Pequena Sabatina ao Artista

Por Sérgio Tavares

 

John Lennon não teve a mesma sorte que Tadeu Sarmento. Em 8 de dezembro de 1980, o ex-Beatle caminhava pelas ruas de Nova Iorque, quando foi abordado por Mark Chapman, um sujeito gordo, de óculos de lentes grandes e cabelo escorrido, que lhe pediu um autógrafo. Horas depois, Lennon retornava ao hotel onde estava hospedado, e Chapman novamente o aguardava, desta vez armado de uma pistola. Alegando ouvir vozes que lhe mandavam matar, o suposto fã disparou contra o músico inglês, atingindo-o fatalmente quatro vezes nas costas.

Sarmento conheceu Chapman, quando trabalhava numa empresa de Call Center, em Recife. Mas as vozes que este ouvia eram as dos telefonemas dos clientes. Com o tempo, nasceu entre eles uma amizade, contudo persistia em Sarmento a sensação de que já conhecia o colega de trabalho de outro lugar. Certa noite, então, veio a revelação: o amigo era o assassino de John Lennon. Não o legítimo, que estava preso fazia décadas, mas um sósia anônimo de Chapman chamado Gabriel Dourado, que sequer sabia quem era o ex-Beatle.

O inusitado da descoberta foi o ponto de partida para o romance “Associação Robert Walser para sósias anônimos”, que venceu o Prêmio Pernambuco de Literatura de 2014. Com tom farsesco e técnica impecável, o autor recifense amalgama registros históricos e referências literárias a uma inventividade burlesca, para estruturar a trama sob duas linhas narrativas que versam sobre a figura do duplo, sendo a primeira a tal associação de sósias cujo desejo é se anularem à imagem de seus originais, num arremedo de seu patrono, o obscuro escritor suíço do título, que escolheu viver seus últimos dias no anonimato.

A outra metade da história se passa numa cidadezinha fictícia, localizada no Paraguai, adotada por fugitivos nazistas como refúgio, em especial pelo país estar sob o punho de um regime ditatorial. Ali, os habitantes, à maneira do comportamento de um rebanho, seguem os imperativos de Immanuel Kant, reprisando os hábitos do filósofo prussiano, inclusive aqueles que dizem respeito à sua vida sexual. Nesse jogo de duplas identidades, o romance rompe sua casca de surrealismo e, por meio de reflexos dos tempos modernos, toca em temas que se referem à apropriação do outro de modo a lograr a relação com o próprio mundo.

Este, de fato, é um dos assuntos recorrentes dessa sabatina: o modo pelo qual a internet, sobretudo com o ingresso das redes sociais, possibilitou a descaracterização do indivíduo em peças de um modo de proceder coletivo, de máscaras que cobrem máscaras numa postura que se tornou aceitável e, por que não?, padrão. Sarmento percebe a literatura neste mesmo contexto, apontando os novos rumos do mercado editorial, com a disseminação das pequenas editoras e dos novos autores, e ainda falando sobre as buscas de seu processo criativo, do novo livro que está por sair, da influência dos autores hispano-americanos e da poesia em sua ficção, da literatura feminina e da importância de ter conquistado um prêmio literário. Uma conversa que revela um escritor maduro, prolífero, atento à qualidade de sua escrita na mesma proporção que preocupado com o leitor. “Não quero me fechar em um mundo particular e escrever histórias ininteligíveis para a adoração de um seleto grupo de jacarés empalhados”, declara.

Tadeu Sarmento

Tadeu Sarmento / Foto: arquivo pessoal

 

DA – Seu romance, “Associação Robert Walser de sósias anônimos”, trata de uma maneira distinta do que se costuma abordar a figura do duplo na literatura universal. Seus personagens não carregam em si a ânsia de substituir (ou exterminar) seus originais, porém introjetam essa condição como uma forma de se apagarem, uma espécie de suicídio em vida. Isso acaba por trazer à memória “O mito de Sísifo”, em que Albert Camus argumenta que “só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio”. Diante dessa afirmação, você acredita que, no mundo ultramoderno e expositivo, desejar intensamente ser o outro, negar de modo integral a própria identidade, é uma decisão que está mais ligada à patologia ou à filosofia?

TADEU SARMENTO – Está ligada às duas. Aliás, depois que Nietzsche nos revelou que sistemas de conhecimento dependem mais das paixões dos filósofos do que gostaríamos que dependessem, não podemos mais separá-las. Estou pegando a raiz etimológica do substantivo “patologia”, que segundo a Wikipédia (risos) vem de pathos, paixão. É nesse sentido que faço minhas as palavras do narrador do “Associação…”: “a paixão de querer ser outra pessoa só não é maior que a de esquecer quem você é”. Essa é a tese central do romance, que você coloca muito bem na pergunta. Em tempos de redes sociais, esse desejo de apagar (ou esconder) a si mesmo para construir um outro que você não é, tomou proporções de um surto psicótico sem precedentes. Não é à toa que muitos leitores hoje em dia gostem tanto da chamada “autoficção”. É que todos fazem “autoficção” diariamente em suas timelines. Cada um faz da própria vida uma ficção fantasiosa, colocando os demais como coadjuvantes da grande novela do seu EU fantasioso. Posso citar um exemplo prático, da data corrente (a entrevista foi realizada no fim de agosto): quando o golpe contra a presidente Dilma ainda não havia sido consolidado, vi muitos amigos afirmarem em rede que pegariam em armas caso acontecesse, que usariam de violência, e isso e aquilo. Agora que o golpe se consolidou, o discurso já se deslocou para um viés mais brando, de elogio às qualidades da presidente e da afirmação de que “a história fará justiça”, etc. Quer dizer: muda-se o roteiro, mas não se larga o personagem. É patético, é triste, é risível, mas é profundamente… humano. Por isso é tão bonito. A humanidade é constituída menos de grandezas e bem mais dessas pequenas baixezas mesmo. Não somos grande merda e ter consciência disso torna a vida mais suportável.

DA – Aí está um dos subtextos a que se ocupa o livro: a possibilidade de ser outro através do ingresso nas redes sociais. Mais que uma fuga, essa pode ser uma condição de anestesia, de mentir para si que há um meio (ou meios) de se esquivar dos problemas reais, da vida que existe no espaço-tempo até o acesso ao smartphone ou ao computador. Não caminhamos, desse modo, muito mais para ser um sósia de nós mesmos que de um outro a quem se guarda admiração?

TADEU SARMENTO – Faz sentido. Acredito que a premissa secreta que move os sósias que frequentam a Associação Robert Walser é a ideia de que ninguém escolhe seu modelo de admiração por acaso. Isso Hussein talvez tenha percebido antes de nós, o que fica claro durante aquele exercício em que ele manda os sósias escreverem o próprio nome na borda das meias. Talvez sejamos incapazes de nos apagar por completo, por isso escolhemos modelos que guardem alguma identificação conosco. Modelos através dos quais possamos trazer à luz aquilo que temos de mais guardado. Nesse sentido, ser um sósia de si mesmo ou de um outro termina dando na mesma. O sósia do Chapman é tão retraído e paranóico quanto o Chapman original. Ele apenas encontrou um palco sobre o qual atuar. Podemos dizer que esse nosso palco é a rede social. “Você não pode fugir de sua própria sombra”, diz Jack London na epígrafe do livro. Sou tão fascinado com essa questão da teatralidade nas redes sociais que depois do “Associação…” escrevi outro romance mais específico sobre o assunto. Não posso dar detalhes porque o livro está em análise em um prêmio por aí. Mas em breve teremos notícias dele. Boas notícias, espero.

DA – O curioso é que, diante dessa sensação reinante de absurdo, o romance abre uma segunda linha temporal, na qual um outro grupo de sósias, ocupando uma cidade tropical onde também se refugiam nazistas, seguem monasticamente os preceitos filosóficos de Immanuel Kant. Como a razão consegue se estabelecer nesse universo frequentado justamente pela falta de lógica? E mais, é possível existir sósias de Kant nos dias de hoje?

TADEU SARMENTO – Essa segunda linha temporal é interessante. Ela não existia na primeira versão do “Associação…”. Tive a ideia de incluí-la depois de me lembrar desse obscuro livro que li na época da faculdade de filosofia. “A vida sexual de Immanuel Kant”, de Frederic Pàges, existe. O livro trata dessa colônia de kantianos e na época do seu lançamento causou um escândalo moderado, relativo a questões de autoria. Resolvi colocá-lo no livro, em uma espécie de exercício metaliterário no estilo Vila-Matas, depois que percebi que para por em xeque a questão da identidade, precisava colocar também em xeque a questão da autoria. A pergunta que o escândalo Pàges/Botul suscitou foi a seguinte: até que ponto um texto perde sua validade quando se descobre que seu autor é também uma invenção ficcional? Pois foi essa a acusação que fizeram a Pàges na época, a de ele ter inventado o filósofo Jean-Baptiste Botul. A partir daí, alguns jornais tentaram desmerecer a obra. Só que essa tentativa de desmerecimento ocorreu, em parte, do fato de Pàges ter enganado muitos com a brincadeira. Isso está bem tratado no “Associação…” e a ligação dessa história com a história da associação de sósias é tão orgânica quanto contrapontual. A ideia dos criminosos nazistas veio depois. Não tem nada a ver com o livro de Pàges. Quanto à pergunta em si, creio que a razão consegue se estabelecer bem em um universo, como você disse, frequentado justamente pela falta de lógica, uma vez que o que consideramos “ilógico” é na verdade um outro tipo de lógica ainda não desvendada. Hoje em dia não só é possível haver sósias de Kant como eles existem de fato. Somos todos nós. O homem moderno, que assassinou Deus para colocar em seu altar vazio a própria consciência como único tribunal e único juiz, é uma invenção kantiana. Somos todos sósias de Kant.

DA – Falando em Deus, recordo-me de ter lido que seu próximo romance, que sai em breve pela Confraria do Vento, chama-se justamente “E se Deus for um de nós?”. Não sei a que ponto pode adiantar a trama, mas há também o uso dessa carga filosófica para expor e problematizar comportamentos e valores sociais modernos, a exemplo do que foi feito em “Associação…”?

TADEU SARMENTO – O “E se Deus for um de nós?” é um romance sobre um assassino em série de ruivas virgens que se envolve com uma irlandesa que muitos acreditam ser uma espécie de Joana D’Arc do IRA. Escrevi o “Associação…” em 2013. De lá para cá, escrevi mais três romances, um deles é o “E se Deus for um de nós?”. Os outros dois estão submetidos a prêmios literários de inéditos. Todos os três que vieram depois diferem em tudo do “Associação…”. Gosto bastante do “Associação…”, mas não pretendo ser um escritor para pares, críticos literários e afins. Quero chegar ao leitor comum (leia-se: leitores não especialistas), enquanto eles existirem. De modo que a resposta é não. Meu romance que sai esse ano pela Confraria é enxuto de referências nem tem jogos filosóficos ou literários metalinguísticos. Seu grande trunfo é o enredo, e a maneira como consegui que esse enredo fluísse bem até o final. Mas continuo com o mesmo senso de humor. E os personagens que surgem com a trama são impagáveis, mas absolutamente verossímeis: operadores de Call Center com distúrbios nervosos, gays homofóbicos, policiais canastrões, adeptos de seitas religiosas malucas, metaleiros nazistas, surfistas com pernas amputadas, traficantes de filmes pornôs ilegais, virgens sodomitas, etc. É também um dos livros mais politicamente incorretos que eu já li (risos). Terei sorte se não for preso depois de lançá-lo. Do jeito que as coisas andam…

DA – Mas já há no “Associação…” a ocorrência desse humor cáustico, de uma ironia cortante que, em certos momentos, pode ser gatilho para o desagrado dos mais obtusos, dos patrulheiros mal-humorados ou mal-intencionados. Pela sua resposta anterior, parece-me que isso não lhe tira o sono nem um pouco. Sendo assim, sua intenção, enquanto escritor, é provocar o leitor, testar sempre seus limites? O politicamente correto é mais um estímulo que uma trava ou, menos ainda, uma constante aporrinhação?

TADEU SARMENTO – Não apenas minha intenção, mas acredito que o que caracteriza a boa literatura é justamente sua capacidade de colocar o leitor em contato com sentimentos e pontos de vistas conflitantes ao seu, e não apenas conflitantes, mas em alguns casos até indigestos. O politicamente correto não deve ser empecilho para escritor nenhum. Muitas vezes é tarefa do escritor dizer como a realidade é, e não como ele, enquanto cidadão, gostaria que fosse. Se num romance há um personagem misógino, homofóbico, racista, etc., como construí-lo sem lançar mão de passagens misóginas, homofóbicas ou racistas? Tudo depende se tais passagens funcionam e/ou são essenciais à narrativa. Note que esta é uma pergunta técnica, não moral. Uma literatura que responda a perguntas morais deixa de ser literatura e vira panfleto de igreja. E caso essas passagens sejam necessárias, o escritor deve estar preparado para negociá-las diante de um possível linchamento público. Claro que, como você coloca muito bem na pergunta, sempre haverá algum mal-intencionado pronto a retirar uma citação de contexto para pilhar um escritor nas redes sociais. É que depois que a fogueira está acesa, qualquer um arruma motivos para levar seu graveto seco para alimentar as chamas. Mas é só isso o que eles têm: um graveto seco. A rede social é como Deus: deu voz a muitas jumentas de Balaão.

DA – Voltando ao romance, uma outra leitura que pode ser feita é a respeito da própria literatura contemporânea. Você parece lançar mão de inúmeras referências literárias como uma maneira de trazer à luz a literatura que é feita e consumida hoje em dia, como se nós, novos autores, fôssemos uma cópia mal-acabada do que nos precedeu. Acredita que os escritores de hoje são sósias que estão longe de respeitar o legado de seus originais?

TADEU SARMENTO – Bem, quem usou a expressão “cópia mal-acabada” foi você (risos). Mas acredito que todo escritor, no início, comece sempre como um sósia, no sentido de escolher um modelo (um “original”) para copiar e dar os primeiros passos na escrita. A fase seguinte é a da negação dessa influência, em um esforço de tentar criar um estilo de escrita. Isso é muito natural, e tem mais a ver com o “desrespeito” do legado da tradição que elegeu como sua, que com o “respeito” (como você colocou na pergunta). Todo escritor passa por esse “assassinato simbólico” do pai, numa tentativa de adquirir autonomia como autor. No fundo, o estilo de um escritor vem a reboque, e depois de muitos anos de escrita. Nasce do exercício diário, da fraude bem ensaiada sobre a soma do estilo de tantos escritores que leu. Só que há também o risco de isso nunca acontecer, de o escritor nunca criar um estilo, e não há problema algum nisso. Temos ótimos escritores que nunca desenvolveram um estilo, mas que executam bem suas ideias e conseguem compor um romance que vale a pena ser lido. Falo de romances porque é a minha praia, mas isso serve para poetas ou contistas também (acho). O “E se Deus for um de nós?” é a minha tentativa de superar, por exemplo, a influência de Roberto Bolaño e de Enrique Vila-Matas na minha escrita e criar um estilo. Terei conseguido? Bem, isso cabe ao leitor dizer. O adjetivo deve sempre partir da boca do outro. Elogiar a si mesmo é falta de decoro.

DA – Você citou um chileno e um espanhol, mas, durante a leitura do “Associação…”, senti uma frequência constante da literatura argentina em sua ficção. Autores como Antonio di Benedetto, Mario Levrero e J. Rodolfo Wilcock (sobretudo nas biografias que ocupam o fim) parecem lhe emprestar traços de seus estilos, de seus teores narrativos, de suas predileções temáticas. De maneira geral, a literatura hispano-americana é uma forte referência para você, enquanto autor e também enquanto leitor? E qual é a sedução dos hermanos, que a literatura brasileira não tem?

TADEU SARMENTO – Minhas referências são sazonais. Já tive meu “ano Bolaño”, onde li tudo o que saiu do escritor chileno pela Companhia das Letras. Tentei acompanhar com frequência a coleção Otra Língua, que saiu pela Rocco e foi capitaneada pelo mestre Joca Reiners Terron. A principal sedução da literatura argentina, para mim, é essa desenvoltura que tem em passear pelos gêneros (alguns ditos “menores”, como o romance policial) e sua capacidade para digerir a própria tradição literária. Nossa literatura ainda é um pouco conservadora nesse sentido e está mais ligada a certa tradição realista. Claro, falo de um modo geral, excetuando-se o próprio Terron, Karam, Nelson Oliveira, Rosário Fusco, Campos de Carvalho, Daniel Pellizzari e tantos outros. Mas sobre as biografias inventadas, o pai de todos nós é o francês Marcel Schwob, autor do genial “Vidas imaginárias”. O Wilcock e o Benedetto que você cita, por exemplo, eu ainda não li. O fato de você perceber traços deles no “Associação…” só prova que bebemos na mesma fonte, que é a fonte ocidental da literatura de invenção.

Tadeu Sarmento

Tadeu Sarmento / Foto: arquivo pessoal

DA – Fonte, aliás, com a qual o “Associação…” inunda suas páginas. Faz tempo que não leio um romance que prioriza, mais que o estilo ou a linguagem, sua potência inventiva. De onde nasceu a inusitada (e fantástica) ideia sobre essa associação de sósias? Como foi o processo de composição do livro? Chegou a recorrer a algum trabalho de pesquisa?

TADEU SARMENTO – Fico feliz que tenha gostado, mas apesar de ser um romance inventivo, como você bem colocou, o gatilho para sua ideia partiu de um acontecimento prosaico: em 2012, eu trabalhava como supervisor em uma empresa de Call Center e conheci um colega de trabalho (Gabriel Dourado, que depois se tornou um grande amigo) que é um sósia anônimo do Mark Chapman. O romance, aliás, é dedicado a ele. Quando o vi pela primeira vez, fiquei intrigado, com aquela impressão que temos quando conhecemos alguém que nos lembra outra pessoa, sem que saibamos qual. Fiquei uns bons dias assim, até que certa noite acordei assustado e gritei: “Meu Deus, Gabriel Dourado é o assassino de John Lennon”(risos). Tive que alertá-lo, sobretudo porque ele andava querendo passar férias nos EUA e precisei dissuadi-lo da ideia, alegando que poderia ter problemas por lá, caso cruzasse com algum beatlemaníaco que, ao vê-lo, poderia acreditar que Chapman houvesse saído da cadeia. Esse foi o pontapé inicial para a ideia do romance. Quanto à associação de sósias, em 2010, tive uma crise de depressão que me levou a passar sete dias em uma clínica para doidinhos moderados. Depois que saí, fiz tratamento por um ano e estou bem desde então. O fato é que tanto na clínica quanto na terapia fora dela, participei de grupos de autoajuda para pessoas na mesma condição em que eu estava. Todas as reuniões da Associação Robert Walser são baseadas nessas reuniões. O próprio prédio da Associação, descrito no romance, lembra muito o prédio da clínica. O bacana foi que, apesar de estar sofrendo na época, consegui enxergar algo de muito cômico e de muito teatral naqueles encontros. Essa marca d’água humorística sobre um desespero terrível perpassa todo o meu romance. Basicamente foi essa minha pesquisa.

DA – O resultado foi a conquista do Prêmio Pernambuco de Literatura, em 2015. Na ocasião, você já tinha dois livros lançados, portanto como esse prêmio refletiu na sua carreira literária? Há uma ideia de que uma distinção literária de repercussão nacional, quando não envolve uma boa recompensa financeira, serve para projetar o autor para um público maior, para uma grande editora. Qual foi a sua experiência, nesse caso? Qual o valor real de um prêmio literário? 

TADEU SARMENTO – Refletiu no sentido de que tive oportunidades que não teria se não ganhasse o Prêmio. Conheci pessoas. Fui chamado para lugares. Costumo dizer que o II Prêmio Pernambuco de Literatura me salvou. Já havia disponibilizado 11 livros inéditos na internet e estava prestes a pendurar as chuteiras (leia-se: não querer mais publicar e seguir escrevendo para sempre no anonimato), mas o Prêmio Pernambuco mudou tudo isso. Ganhei um bom dinheiro também, com o qual pude comprar um computador de ponta e um software original do Word. Mas você sabe melhor do que eu, Sérgio, que essa glória dura pouco tempo. Logo vem a próxima edição do prêmio e somos esquecidos tão rápido quanto. O dinheiro acaba também. É assim que a coisa funciona e é bom que funcione assim, pois 99% do principal trabalho do escritor acontece no anonimato e na solidão. Algo que digo em favor do Prêmio Pernambuco de Literatura é que é um prêmio sério. Quando o ganhei, não conhecia ninguém no meio literário, estava enfurnado há quatro anos em uma empresa de Call Center, comendo o pão que o Diabo amassou, cagou e cuspiu em cima. Ganhei pelo texto mesmo, com uso de pseudônimo. Eu e mais meus três (hoje) amigos Helder Herik, Rômulo César e Wander Shirukaya (que levou o prêmio principal)… taí, acho que a amizade desses três caras foi a melhor coisa que o Prêmio me deu. Se for medir o valor real do Prêmio pela amizade deles, eu diria que é um valor inestimável.

DA – Pois é, isso é algo que eu desconhecia e realmente me impressionou: o fato de você ter publicado 11 livros na internet, num espaço de tempo tão curto. Tem autores consagrados que, durante toda a carreira literária, não chegaram a esse número. O que o levou a essa iniciativa: falta de oportunidade por parte das editoras, vontade de ter o controle de todo o processo, ímpeto? E hoje, olhando para trás, faria o mesmo? Não acha que, se tivesse um pouco de paciência, esse material poderia ser mais batalhado e, quem sabe, chegar ao papel, por um selo editorial?

TADEU SARMENTO – Na verdade, são livros incompletos ou mal finalizados, romances em sua maioria, cujas ideias não consegui levar adiante. Na época, pus lá a título de curiosidade mesmo, aproveitando o fato de que estava desencantado com tudo e duvidando até mesmo da minha capacidade de escrever. As únicas exceções foram o livro de contos “Breves Fraturas Portáteis” e o romance “Lautréamont Press”. Destes, eu gosto bastante. O primeiro chegou a ser publicado em 2004. O segundo perdeu merecidamente um Prêmio SESC para o grande André de Leones, cujo romance de estreia, “Hoje está um dia morto”, é infinitamente melhor conduzido que ele. Mas houve um livro que não disponibilizei, uma novela chamada “Matadouro”. Foi escrita na mesma época que os outros, mas é muito bem acabada. O argumento gira em torno de um homem que decide abrir um puteiro só com travestis para juntar grana e fazer uma operação de sexo na mulher que ele ama, que também é travesti. Esse está guardado. O fato é que não me arrependo. Hoje olho para eles e vejo exercícios de estilo que me trouxeram até onde estou. Todos foram escritos entre 1997 e 2007, mais ou menos. E vou te contar: tenho um ritmo de produção acelerado, além de muita disciplina para escrever e quase zero de vida social. Depois do “Associação…”, por exemplo, escrevi o “E se Deus for um de nós?” (que sai pela Confraria esse ano) e tenho mais sete livros inéditos (um romance longo e mais seis novelas de cem páginas, em média). A maioria está pendurada em algum prêmio literário. Não sofro dessa pressa para publicar. Tenho uma primeira leitora exigentíssima (a poeta Adriane Garcia) que supre em parte essa necessidade de comunicação que tenho, que todos os escritores têm, e que é o que nos leva a querer publicar depressa. Acho a pressa a inimiga não da perfeição, mas do escritor. A profusão de gráficas com CNPJ de editoras piora ainda mais a situação. Mas graças a Adriane, posso ficar meses, até mesmo anos, com um livro na gaveta. Enxugando e reescrevendo…

DA – Você está corretíssimo: a Adriane é uma grande escritora, vide a antologia poética “Só, com peixes”. Aliás, você também escreve poesia, mas logo falamos sobre isso. O que gostaria de destacar é o surgimento de uma nova geração de escritores nordestinos que, nos últimos anos, vem abocanhando um tanto de prêmios literários. Para se ter uma ideia, o último Prêmio São Paulo de Literatura teve as suas três categorias vencidas por autores nascidos no Nordeste. O mesmo tem ocorrido com o Prêmio Sesc de Literatura e outros mais. Natural de Recife, como observa esse momento? Há algo realmente de inovador ocorrendo na região? E, para além dos limites territoriais, nota que existe uma resistência dos chamados grandes grupos editoriais do eixo Rio-SP para com os autores nordestinos? 

TADEU SARMENTO – Pergunta difícil, não sei se tenho conhecimento nem segurança suficiente para responder. No meu ponto de vista não se pode mais medir a literatura por essa régua regionalista. De modo que à pergunta sobre se há algo de inovador acontecendo no nordeste em termos literários eu respondo pensando no Brasil como um todo. Há algo de inovador acontecendo com a literatura brasileira contemporânea? Resposta: sim. O quê? A participação das mulheres. O futuro da literatura é das mulheres. Não é à toa que em 2016 elas levaram a quase totalidade dos prêmios literários. E veja bem: não sou um homem feminista, isso não existe. Digo até que sou um machista na condicional. Para nós seria mais cômodo se elas quisessem permanecer na cozinha. Mas elas não quiseram; mérito delas, sorte nossa. O fato é que leitor nenhum aguenta mais o modelo clássico-masculino Bukowski: putinha, álcool, sexo, mimimi. Leitor nenhum aguenta mais a figura do outsider que passou fome e venceu como artista. Leitor nenhum se interessa mais pela vida sexual dos escritores. Isso é coisa de retardado mental, e o escritor que fugir desse modelo poderá dividir espaço com as mulheres. Escritoras como Betzaida Mata, Martha Batalha, Cinthia Kriemler, Carol Bensimon; poetas como Adriane Garcia, Carla Diacov, trazem experiências novas e visões de mundo diversas, até então pouco ou nunca tratadas literariamente. Saindo um pouco do Brasil, a mexicana Valeria Luiselli, por exemplo, com “Rostos na multidão” escreveu um grande romance sobre a difícil relação entre a maternidade e a vida de escritora. Um livro surpreendente. Que escritora fará o próximo? Tenho até um palpite, mas não quero estragar a surpresa. Quanto à outra pergunta, não acredito que exista essa resistência dos grandes grupos editoriais do eixo Rio-SP para com os autores nordestinos. Grandes grupos editoriais querem vender livros e lucrar. Duvido que se importem se seus autores são nordestinos, índios, marcianos ou sacis-pererês.

DA – O que achou de toda aquela polêmica envolvendo o termo “literatura feminina”?

TADEU SARMENTO – Uma bobagem. Voltamos às redes sociais: elas são lentes de aumento que, de um traque de massa, esperam gerar uma grande explosão. É uma espécie de histeria coletiva que se alimenta de polêmicas fabricadas. A sorte (ou má sorte, depende) é que essas discussões “infindáveis” raramente duram mais de vinte e quatro horas. Logo o enxame se agarra ao rabo de cometa de outra polêmica e segue seu caminho rumo ao inevitável nada. Isso que se chama “literatura feminina” não existe. Existe a Literatura. É válida a discussão de uma maior participação das escritoras em espaços públicos antes só ocupados por escritores? Claro que é. Mas para isso não precisamos criar mais um rótulo. Os que já têm já bastam.

DA – Queria voltar, então, a uma observação que você fez lá atrás. Quando colocou que “a profusão de gráficas com CNPJ de editoras piora ainda mais a situação”, você tocou num ponto que sempre trago para minhas discussões com autores e editores, que é a proliferação das oportunidades de publicação. Sei que tem um lado positivo, sobretudo para os autores que não conseguem acesso aos grandes selos, porém me preocupa o fato de termos uma leva de títulos de escritores ainda imaturos, que poderiam ter estreado de uma forma muito mais consistente e na hora certa. O que pensa sobre essas pequenas editoras que, de fato, são fábricas de publicações? Acredita que isso, a longo prazo, terá um efeito incisivo na qualidade da literatura brasileira?

TADEU SARMENTO – Tem uma frase do Kierkegaard que gosto muito: “Há uma impaciência que quer colher antes de semear; deixemos que a ironia a discipline”. As pequenas editoras têm um papel essencial: apostar em novos autores que, por N motivos, não teriam acesso aos grandes selos (como você os chamou). Apresentar esse autor ao mercado de leitores. Fazê-lo circular. Dar visibilidade à sua voz. A única coisa que está faltando, de um modo geral, às pequenas editoras é justamente a figura de um editor (ou editora) que freie essa impaciência supracitada e trabalhe as arestas do manuscrito junto com o escritor até que fique pronto. Precisa ser um editor ou editora comprometido com a Literatura; e que conheça a melhor maneira de fazer com que esse texto chegue aos seus leitores. É isso que está faltando. Editoras como Karla Melo (da Confraria do Vento), que trabalham nesse sentido, são uma raridade. Mas para se chegar nesse nível é preciso ter critérios de qualidade. É preciso ter disposição. Seriedade. Fazer livros não é só meter uma capa, colar as páginas e mandar imprimir. Existe todo um trabalho prévio. Esse trabalho prévio é o que distingue editores de donos de gráfica. Imprimir livros não tem nada a ver com Literatura. Construir um livro, sim. O bom editor ou editora é aquele que redescobre o texto do autor para ele mesmo. Mas não acredito que isso tenha efeito incisivo na qualidade da literatura brasileira de um modo geral. O que tem esse efeito incisivo (e negativo) é a péssima qualidade da educação do nosso país. Se nosso agonizante ex-governo de esquerda tivesse investido maciçamente em educação de base desde 2003, teríamos hoje a primeira geração de adolescentes bem formados. Em vez disso temos… bem, temos o que temos. “Mas a educação de base não é obrigação do governo federal”, dizem alguns. Isso é verdade, mas E DAÍ? Eu quero os CIEPs de Darcy Ribeiro implantados em todo o país. Não aceito nada menos que isso. Dinheiro temos. O que não temos é a educação como prioridade. Daí a fórmula é fácil: sem educação, sem leitores – e uma Bienal do Livro cuja principal atração são os youtubers. Então, diante da escassez de leitores, escritores e escritoras fazem o diabo para chamar a atenção: poetas tiram a roupa na rede; escritores forjam a própria morte ou inventam papinhos de miséria. E a Literatura vai ficando cada vez mais em segundo plano até virar um apêndice, uma nota de rodapé.

DA – Não faz muito tempo, ouvi de uma pessoa do mercado editorial que o escritor, hoje em dia, tem de ter muito mais que talento literário. O seu valor seria determinado pelo quanto de curtidas têm suas postagens no Facebook, o quanto de seguidores atraem suas redes sociais, pelo tanto de pessoas que enchem auditórios para ouvi-lo falar de qualquer coisa, mais a literatura. O escritor, afinal, teria mais importância pelo que é, do que pelo que escreve. O que pensa dessa colocação?

TADEU SARMENTO – É uma colocação realista, de alguém preocupado mais com venda de livros que com a qualidade do texto em si. Acho algo natural. As grandes editoras, afinal de contas, têm um corpo de funcionários considerável e precisam sobreviver e sobrevivem vendendo livros. Mas isso não deve ser preocupação do escritor. Já na própria fonte do texto o escritor submete a palavra, ao mesmo tempo, a um princípio de exclusão e desigualdade. O escritor procura seus iguais, excluindo todos os outros. A linguagem que escolhe e as imagens que utiliza restringem o acesso ao seu estilo de pensamento. Querer ser lido por todos é uma carência de neuróticos. Claro que todo escritor quer vender o máximo de livros possível, a questão é saber até que ponto está disposto a ir para conseguir isso. Só que acrescentar mais água para alimentar a todos é correr o risco de deixar a sopa mais rala. E isso não dá garantia nenhuma. Porque o público que curte e segue um escritor nas redes não é necessariamente um público leitor em potencial. Quase tudo nas redes é fugaz, superficial, volátil e fútil. Mas enxergo a questão sem romantismos. Acho até bom que uma editora mantenha esse tipo de bucha de canhão na linha de frente, para vender milhões de livros durante um surto de pieguices. É uma maneira de capitalizar a editora. Capitalizada, ela pode decidir apostar em outro autor que não venda tanto, mas que tenha um trabalho consistente. Bons autores dão prestígio a uma editora. Editoras não vivem só de dinheiro.

DA – Numa resposta lá atrás, referente ao seu novo livro, você declara que seu objetivo é “chegar ao leitor comum, enquanto eles existirem”. E agora coloca uma fórmula de que “sem educação, sem leitores”. Parece-me, desse modo, uma equação complexa cujo resultado, se não for igual a zero, é potencialmente negativo. O quadro é, de fato, irreversível ou ainda há solução?

TADEU SARMENTO – A única coisa irreversível é a morte. No fundo sou um otimista envergonhado. Também não posso confirmar se, com um nível educacional melhor, teremos mais leitores. Tudo o que eu disse foram conjecturas. É difícil pensar em uma massa de leitores num país como o nosso, que foi inserido na era da cultura das imagens sem cumprir antes seu ciclo de alfabetização. Não sei se a Literatura será capaz de competir com todo o resto (redes sociais, etc.) quando esse nível educacional supostamente subir. Quando digo que meu objetivo é chegar ao leitor comum é por acreditar que o escritor tem um papel individual nisso, que é o de construir histórias cada vez mais bem contadas, que prendam a atenção do leitor até o fim. Não quero me fechar em um mundo particular e escrever histórias ininteligíveis para a adoração de um seleto grupo de jacarés empalhados. Quero escrever um texto cada vez mais fluido e mais simples, com histórias cada vez melhor arquitetadas. Temos (nós, escritores) na ponta da língua várias desculpas para o reduzido número de leitores atuais: desde a não formação de hábitos de leitura até nossos problemas educacionais – e todos estão corretíssimos em apontá-los e querer debatê-los. Só que se não fizermos nosso mea culpa não sairemos do raio de reclamação. O escritor deve pretender se dirigir, tanto quanto possível, para uma plateia cada vez mais ampla, em vez de querer desancá-la com esnobismos. Somos parcialmente culpados por esse êxodo de leitores, afinal, nós os espantamos, depois de anos e anos de hermetismos pós-modernos. Conheço escritores que ficam de fato emburrados quando o leitor compreende seu texto, pois no fundo acreditam que a ininteligibilidade é o mais alto padrão qualitativo. Mas se um escritor não trabalha para ser lido com clareza é para quê então?

DA – Há pouco, falamos rapidamente sobre poesia e agora quero retornar ao assunto. Embora sua ficção se dedique mais à prosa, na forma de contos, novelas e romances, você também escreve poemas. Como se relaciona com a poesia? De que maneira e a que ponto o gênero lhe motiva, em seus encontros com a literatura, em seus processos criativos?

TADEU SARMENTO – Minha relação com a poesia é bissexta. Não sou um grande leitor de poesia também. É uma deficiência cognitiva que tenho e que a Adriane agora está tentando corrigir (me indicando bons poetas para ler, lendo bons poemas para mim). E sempre que escrevo um poema nunca estou seguro de sua qualidade. Não me sinto à vontade no gênero, para ser honesto. Sempre acho meus poemas muito formais, empostados e anacrônicos. E tinha muita birra com poetas antigamente. Agora levo na brincadeira a mania que eles têm de sempre achar uma brecha para recitar poemas em tudo que é canto, lugar ou hora imprópria. Parece até que poetas vêm com um “timing” interno que os avisa quando aquela é a hora mais imprópria para recitar. Então eles se levantam e recitam. Parecem pastores no púlpito. Claro que estou exagerando um pouco. Tenho grandes amigos com esse defeito absolutamente perdoável. A Adriane vai bater em mim quando ler isso. Mas no fundo admiro muito os poetas. Os grandes. Os loucos. Os Papasquiaros da vida. Bolaño diz, em “2666”, que poetas são os únicos que estão fora do jogo. Que não se vendem. E estão mesmo. E não se vendem mesmo. São artistas. Pelo menos os maiores são.

DA – O que é essa necessidade de escrever?

TADEU SARMENTO – É uma vocação. Só de encontrar minha vocação já me sinto um privilegiado. Isso soa até piegas e talvez seja mesmo, mas não há definição mais acertada. É também uma maneira de me relacionar com o mundo, de digerir a realidade pelo viés da imaginação. No fundo sou um moralista que quer dar sentido àquilo que não tem sentido. Escrever um romance é uma forma de reordenar os fatos. Talvez por isso que, com o tempo, eu tenha optado por escrever narrativas longas. Escrever é uma maneira de me manter coeso, funcional, e escrever narrativas longas me mantém assim por mais tempo. Mas, sobretudo, escrever é uma maneira de conquistar um lugar no mundo. Trabalhei em um Call Center por quatro anos e todos sabem que Call Centers são considerados um dos piores lugares para se trabalhar. Suportei toda sorte de cansaço e humilhações porque sabia quem eu era, porque tinha à mão algo pelo que abandonar todas as demais minoridades da vida e me concentrar em um único foco. Quem se livra de bagagens pesadas para seguir um declive deve sentir-se assim como me sinto quando escrevo.

DA – Se você pudesse escolher ser um sósia, de quem seria?

TADEU SARMENTO – De Philip K Dick. Algumas pessoas até me acham parecido com ele.

 

Sérgio Tavares nasceu em 1978. É autor de “Queda da própria altura”, finalista do 2º Prêmio Brasília de Literatura, e “Cavala”, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura. Alguns de seus contos foram traduzidos para o inglês, o italiano, o japonês e o espanhol. Participa da edição seis da Machado de Assis Magazine, lançada no Salão do Livro de Paris.

 

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2 Comentários

  1. Ficou maravilhosa, entrevistador e entrevistado.

  2. Uma das melhores entrevistas que já li, muito bom!

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  1. Trompa | Território do lápis - […] E mais não digo. […]

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