Ciceroneando

 

Desenho: Felipe Stefani

 

A resistência através da Arte é uma demanda de nosso tempo. E tal frase pode até não trazer nada de novo no transcurso da história contemporânea, mas o fato é que a necessidade de se ressaltar a sobrevivência de nossas vozes e identidades diante de um mundo que ressuscita ideais fascistas é imperiosa. Indo mais a fundo, devemos assinalar que é a preservação das múltiplas subjetividades que transitam em nosso meio quem está em jogo. Sem dúvida alguma, o conjunto de subjetividades que mais precisa de nossa atenção é aquele pertencente aos grupos tradicionalmente postos à margem do processo social, econômico, político e cultural. Então, como calar as vozes que vêm das periferias urbanas? Como alijar os artistas integrantes de minorias reconhecidamente vulneráveis da partilha das oportunidades? Como não reconhecer, em mecanismos de pensamento e ação, as distintas faces que contribuem para fundar nossa nação? São perguntas que nos fazem companhia de modo constante. É impossível ignorar as mais distintas forças que compõem nosso quadro social. Nesse trajeto reflexivo, fica cada vez mais difícil crer numa existência artística cuja produção esteja dissociada daquilo que se vive e experimenta enquanto sujeito. Uma obra construída, por exemplo, em bases identitárias tem demonstrado estar intimamente relacionada à vivência íntima do seu criador. São sujeitos a reverberar suas origens, saberes e sabores, crenças e idiossincrasias como elementos impulsionadores de suas obras. Num mundo onde parecemos habitar em bolhas, o engajamento artístico que se mostra atento às questões coletivas ainda é capaz de nos tocar. Tal constatação se faz presente quando percebemos a expressão de um autor como Alberto Bresciani, que, numa entrevista, demonstra todo seu envolvimento com temas que, para além de sua produção literária, implicam na percepção da alteridade. Em nossa edição atual, vemos Guilherme Preger, ao nos ofertar sua leitura para o filme “Dor e Glória”, transitar pela marca autobiográfica do diretor espanhol Pedro Almodóvar. São de Raquel Almeida, Isabela Sancho, Wilton Cardoso, Pedro Moreira e Sofia Ferrés os poemas que atravessam nosso mais novo caminho editorial. Vivian Pizzinga, num texto eivado de reflexões, vem nos dar seu testemunho sobre os impactos causados pelo espetáculo teatral “Dinamarca”, do grupo pernambucano Magiluth. Por sua vez, Pérola Mathias traz à tona suas escutas para “Vox Populi”, o mais recente disco da Nomade Orquestra. Marcas profundas de nossas humanas idades aparecem registradas nos contos de Viviane de Santana, Héber Sales e Marithê Azevedo. É Lima Trindade quem discorre sobre “Por assim dizer”, o mais novo livro de contos de Yara Camillo. Em meio a todos os recantos da nossa 131ª Leva, somos agraciados com a exposição dos desenhos de Felipe Stefani. Assim, queridos leitores, construímos mais uma ponte para ressignificarmos a vida através das vias da Arte. Sejam bem-vindos aos novos mergulhos!

 

Os Leveiros

 

 

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