Ciceroneando

Foto: Tati Motta

 

Afinal, de que é feita uma nação? De um mero aglomerado de pessoas marcadas pelos laços comuns e historicamente institucionalizados pela ocupação de um mesmo território geopolítico? Ou seria pela reunião de interesses difusos pautados por uma exposição das diferenças? Num país de proporções continentais como o Brasil, talvez seja árdua tarefa vislumbrar tudo como se fosse o resultado direto de uma uniformização de pensamento. E de fato esta última, para nosso bem, não deve existir. Pensando a partir do viés cultural, por exemplo, somos levados a concordar que a pluralidade de expressões é quem dá as cartas. Basta notarmos a multiplicidade de manifestações que, alocadas em seus espaços regionais, exprimem a força individual e personalizada dos mais distintos grupos sociais. Há razões históricas para isso, bem sabemos, mas a valorização das tradições de cada povo pode também dialogar com as mudanças trazidas por eventos como a globalização. Há, evidentemente, críticas a processos como este, mas, por outro lado, é saudável pensar no modo como determinadas culturas podem expandir suas epifanias além das fronteiras demarcadas usualmente. O saldo é deveras positivo quando tomamos contato com a arte de pessoas e coletivos dos mais profundos rincões do país. E há uma sensação semelhante de permanente descoberta quando, através de um projeto como a Diversos Afins, podemos conhecer os mais variados atores que, com a verdade de sua arte, ofertam sempre algo de relevante para nossos olhares. A marca principal disso é justamente o reconhecimento da diferença, da capacidade que cada autor ou artista tem de revelar o potencial de suas singularidades. Partindo dessa premissa, o presente nos leva ao encontro de poetas como Flavio Caamaña, Isabela Rossi, Luiz Frazon, Flávia Péret e Verónica Aranda. É ponto de destaque dos nossos caminhos a entrevista feita por Elis Matos com a escritora JeisiEkê de Lundu, artista multifacetada que nos expõe a força e a beleza de seu pensamento. Vivian Pizzinga promove mergulhos pessoais na provocativa peça “Insetos”. No caderno de música, temos a estreia de Pérola Mathias num texto sobre o primeiro disco do grupo de hip hop pernambucano Arrete, inteiramente formado por mulheres. São de Daguito Rodrigues, Carla Kinzo e Fernando Rocha os contos que por aqui povoam os espaços em prosa. O “Exercício da Distração”, mais recente livro de poemas de Kátia Borges, é tema das leituras de Saulo Dourado.  Em seus percursos pela sétima arte, Guilherme Preger nos brinda com olhares para o documentário francês “Visages, Villages”, que traz a parceria entre a cineasta Agnes Varda e o fotógrafo JR. Cada recanto desta nova edição é contemplado com uma exposição fotográfica da mineira Tati Motta, artista que enxerga no mundo detalhes que nos escapam teimosamente. Eis a nossa 124ª Leva. Boas leituras!

Os Leveiros

 

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