Ciceroneando

 

Foto: Magali Abreu

 

Será que o tempo que não cessa de transcorrer nos torna meros colecionadores de passados? É uma questão instigante se pensarmos que tudo o que realizamos até hoje agrega memórias, afetos e construções de caminhos, todos eles envoltos em recortes marcados por escolhas e predileções. E talvez a cronologia dos passos dados seja apenas um indicador de que a vida, sobretudo em seus entreatos, não seja passível de uma mensuração linear das coisas, ordenada dentro de uma lógica que destoa das sensações concretamente experimentadas. Apreender o tempo, pois, parece mais plausível se considerarmos que dentro dele o efeito que mais importa é o de tudo aquilo que implica em transformação. Impactados pelas provocações saboreadas ao longo da jornada, já não somos mais os mesmos a cada estação que se apresenta. Tudo pode ser motor de pequenas e incessantes revoluções particulares. Na caminhada com a Diversos Afins, há muito desse dinamismo que vem a reboque de um universo múltiplo de expressões, cada uma delas propondo ventos de mudanças, acusando que nada se assenta em bases estáveis quando quem conduz as vias são os ímpetos demasiadamente humanos. Agora, a revista contempla seus 17 anos de estrada pelas vias editoriais, jamais esquecendo de olhar o passado como uma fonte inesgotável de estímulos e perspectivas de reinvenção dos caminhos posteriores. É necessário manter a chama acesa para que o projeto siga seu curso e se deixe mobilizar pelo fator mais importante: o resultado dos encontros. Sim, fazer a revista é estar com o Outro, estabelecer conexões com ele, aprender, assimilar e acolher sua contribuição autoral. É essa soma que torna a continuidade dos caminhos algo possível. Nada disso seria viável se não fosse o interesse dos colaboradores em trilhar conosco as veredas delineadas pela Arte. Em cada recanto delas, saberes e sabores engendram palavras e imagens a serviço dos olhares sensíveis sobre a vida e os fenômenos que nos afetam. Nesse universo oceânico de compartilhamento de sensações, o momento pede que celebremos o feito atual com as marcas contidas nos versos de gente como Aline Aimée, Vivian Pizzinga, Wesley Peres, Samara Belchior e Tallýz Mann. Por todos os lados desta nova edição, desfilam as fotografias de Magali Abreu, cujas imagens primam pela força que emana do indecifrável. Entrevistado por Jussara Azevedo, o escritor Gustavo Rios percorre as vias do seu novo livro, além de abordar outras reflexões sobre os afins literários. Nossa sempre atenta resenhista Larissa Mendes se deixa embalar pelas escutas de “Jesus Ñ Voltará”, disco de Mateus Fazeno Rock. Em seu texto, Sandro Ornellas nos convida à leitura de “Quando deixamos de entender o mundo”, livro de crônicas do chileno Benjamín Labatut. Com seu olhar sensível e apurado, nosso cinéfilo Guilherme Preger analisa “Mato seco em chamas”, filme brasileiro que volta suas atenções para recortes que vêm da periferia. Nos cadernos que privilegiam a prosa, há porções instigantes de mundo nos contos de Kátia Borges, Rodolfo Guimarães Neves e Adriano Espíndola Santos. Em seus mergulhos literários, Gustavo Rios nos mostra por que é uma experiência valiosa ler “Antipática Lira”, livro do poeta Santiago Fontoura. É com tantas e tamanhas colaborações especiais que festejamos a etapa alcançada, agradecendo a todos os autores, artistas e leitores de ontem e de hoje. Eis a nossa 152ª Leva!

Os Leveiros     

 

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