Janela Poética III

 

Desenho: Felipe Stefani

 

INSONDÁVEL

Ronaldo Cagiano

 

O apito do trem
o atrito do trem
o arbítrio do trem

xxxxxSerpente histérica
xxxxxrasgando os montes,
xxxxxa existência vai c(r)avando
xxxxxxxem nós uma estrada de mistérios

xxxxxNo duelo com a vida
xxxxxa literatura concedeu-me as armas.

xxxxxTriste como um passado
xxxxxvivo como uma ferida:

assim é o tempo (moenda de Chronos)
xxxxxcom sua carpintaria de ferrugens
xxxxxa sagração dos labirintos

 

 

***

 

 

ÁLBUM RECLUSO

        para Sérgio Fantini

 

Um presente póstumo
invade as páginas
desse baú de espantos.

Na parede ou no álbum
as fotografias
desconstroem as palavras.

Há filosofia bastante
no cortejo dessas traças
que sitiam o passado.

Porém,
a refratária infância
perdura
xxxxxxxintangível
no absolutismo de
xxxxxxxtantos silêncios.

 

 

(Ronaldo Cagiano é mineiro de Cataguases, viveu em Brasília, onde formou-se em Direito, e reside em São Paulo. Publicou, dentre outros:  Palavra Engajada (Poesia, 1989),  Dezembro indigesto (contos, 2001 – prêmio Bolsa Brasília de Produção Literária 2001), Dicionário de pequenas solidões (contos, Língua Geral, Rio, 2006)  e O sol nas feridas (poesia, Dobra Editorial, SP, 2011). Organizou as coletâneas Poetas Mineiros em Brasília (Varanda Edições, DF,  2002), Antologia do conto brasiliense (2003, Projecto Editorial, DF) e Todas as gerações – conto brasiliense contemporâneo  (LGE, Brasília, 2006))

 

Clique para imprimir.

3 Comentários

  1. beleza de poemas, um prazer conhecer. o tempo que rege não é o tempo que resta, percebemos isso nas duas leituras. a infância sitindo o passando até a ferida, se é que sobra alguma coisa depois que se submete a vida à moenda de Chronos. sagração dos labirintos, por onde o tempo talvez se encontra o poema. linguagem du-elo.

  2. *encontre o poema

  3. Uma poesia meditativa…muito bom!

Comente

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *