Adriane Garcia
Espinhos
Amar sozinha
No meu espelho
As rugas de um
Silencioso desespero
Andar parindo
Os meus vermelhos
Calar ouvidos
A cada voz do vento
Carpir lembranças
De uns pensamentos
Mãos na cabeça
Enlouquecer de dentro
Colher as rosas
Manchar as mãos
De apertar caules
Para gozar o amor.
***
Que até dói
Eis que seu rosto
É imagem de um sonho obsessivo
Eis que
Sua pele gruda-me em memória
De células
Eis
Que não durmo
A menos que tivesse alguma
Certeza de encontrá-lo
Oniricamente
Eis que
É loucura apegar-me
Assim
À loucura
De amá-lo assim
Eis que
Tem-me
À flor
Dos ossos.
***
Se
Se você tivesse sido amado
Na hora improvável
Se apenas naquele momento
Estéril
Da crença de que só se poderia
Ver com os olhos
Tivesse havido o meu sopro
Na curvilínea do seu pescoço
E se pequenos pelos tão
Imperceptíveis
Tivessem se eriçado à
Luz da minha boca
Você seria outro homem
Eu seria outra mulher.
***
Privacidade
Antigamente eu mexia
Na tua carteira
Na tua mochila
Nos teus bolsos
Na gola da tua camisa
No teu celular
Eu lia os teus perfis
Os teus murais
Hoje, jamais
Ninguém vai
Invadir-me desse jeito.
***
Clave de sol
Esperei você de silêncios
E durezas
Enganada, eu nem ouvia
Que o amor vinha
Devagar
Com música.
***
Antes do ponto final
Ame-me logo
Ame-me agora
Ame-me antes
Que
Adriane Garcia, nascida em Belo Horizonte/MG, em 1973. Historiadora, funcionária pública, arte-educadora, atriz. Escreve poesia, infanto-juvenis, contos e dramaturgia. Venceu o Prêmio Nacional de Literatura do Paraná, Helena Kolody, com o livro de poesia Fábulas para adulto perder o sono.
Muito boa sua poesia, Adriana. Espero continuar a ler seus versos sempre.
Maria
Boa noite, Adriane. Li seus textos. Particularmente, gostei desse:
Antes do ponto final
Ame-me logo
Ame-me agora
Ame-me antes
Que
Aproveito a oportunidade para lhe fazer uma pergunta: na sua opinião, o que define a poesia pós-moderna? pós-concreta? ou, de outra forma, quais as “características originais” da poesia contemporânea?
Parabéns pelo trabalho!
Adorei a PRIVACIDADE na forma de admitir que detestaria ser invadida daquela forma.
Parabéns!
Neuzamaria erner