Victor Prado
(sem título)
para Juliana
É estranho dormir
sem os cachorros latindo.
É estranho esse exercício mental
de relembrá-los.
Me acostumei a dormir sozinho no escuro
mas o silêncio é excruciante.
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…..Teu silêncio sem matéria
………..é excruciante
………..(Teu silêncio sem corpo)
#
…..Sem corpo teu silêncio possui órbita
…………………………..em torno de mim.
***
O mundo regira infinito
enquanto eu canto refrigérios pra acalmar
minha alma
eu desmonto desse potro-tempo
dessa comiseração que são as lembranças
são esmolas
e me deixo acomodar no aconchego
me deixo definhar esperando
a gente cansa de esperar, (mas tá demorando pra isso acontecer comigo)
Então saio,
pra me esconder
***
Movimento Dialético
Faço-te bruscas lembranças,
aquelas de nascentes,
antes de desembocar
no teu sentido.
E tinham estradas de terra
que cortavam o fundo da casa.
Nessa hora nem te sei,
Mas é fato que as formigas ensinavam minúcias
e mapeávamos juntos as árvores.
Demorei-me com coisas digitais,
Quando voltei-me ao manual
já haviam asfaltado as imaginações.
Procurei-te
Sem mapas
Pra facilitar
O caminhar.
Tu estavas repleta,
Despi-me de tudo que carregava
e te envolvi,
Então, o mundo se reconstrói
protuberâncias divisadas.
Tu és sequoia
e de ti surgem cataclismos em vermelho.
***
Epifania 3
…tudo que carregava era pouco. desse pouco, tudo era poroso. e essas frases em branco continuam a aparecer. próprias, conscientes de si e de sua abrangência descontextualizada.
…me vejo andar. ando e me vejo andar. a consciência é mais forte que o fazer.
…não é momento, nem passagem. não é um mito. nem um ritual. não é porra alguma.
…as fendas se abrem.
…eu caio, despenco: aceito.
…te submeto. te encaminho. te mando pelos correios. por sedex. com aviso de recebimento e tudo mais. me despeço, despedaço. extravio.
…desmantelo, e nem mesmo sei onde se encaixam as lacunas, os nós, os conchaves. nem mesmo sei o que é desmantelar.
…entendo bem de inutilidades, desmoronamentos, laços, maquinações, permanências e substantivações.
…o centro de tudo é consequência, por isso generalizações se formam na minha continuidade e as pausas necessárias remontam céus azuis de dias regulares. tudo isso para que o fio da meada não me perca como perco a mim em botões de repetitivas funções padronizadas e opções limitadas.
…a gente é cópia. transmutação; sei a prática. nossa teoria é sombra embaixo dos pés.
Victor Prado tem 19 anos, é do interior de São Paulo. Reside em Franca (SP) e cursa Relações Internacionais na UNESP. Tem poemas publicados pelo Canal SubVersa, Revista Grito, Portal Guata e Jornal RelevO, além de uma menção honrosa no XV Concurso Nacional de Poesias – Edição Álvares de Azevedo realizado pelo CBE. Em outubro de 2014, lançou para leitura e download gratuitos o e-book de poesia Mamute (edição independente).
Ei, muito bom
“Sem corpo teu silêncio possui órbita
em torno de mim”
Quando se tira a densidade da matéria, o que fica é a essência rondando por dentro, livre e de forma permanente. Gostei muito.
Abraços
Neuzamaria Kerner