Existem realmente fronteiras para a arte? Usando de mais exatidão, as expressões artísticas, com toda a sua carga de diversidade e linguagens múltiplas, podem se curvar ante a ditames que as impedem de mostrar-se ao mundo? Ao que parece, o controle do homem sobre o homem nunca deixou de ser exercido. Seja para aplacar as possibilidades libertárias encerradas pelas epifanias da mente ou do corpo, seja para desfilar todo um império de moralismos montados numa égide de hipocrisias, são abertas cada vez mais novas alas de intolerância e desrespeito. Numa instância mais aprofundada, negar a alguém o gozo de sua humanidade plena é também um ato de barbárie. Nesse ínterim, a censura à arte parece ser uma das formas mais cruéis de tentar aniquilar a voz de alguém. E podemos deslocar tal intento limitador aos mais variados campos de expressão, da literatura, passando pela música, até as artes visuais. Então, qual seriam os elementos argumentativos que classificariam uma determinada obra como sendo um atentado à pauta conservadora da sociedade? Melhor pensarmos num jogo de oposições, através do qual interesses obscuros e moralistas alimentam um nocivo status quo de garras imperiosas. A tais tipos não interessa que uma voz, por exemplo, periférica ouse falar ao mundo sobre a inteireza de sua verdade pessoal marcada pela caracterização de sua identidade. A arte jamais deixará de ser atravessada pelas marcas pessoais de quem a engendra, ainda mais quando se trata da construção identitária que se mostra ao mundo por intermédio das criações. Assim, discurso e linguagem se amalgamam dentro de uma ideia que aponta para a mais viva representação de uma individualidade. A ninguém é dado o direito de exterminá-la. Definitivamente, não há espaço para destruições identitárias num ambiente como a Diversos Afins. Que novas vozes venham a transitar suas faces por aqui. O caminho está aberto. A Leva 121 traz, a propósito, uma importante entrevista com a poeta e performer Daniela Galdino, artista que conduz com maestria a segunda edição do coletivo de poetas e fotógrafas “Profundanças”. Sobre este e outros temas afeitos à Performance e à Literatura, o diálogo germinou algumas preciosas reflexões. Por aqui, agora trilham as alamedas poéticas os versos de Eunice Boreal, Celso Yokomiso, Tassyla Queiroga, Lilian Sais e Helena de Andrade. A partir do espetáculo “Para que o céu não caia”, Marcus Groza descreve sua experiência com vigorosas manifestações da dança. São de Guilherme Preger as impressões sobre o filme cubano “Últimos dias em Havana”. As narrativas de Rita Santana, Anchieta Mendes e Vinícius Canhoto compõem nossos dedos de prosa de então. Thiago Mourão nos apresenta uma significativa prévia do novo disco da cantora Illy Gouvêa. São de Saulo Dourado os atentos mergulhos no livro de crônicas “#Parem de nos matar!”, de Cidinha da Silva. Para coroar todas as alamedas desta nova edição, expomos as pinturas da artista portuguesa Cláudia R. Sampaio. Com os caminhos cada vez mais abertos, eis uma nova Leva. Boas-vindas!
Os Leveiros
Bela introdução ao passeio que faremos! Lerei aos poucos, mas de cara quero dizer que gostei muito da arte de Cláudia Sampaio! Imagens ricas, de uma profundidade e dinamismo ímpares! Participar com a publicação do conto A Febre me deu uma alegria infinita! Mais vida para Fabrício e Leila. E que a nossa Arte persevere na construção de uma sociedade melhor. Abraços! Belo trabalho.