Nydia Bonetti
há um jardim qualquer
em qualquer
canto
onde uma flor qualquer
brotou
de qualquer
cor
de qualquer forma, flor
e eu a oferto
a quem souber cuidar
***
que gosto tem o verso e que
textura?
só sei da cor – vermelha
do coração na boca
da alma – na palma da mão
***
silencioso e raso passa o rio
não posso ouvi-lo
pressinto
a canção das águas
que se despedem das nascentes
e seguem — ávidas
de lua e mar
***
hoje nada me move – sou pedra
perdidos
……..olhos
……………no vazio
que cresce em minha face feito
………………………………..musgo
***
quando chove – desejo de não
……..chover
e quando faz sol – brilha
desejo de chuva
……..a vida
parece mesmo ser
………..uma questão de tempo
***
o pássaro – com seus olhos de céu
me olha
buscando em mim – as asas
………………que já não tenho
***
assim, então dentro de mim
nasce um poema
enquanto
outro morre
moto perpétuo
roda d’água
que move a lâmina
que faz serrar a pedra / bruta
e faz brotar a flor
(Nydia Bonetti, engenheira civil, nasceu em Piracaia, interior de São Paulo, onde reside. Colaboradora na Revista Mallarmargens. Tem poemas publicados em revistas e sites literários e culturais: Revista Zunái, Portal Cronópios, Musa Rara, Eutomia, Germina Literatura, e outras. Publicada em 2012, pela Coleção Poesia Viva, do Centro Cultural São Paulo, na antologia Desvio para o vermelho (Treze poetas brasileiros contemporâneos), organizada pela poeta Marceli Andresa Becker. Oficialmente, o Sumi-ê será lançado em janeiro de 2014, mas já se encontra para pré-venda no catálogo da Editora Patuá)