Rafaela Ferrari
Se do meu púbis nascessem asas, talvez esse peso no colo também aprendesse a voar,
talvez a necessidade de preenchimento com algo que molda meus pensamentos místicos necessitasse de somente mais um livro mítico para recuperar
esse vazio
essa completude de bebidas alcoólicas e fumaça enquanto fecho os olhos, e minha existência se resume a apenas um mexer da alma na caixa craniana, como se nem a gota mais pesada de chuva pudesse matar a sede
do púbis
sem luz
mas com esperança
***
o peso no peito na penumbra do quarto
o vestígio do vento nas veias
na minha orelha
no lago
O do ré mi fa das partículas subatômicas
nem a mais doce rosa de Hiroshima saberá cantar o adeus à pátria
***
Entre vidas e vindas
Descubro que a partida é a mais rápida das mortes
aos quarenta não sou
aos quarenta serei
mais pó do que hoje me descubro ser
***
gravidade igual empuxo
me encontro flutuando em mim mesma
pernas e braços algemados unicamente ao meu próprio ser
apnéia em minha própria consciência, que me afoga
que me sustenta
que me prende
que me algema
que me proíbe de conhecer o infinito pó das estrelas numa tentativa de conhecer o finito pó do eu.
Às pressas nado
em mim
***
Ausên…cia
Ainda bebia dos cachos ausentes , a curvatura do sorriso, o vai e vem do toque , o vai e vem da alma. Bebia do Abraço ausente , o calor dos átomos , o frio do vento , a beleza de um mundo sem sapatos.
Bebia do beiço ausente , a pureza do laço cardíaco , a sujeira do caminho , da passagem entre o corredor
e a estrada
perdida
encontrada
Bebia dos lenços a própria lágrima.
De todas as ausências , o cheiro era o que mais falava
***
Olhou pro céu
e reparou que o eterno é uma vulgar onda eletromagnética chamada de luz.
Com forma
amada
Conformada
Sem Theo.
Rafaela Ferrari cursa Relações Internacionais na Universidade de Brasília. Natural de São Paulo e parida na Avenida Paulista, começou a se interessar pela arte durante o Ensino Médio, em um curso para jovens escritores (CLIPE) da Casa das Rosas.