamos nossos espaços, nosso modus operandi, idiossincrasias, inquietações e outros aspectos ligados ao ato de “escreviver”. E, não obstante as diferenças de estilo e linguagem, as motivações e interesses distintos, há um canal permanente, um fluxo intenso entre nossos processos e experiências passadas e recentes, tanto da própria escritura individual quanto relativamente ao histórico de leituras, de modo que um torna-se, naturalmente, leitor crítico do outro (e de si) e esse trânsito tem sido extremamente profícuo ao nosso amadurecimento como seres e como autores. De certa forma, a intensidade dessa participação ativa de um na vida do outro, nos afetos e na criação, tem contribuído para uma influência que valoriza e estimula o que vimos construindo.

DA – Uma notícia fantástica essa do novo livro! Contudo, essa não é a primeira parceria de vocês. Em seu recente romance, o formidável ‘Para fugir dos vivos’, Eltânia se apropria de experiências vividas para criar uma ficção particular, não?

RONALDO CAGIANO – Trata-se de um livro de ficção em que Eltânia  recolheu apenas alguns detalhes de nossas experiências pessoais, para esboçar o perfil dos personagens, no entanto a história é outra, não a que vivemos. Fomos criados na mesma rua e durante nossa infância compartilhamos amizade, histórias comuns e relações familiares. Nesse sentido a sua ficção se apropriou de características físicas, de pessoas e ambientes comuns à nossa convivência, para a construção de personagens híbridos, porém, nem a trama nem os protagonistas são recriação de episódios vividos ou acontecimentos presenciados, mas uma realidade inventada a partir de flashes ou flagrantes de realidades distintas, enfim, a autora, na minha ótica de primeiro leitor de seus textos, teve autonomia para juntar os cacos de experiências de terceiros e esboçar um outro painel puramente ficcional. Portanto, não houve, de minha parte, qualquer participação ou intromissão nesse processo criativo, apenas um ou outro detalhe sobre alguma circunstância histórica ou social que nos eram comuns e que pude aclarar.

DA – Agora o personagem real, o menino que se descobriu poeta em Cataguases e atuou, com afinco, em prol da literatura e da própria literatura, qual o saldo que faz da carreira? A literatura lhe proporcionou mais alegrias ou decepções? Atribuindo a você uma das frases mais emblemáticas do novo livro, conseguiu sair de Cataguases para não ficar menor que ela?

RONALDO CAGIANO – Num rápido encontro de contas, o saldo é positivo, no que eu considero literatura para mim não como profissão, mas empenho que se recicla a cada dia, como tentativa de me comunicar, expressar-me diante dos dilemas e inquietações pessoais e coletivos, de vencer o tempo para exorcizar fantasmas ou enganar a morte. E tentar compreender o nosso (des)lugar nesse mundo. Vivo para a literatura – para um ler e “escreviver” em constante renovação – e não da literatura, porque é impossível sobreviver material ou financeiramente tendo-a como atividade principal, sobretudo num país sem leitores, em que o escritor precisa da segurança, da estabilidade e do conforto de uma profissão para ordenar a vida prática, em que essa atividade tão estigmatizada sofre menoscabo e nos faz sentir que o escritor parece mover-se num grande camelódromo, tendo que ser mascate da própria obra. Então, nesse balanço, posso dizer que a literatura deu-me alegrias e encontros. A vida, o sistema e o convívio literários, incontáveis decepções e frustrações. Mas, como literatura não é agitação nem o falso verniz das flips e quejandos, dos holofotes e das re(l)ações oportunistas tão comuns a esse  meio viciado e viciante; nem a busca obsessiva e arrivista das vitrines e da figuração, o que me interessa é o texto e não o contexto, por isso não crio expectativas nem sofro. O que tiver de ser será, fruto da própria peneira do tempo, dos leitores e da crítica honesta. Tomo emprestado de Northrop Frye para amalgamar o que penso sobre o papel da escritura em minha vida: “A literatura continua sendo o único lugar onde se pode ser livre”, reconhecendo, ainda, outro papel fundamental, pois, segundo Borges, “A literatura é revanche de ordem mental contra o caos do mundo”.  E foi ela que me antecipou que existir era bem maior e sempre um movimento contínuo de transformações, permitindo-me sair do isolamento, do provincianismo, da mediocridade e da alienação parasitária que nos afetam na vida interiorana, para que não fiquemos menores que ela.

Sérgio Tavares nasceu em 1978. É autor de “Queda da própria altura”, finalista do 2º Prêmio Brasília de Literatura, e “Cavala”, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura. Alguns de seus contos foram traduzidos para o inglês, o italiano, o japonês e o espanhol. Participa da edição seis da Machado de Assis Magazine, lançada no Salão do Livro de Paris.

Clique para imprimir.

2 Comentários

  1. Obrigado Sérgio Tavares e Ronaldo Cagiano por essa entrevista tão rica, esclarecedora e sincera. É tanto conteúdo, que não podemos ficar em uma única leitura. É para se ler e reler.Parabéns.

  2. Na condição de amigo e conterrâneo de Ronaldo Cagiano, sempre me considerei um tanto quanto suspeito em analisar ou emitir algum conceito sobre a obra dele. Explico : tive a sorte de ter lido um de seus primeiros livros editados e nossa amizade cresceu à sombra da sequência vitoriosa de sua carreira de escritor. O tempo me confirmou o que, de imediato, eu vislumbrei
    naquele jovem : um escritor talentoso e profundo , predestinado às alturas dos mestres da Literatura. Que o diga Sérgio Tavares, nesta entrevista genial, que não posso deixar de enaltecer, como a melhor entrevista que eu li, nesses tempos de tamanha mediocridade cultural.
    Parabéns, Sérgio e Ronaldo . Abraço-os com alegria retemperada, por me terem oportunizado leitura tão maravilhosamente degustável e apreendida.

Comente

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *