Ciceroneando

 

Desenho: Geometria da Palavra

 

2021 ensaia suas primeiras investidas. Diante de tudo o que vivemos no ano passado, alguma sombra de desconfiança ainda repousará sobre nossas vidas por certo tempo. É o efeito de uma pandemia jamais experimentada por muitas gerações de pessoas, algo que, além de nos obrigar a encarar perdas humanas vertiginosas e irreparáveis, nos lançou o desafio do isolamento social agudo. Normalidade é uma palavra que há muito não frequenta nossos espaços de convivência e, arriscamos dizer, é incabível se falar em qualquer outro tipo de normalidade e suas falaciosas derivações. Não há lugar para a naturalização de tamanha tragédia humana, ainda  mais quando muitos desprezam os fatos a ponto de negarem tudo o que nos acomete há quase um ano. Pelo mundo afora, muitas vidas se foram, afetando tantas famílias. No Brasil, atingimos por agora a impressionante e avassaladora marca de 200 mil mortes. E muita coisa precisa ainda ser repensada para que tudo não passe de mera estatística a contabilizar os efeitos de um tempo de insensibilidades. Devemos seguir em frente, bem sabemos, mas isso não nos tira a responsabilidade de tentarmos soluções para os males decorrentes do atual estado de coisas com o qual nos deparamos. Há de se recorrer também à preservação da memória de todos os que ficaram pelo caminho. Dedicamos, pois, a nossa primeira edição do ano às pessoas que não mais estão conosco em face do que nos vem ocorrendo em escala global. Nos caminhos literários e artísticos, também encontramos razões para celebrar a vida, acreditando que um dia muitas coisas possam se renovar de algum modo. Nossas janelas poéticas trazem os versos contundentes de Mônica Ribeiro, Marcus Groza, Bruna Mitrano, Mírian Freitas e Cristiano Silva Rato. No território musical, Larissa Mendes nos conduz pelos recantos de “Cinco”, mais novo disco do cantor e compositor Silva. Pela resenha de Gustavo Rios, somos apresentados ao mais recente livro de Pawlo Cidade, o romance “Rio das Almas”. E o olhar cinéfilo de Guilherme Preger está voltado agora para a nova versão de “Berlin Alexanderplatz”, filme do diretor Burhan Qurbani. Nossos dedos de prosa recebem os contos de Cinthia Kriemler e Thaís Fernandes, além da crônica de Kátia Borges. Numa entrevista bastante especial concedida a Fabrício Brandão, a poeta Dheyne de Souza partilha conosco um pouco de suas vivências literárias e seu sensível olhar sobre algumas inquietudes de nossa contemporaneidade. Vinicius de Oliveira nos traz importantes reflexões a partir do livro “O amor como revolução”, do pastor Henrique Vieira. Abrilhantam todos os espaços desta Leva 141 os desenhos de Vinha Oliveira, artista que funda suas criações no que considera ser a geometria da palavra. Bons mergulhos!

Os Leveiros

 

 

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