Ciceroneando

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Foto: Milton Boeira

 

Observar o tempo e seus matizes. Passivos ou não, somos parte dele. Na sucessão dos instantes, imagens se coagulam, fatos são esquecidos; outros, lembrados. Na contramão de uma série de sentimentos, flui sorrateiro o gozo dos mistérios. Dentro da explosão de palavras e imagens, a tentativa de se construir pontes com a vida e com o âmago de nós mesmos. A criação é um agora e porvir marcados pela hercúlea tarefa de exprimir algo. Como diria a poeta Hilda Hilst, “O texto é sangue/E hidromel./É sedoso e tem garra/E lambe teu esforço”. Ao autor, artesão da palavra que é, cabe não somente a pena e alguma glória efêmera, mas o sangue derramado nas entrelinhas do esforço. E palavras são curiosos seres acostumados, desses que tramam ardis, falseiam sensações de conquista e põem seus articuladores à beira do abismo. É preciso não se regozijar dos feitos antes da hora certa das coisas, antes da existência plena de um texto, sua janela para algum mundo. O engenho do verbo tem como aliado o ato constante de burilar, o qual é, em melhor instância, permanente estado de desconfiança. Então, vem a pergunta: quando se pode dizer que um texto está definitivamente concluído? Quem primeiro fica pronto, texto ou autor? Eis uma zona de compreensão deveras imprecisa. Fiquemos, pois, com a capacidade de trazer as leituras para dentro de nós mesmos, vê-las crescendo num jardim de percepções regado a infinitos particulares. Na Leva 114, edição que representa nosso atual estado de sensações, observamos a escrita ganhar contornos difusos nos versos de pessoas como Cândido Rolim, Yasmin Nigri, Sândrio Cândido, Liv Lagerblad e Otávio Campos. As construções de mundo e vivências pela palavra são o tema marcante da entrevista do escritor Sidney Rocha concedida a Lima Trindade. Por entre nossos cadernos, está o vigor poético e visual das fotografias de Milton Boeira. Vinte e sete anos depois, Sérgio Tavares celebra “As quatro estações”, álbum antológico da banda Legião Urbana. Mirando “Bastardo”, o novo livro do poeta Victor Prado, Lisa Alves desfila todas as suas impressões. Outros recortes de vida estão presentes nos contos de Márcia Barbieri, Marcus Vinícius Rodrigues e Samantha Abreu. O metafórico filme “The Lobster” agora é tema da resenha de Larissa Mendes. O romance “Vaga queda”, de Caio Russo, vem devidamente apresentado pelas breves incursões de Márcia Barbieri. E assim segue mais uma etapa da celebração dos 10 anos da revista. Que sejam ótimos os percursos!

Os Leveiros

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1 comentário

  1. É sempre bom vir aqui e deixar a alma dialogar com palavras, sons, imagens… Parabéns a todos por mais esta leva!

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