Ana Elisa Ribeiro
Peças em pau-marfim
A linha dos olhos
faz flechas
da cor de futuros
As mãos formam conchas
de pegar contentamentos
Os pés são grandes
como as telas
holandesas realistas
O corpo inteiro
é um tabuleiro
de jogar jogos de azar
As costas quadriculadas
As coxas quadriculadas
A boca quadriculada
Onde eu me finjo
de dama
***
Raso
Não me movo
neste espaço
por acaso.
Entre um lado e outro
destes braços
tem um raso.
Ímã, fivela, argola,
nada disso
cola.
***
Desvão
desvão esconso
tonto
cérebro torto
corpo oco
seu rosto flagrado
no topo
no cume mais morto
do meu próprio
torso
em fogo
***
Crise
É sempre por dois trizes
Que desistimos dos passos
Dos dias, das tentativas
Sempre por um triz de perder
E outro de ganhar
e não saber manter
***
Foram pingando umas estrelas no céu preto
Pintando umas nuvens no céu breu
Uns desassossegos, entreveros
Você, o abismo e eu
Ana Elisa Ribeiro é mineira de Belo Horizonte e faz 39 anos em 2014. Publicou Poesinha (Poesia Orbital, 1997), Perversa (Ciência do Acidente, 2002), Fresta por onde olhar (InterDitado, 2008) e Anzol de pescar infernos (Patuá, 2013), todos livros de poesia. Tem poemas em diversas antologias, no Brasil, em Portugal e no México. Na crônica, publicou Chicletes, Lambidinha & outras crônicas e Meus segredos com Capitu, pela editora Jovens Escribas. É professora do CEFET-MG.