Janela Poética IV

Helena Terra

 

 

Foto: Catharina Suleiman

 

 

Imperfeito do subjuntivo

 

Tomasse eu o seu eco,
nua ao som do seu corpo,
espalharia por sua saliva
a  ferida presa aos meus lábios.
Tomasse você
o que se esconde
sob os meus olhos fechados,
perceberia os cacos do amor inutilizado
e o quanto guardava esperanças
o indefinido retrato.

 

 

***

 

 

Parapeito

 

Na inevitabilidade
da memória
não há reparo.
O parapeito
do desejo é
como um cárcere
cimentado
em desmedida
solidão.

 

 

***

 

 

A condição indestrutível de ter sido

 

Arranca do interior
a pele do meu livro,
escrita inconstante de um silêncio
incerto como os movimentos de meu corpo,
como as cápsulas guardiãs
dos mitos e dos suspiros,
das linhas que não ultrapassam e
não respiram
a condição indestrutível de ter sido
por alguém
um amor perdido.

 

 

(Helena Terra Camargo é jornalista e escritora. Nasceu em Vacaria, mas mora em Porto Alegre. Participou da Oficina de Criação Literária ministrada por Luiz Antonio de Assis Brasil (com publicação na coletânea Contos de Oficina 23) e participa dos seminários de criação literária de Léa Masina. Participa do blog Falsidade Ideológica e administra o blog coletivo Mínimo Ajuste)

 

 

 

 

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9 Comentários

  1. Leila,

    Ficou muito bonito :)
    Obrigada pelo convite!
    Sou super fã da Catharina Suleiman.
    A imagem quebrada fechou inteira com as minhas palavras.
    beijoss

  2. Muito bom. Um amadurecimento claro na escrita. Só senti a falta de referência ao Bípede…que amo. Encerrou? Beijos

  3. Helena Terra é muito talentosa. Sua poesia é cheia de doce sensibilidade. Parabéns, Helena! Parabéns, Diversos Afins!

  4. Tania, o link do Bípede Falante está no nome da autora.Bj

  5. Sou fã incondicional da Helena. Ela tem uma escrita que jorra do interior para se sentir à flor da pele.

  6. Maravilha encontrá-la AQUI também. Os poemas mostram a sua maturidade poética. Não me canso de Lê-la, Lena. E os que não a leram, Ou não a leem (sempre), não sabem o que estão perdendo.
    Beijoss,
    José Carlos
    P.S.: A Leila que, por certo, você não a conhece é uma pessoa maravilhosa!

  7. Para mim é um duplo deleite: Lelena Terra Camargo com foto de Catharina Suleiman. O que mais um leitor pode querer?

    abraços.

  8. Obrigada, pessoal :)

    José Carlos, lamento muito não conhecer vocês pessoalmente. O mundo pequeno às vezes é grande e vice e versa. Mas quem sabe um dia???

    Eleo, você é um deleite ambulante!

    AC, e eu sua :)

    Carlos, obrigadíssima!!!

    Tania, o bípede está saindo de cena por uns tempos. Um dia, volta.

    beijos a todos :)

  9. “A condição indestrutível de ter sido”… Helena Terra, somente os poetas de verdade conseguem um verso desse (porque o título já é o verso principal do poema). Parabéns

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