Janela Poética V

Cícero Galeno Lopes

Arte: Fao Carreira

 

 

As rosas, Dafne

 

As rosas são belas, Dafne, e como,
A quem por deleite só as cultive,
………Por prazer apenas!
A quem as cultive, que delas viva,
Não serão tão belas: quanto esforço
………Por menores penas!

Sol mesmo ou água de um regato
Não se dão igual a folha e raiz:
………Estão; não estão!
Mata uma por falta, outro por demasia;
O tempo se esvai no só cultivar,
………E a rosa é pão!

De onde tempo, Dafne, quando o tempo
Para admirá-las brotar, colorir,
………Se é mister fazê-las!
O homem, pois, que tem na rosa ofício,
Rosas não vê, senão o que delas tem:
………Regá-las n’é tê-las!

 

 

***

 

 

Apesar de tudo… aqui venho e virei

 

Aqui venho e virei, pobre querida.
Machado de Assis

 

Apesar de tudo ao meu amor levarei flores.
Escondidas entre espinhos levarei as pétalas.
Contra a morte das flores na mágoa do amor,
investirei com a força da esperança crédula.

Aqui venho e virei entristecido e grato,
procurando as vozes que se ouviam ontem.
Aqui voltarei envelhecido e consternado,
acrescentando dias, descontando noites.

De que oco do mundo a vida tira a morte?
De que surpresa a paixão arranca a dor?
Como em tantas dificuldades fomos fortes?

Desmaiam as luzes, mas, pontilhando as cores,
teu olhar renasce e brilha – esperança e sorte –
e ilumina a estrada por onde fores.

 

 

(Cícero Galeno Lopes é natural de Uruguaiana, RS. Vive em Porto Alegre. Tem doutorado em Letras pela UFRGS. É ficcionista, poeta e ensaísta, com livros próprios e coletivos editados nessas áreas. Participou de dicionários temáticos no Brasil, Portugal e Espanha. É autor do conceito de literatura de dissidência. Tem suas atividades registradas na Plataforma Lattes do CNPq)

 

 

 

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