Lisa Alves
Corações de Silício
“Se metade do meu coração
está aqui, Doutor, a outra
metade está na China com
o exército que flui em
direção ao Rio Amarelo.”
Angina Pectoris – Nazim
Hikmet
Corações de Silício – pulsam nessa percepção para além de Bits e Quarks baterias de Volts impessoais. Tragamos com a retina fontes que pulsam em HD`s e nuvens abrangidas de paradigmas de programação. Crias frankstenianas escoradas por mesas inertes e contraditoriamente giratórias. A comunicação visual é acelerada por meio de janelas cravadas em caixas quadradas ou slim. Redes sociais velam a vigília de uma Legião – superação das elites humanas à parábola do Nazareno (expansão universal dentro do buraco da agulha).
Corações …de… Silício – conservar a
humanidade. é questão relativa e anexa às
HQs e heróis 3D ou de poliuretano. Anos
de ..petições e .exercícios de altruísmo de
calendário .… Afinidades com Karmas e
Dharmas e expansão mental editada pela
engenharia …genética. Arte adaptada aos
pixels, .. ferramentas … comprimidas
no winrar. .– ..foice e martelo in Botons e
Cartões de Crédito.……………………………….
Corações de Silício – coletivo iluminado por telas de signos édenizados – biblioteca de Alexandria abrigada no cisco de uma nano-unha e frequentada diariamente por cyberbactérias. A promoção do eu-anódino em seus quinze minutos de infâmia. Estímulos assexuados e eunucos – precipita a ação e condena o corpo à condição uniforme.
Corações de Silício – nata do Oriente
navegando em mares ocidentais.
Feminino e Masculino habitando o
andrógino e as universais idades.
Sais antidepressivos, antimaníacos,
antikarmicos. Ornitóptero de pedra
colado, limitado pelo seu pulso
potencial e temível. Crianças-fuhrer
cortejando bestas apocalípticas. Deus
Capital venerado em seus templos-
shoppings (na santa missa de
domingo).
Corações de Silício – carcaça altíssima na piramide vida-matéria – conduz fluxos aos retos orifícios e vias chupadas pela yankeeannélide. Arranca a estrutura Animaanimal e libera a energia nas cavidades interiores. Pneuma despertada ao campo fonte – voltagem exata e evoluente em software original.
Corações de Silício – autogestão
bakuniana e desmistificação do criador e
do patriota. Bomba e bombeador
detectados no silêncio que medita a
clarividência e os intentos de uma
humanidade criativa e com License
Commons – capaz de compartilhar o seu
melhor sem apontar seus cielos ou cercas.
Cor e ações em uma orbe policristalina tingida de silíca e mitos.
***
A Queda
Embrutecida pela solidão não consegue retribuir as rosas deixadas no seu caminho. Alguém surge de mansinho e perfura o seu coração com notícias trêmulas e catastróficas. Caída afasta a única corda de esperança – não anseia elevação e muito menos últimas chances. Abraçada ao chão sorri expondo os dentes maltratados de tanto roer ossos. Imagina um 3×4 tirado ali e se envaidece “experiência de fundo do poço deveria constar em qualquer curriculum vitae”.
***
Angelus Blasé
Frito reminiscências temperadas com sais de tortura. Cavei as mãos para despejar sucos de minha filantropia. Deguste e sorva nossa carne sem essa face acinzentada por transes, escute os ditados, escreva-os e depois os guarde em um arquivo antes que a espada de significações recorte sua imaginação e a ofereça aos pássaros carniceiros da Manufatura. Representamos uma espécie sem roupagem: demônios doces e poliglotas, leitores de clássicos e amantes de uma audaciosa revolução. Caçamos qualquer um que se maquia de vítima ou simplesmente se apropria da sombra alheia – caçamos para formar alianças e não para ao ato de eliminação (que fique claro antes mesmo de mantermos um grau de compreensão mútua entre o leitor e o que se lê). Existem tantas metáforas que nos colorem como o lado sombrio da humanidade que já não podemos nos abrigar na nossa naturalidade blasé – agora somos luminosos homens de branco, esboçadores de alegres fisionomias e praticantes do altruísmo de calendário (com hora e data marcada).
Observação: É só assinar na última linha e depois chuviscar um pouco do seu vermelho.
(Lisa Alves nasceu na cidade de Araxá/MG e vive há mais de dez anos em Brasília/DF. Trabalha com arte digital e projetos ambientais. Possui poemas publicados em três antologias poéticas: Trilhas (CBJE, Rio de Janeiro, 2007), Poema Capital (Eloisa Cartonera, Buenos Aires, 2011) e Cumplicidade das Letras (Perse, 2012). Divulga sua arte em vários sítios culturais e atualmente é colunista na Revista Ellenismos)